Tesouro Direto: juros de títulos de inflação têm novo recorde, a 6,57%; falas polêmicas de Lula pesam
fevereiro 3, 2023O último dia de uma semana repleta de acontecimentos importantes na economia e na política começa com a atenção do mercado nas falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O presidente sinalizou que pode debater a autonomia do Banco Central (BC) após o término do mandato do presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, que fica no cargo até o fim de 2024.
Em renovadas críticas à Selic e à meta de inflação, o petista disse que tinha uma boa relação com Henrique Meirelles, presidente do BC nos seus dois mandatos anteriores, e argumentou que deu a ele “autonomia para fazer a política monetária” naquele período.
“O que acontece é que a gente conversava. Esse país está dando certo? Esse país está crescendo? O povo está melhorando de vida? Não. Então, eu quero saber de que serviu a independência. Eu vou esperar esse cidadão Campos Neto terminar o mandato dele para a gente fazer uma avaliação do que significou o Banco Central independente”, disse Lula em entrevista à Rede TV e ao portal UOL.
Lula criticou também o nível atual da Selic, de 13,75% ao ano, mantido na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira (1). De acordo com o presidente, não existe razão para os juros estarem nesse patamar.
Os juros dos títulos públicos negociados no Tesouro Direto apresentam forte alta na primeira atualização de desta sexta-feira (3). “O movimento de alta pode ser explicado pelas falas do presidente Lula com relação ao Banco Central. É possível observar uma negociação com taxas em patamares recordes, principalmente entre os papéis com rentabilidade atrelada ao IPCA”, diz Rodrigo Caetano, analista da Toro Investimentos.
Entre os títulos atrelados à inflação, o destaque é o IPCA+ 2045, com juros de 6,57% ao ano, bem acima dos 6,49% vistos na véspera. Trata-se do maior percentual já registrado pelo título desde que passou a ser negociado, em fevereiro de 2017. Antes de ontem, sua taxa mais alta havia sido de 6,47% ao ano.
Os prefixados seguem o movimento. Há aumento de até 14 pontos-base (0,14 ponto percentual) nos juros, no caso do Tesouro Prefixado 2029 (13,34% ao ano) e do Tesouro Prefixado 2033 (13,29% ao ano). Nesta quinta-feira, os retornos eram, respectivamente, de 13,20% e de 13,15%.
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Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na manhã desta sexta-feira (03):
Novo PAC e reforma tributária
Além disso, Lula está preparando um plano de investimentos públicos para tentar incentivar a atividade econômica, segundo reportagem da Folha de S.Paulo. O novo PAC deverá ser lançado até os cem primeiros dias de governo.
O programa incluirá a retomada de obras paradas ou que estão em ritmo lento. Mas o governo também já quer divulgar projetos a serem contratados, como novos empreendimentos do Minha Casa, Minha Vida, além de construção de cisternas e aceleração dos serviços de manutenção de rodovias.
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Outro ponto de atenção desta sexta-feira (3) é a reforma tributária, um dos projetos prioritários do governo no Congresso este ano. Após reunião com o presidente Lula nesta quinta-feira (2), o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), disse que, é possível aprovar um texto de reforma até o final deste ano.
“[A negociação] está sob comando do ministro [da Fazenda, Fernando] Haddad, os vice-líderes vão ajudar, temos aqui especialistas na área. Vamos começar a dialogar a partir de segunda-feira [6] sobre o conteúdo dela e o que podemos fazer antecipadamente para termos uma reforma tributária robusta que dê conta dos problemas”, disse.
Bolsa Família
A revisão dos benefícios do Bolsa Família tem potencial de garantir uma economia de R$ 10 bilhões, segundo previsão inicial do governo. Parte dessa redução dos gastos já pode beneficiar o Orçamento deste ano, apurou o Estadão com integrantes da área orçamentária do governo Lula.
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O governo está mapeando as pressões de gastos neste início do ano para a elaboração do relatório de avaliação de despesas e receitas do Orçamento. Uma dessas pressões é o aporte que será necessário para o Fundo de Garantias de Operações (FGO), do Pronampe (linha de financiamento para pequenas empresas criada na pandemia, mas que se tornou permanente), e para o Desenrola, o programa de renegociação de dívidas que será lançado pelo governo ainda este mês e deve beneficiar quem ganha até dois salários mínimos (hoje, R$ 2.604).
Inflação
No cenário econômico, o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) de serviços do Brasil continuou na região que significa de expansão da atividade em janeiro, em 50,7, mas o indicador representou uma queda em relação aos 51,0 registrados em dezembro. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (3) pela S&P Global.
O PMI composto, que agrega serviços e indústria, subiu de 49,1 em dezembro para 49,9 em janeiro e, portanto, ainda ficou abaixo do nível neutro (50,0), que separa a contração da expansão.
Os participantes da pesquisa mencionaram aumento das vendas no mês e conquistas de novos clientes, mas as empresas que citaram queda mencionaram demanda mais fraca por seus serviços
A incerteza em relação à economia e ruídos na política levaram a confiança nos negócios para o seu nível mais baixo em um ano e meio, segundo a S&P Global.
Com o resultado, a indústria brasileira encontra-se 2,2% abaixo do patamar pré-pandemia da covid-19 (em fevereiro de 2020) e 18,5% abaixo do nível recorde da série, de maio de 2011.
PPI zona do Euro
O Índice de Preços ao Produtor (PPI, na sigla em inglês) da Zona do Euro subiu 1,1% em dezembro ante novembro, segundo estimativas divulgadas nesta sexta-feira (3) pelo Eurostat, o escritório de estatísticas da União Europeia. Em relação a dezembro de 2021, a inflação do produtor industrial bateu em 24,6%.
O dado veio bem mais forte que o esperado pelo mercado. O consenso Refinitiv esperava uma queda de 0,4% no mês e uma inflação anualizada de 22,5%.
Em todo o bloco da União Europeia, o PPI avançou 1,2% na comparação mensal e 25,2% na anual.
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No mês, a inflação dos preços da energia na área da moeda comum subiu 2,5% no setor da energia, 0,5% para os bens de consumo não-duráveis, 0,4% nos bens-duráveis e 0,3% para bens de capital. Por outro lado, os preços dos bens intermediários caíram 0,5%.
PMI China
O índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) de serviços da China subiu de 48,0 em dezembro para 52,9 em janeiro, conforme dados com ajustes sazonais divulgados pela S&P Global/Caixin. Isso sinalizou a primeira expansão da atividade do setor de serviços chinês em cinco meses.
O PMI composto, que agrega os índices de serviços e da indústria, avançou de 48,3 para 51,1 entre dezembro e janeiro e também atingiu o maior patamar desde agosto de 2022.
Segundo a pesquisa, as empresas no geral vincularam o aumento dos níveis de atividade à reversão das medidas de controle da pandemia em todo o país e à recuperação da demanda dos clientes.
No entanto, a pandemia continuou a trazer impactos para as operações comerciais. As ausências de pessoal devido à doença contribuíram para uma ligeira queda no número de funcionários e um aumento mais forte nos atrasos no trabalho, por exemplo.
PMI Japão
O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) de serviços do Japão subiu de 51,1 em dezembro para 52,3 em janeiro, conforme dados divulgados nesta sexta-feira (3) pela S&P Global em parceria com o Jibun Bank. Foi o quinto mês seguido com o indicador acima da faixa de 50,0, que separa a contração da expansão.
O PMI composto, que agrega os resultados da indústria e dos serviços, subiu de 49,7 para 50,7, passando do nível neutro após dois meses de declínio.
Segundo a pesquisa, a primeiro mês de 2023 viu uma expansão contínua no setor de serviços japonês, à medida que a recuperação pós-covid continuou, impulsionada por um programa nacional de descontos em viagens.