Visão do Topo: As maiores executivas do mercado financeiro

Visão do Topo: As maiores executivas do mercado financeiro

março 8, 2021 Off Por JJ

Mulher digitando no teclado
Escritório

Em outubro de 2020, publiquei um texto nesta coluna (https://www.infomoney.com.br/colunistas/thiago-godoy/por-mais-bolsos-nas-roupas-femininas/) sobre o longo caminho para a “igualdade de bolsos” e sobre as consequências de uma sociedade que não estimula as mulheres a desenvolver uma relação saudável com o dinheiro.

Você sabia que, mesmo em um lugar desenvolvido como o Reino Unido, foi apenas em 1975 que as mulheres tiveram o direito de abrir uma conta bancária em seu próprio nome, sem pedir permissão ao marido?

Ainda reforçamos tantas crenças equivocadas e o impacto é avassalador: uma dessas consequências está na representatividade do mercado financeiro.

Quando se trata de equilibrar a igualdade de gênero no trabalho a área financeira ainda está longe de acompanhar o ritmo de muitos outros campos profissionais, como direito ou medicina, por exemplo.

Embora as salas de aula das universidades já sejam ocupadas mais por mulheres do que por homens, nos cursos de Finanças, Economia e Administração ainda há mais estudantes do sexo masculino.

A coisa fica mais complicada no ar rarefeito da alta hierarquia das grandes empresas.

Um relatório de 2018 da McKinsey descobriu que, enquanto homens e mulheres começam suas carreiras em pé de igualdade no mercado financeiro, à medida que a hierarquia sobe, as mulheres representam apenas 19% dos cargos de liderança.

Diante desse cenário, a grande pergunta é: qual é a posição do mercado financeiro no que diz respeito à igualdade de gênero?

Nesta pesquisa da McKinsey, uma das mais completas já realizadas sobre o tema, foram entrevistados mais de 14 mil colaboradores em 39 empresas do mercado financeiro nos EUA.

Os resultados mostram que as mulheres ainda continuam significativamente sub-representadas nos escalões superiores dessas empresas. No entanto, mais de 90% dessas empresas afirmaram estabelecer um compromisso com a diversidade de gênero.

Representatividade. Uma empresa do mercado financeiro com mais mulheres em cargos de liderança se torna mais representativa dos seus clientes. Hoje em dia, mais da metade das mulheres são as responsáveis por controlar as finanças em casa, sendo inclusive as responsáveis pelos investimentos da família.

A pesquisa da McKinsey também mostrou que as empresas com maior diversidade de gênero em cargos de liderança possuem 21% mais probabilidade de ampliar sua lucratividade.

Então, onde está o gargalo? Parece que o maior empecilho ainda está nas probabilidades de promoção dentro das empresas. A McKinsey mostrou que as mulheres – e as mulheres negras em particular – têm uma probabilidade significativamente menor do que os homens de obter sua primeira promoção.

O relatório analisou com profundidade as perspectivas das mulheres nos níveis de entrada e de gestão sênior para descobrir por que a representação feminina diminui em cada estágio.

Entre as principais barreiras para ascensão identificadas na pesquisa, estão (1) as preocupações das mulheres sobre o equilíbrio entre família e compromissos de trabalho, (2) a alta pressão por elas percebida, associada aos cargos de alto escalão e (3) o excesso de política interna.

Mas a pesquisa da McKinsey foi além. Ao entrevistar as principais executivas do mercado financeiro, foi trazida uma visão do topo. Quais foram os caminhos para o sucesso das mulheres que estão na alta hierarquia do mercado financeiro?

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Como elas superaram muitos dos desafios descritos anteriormente? Em comum, essas mulheres possuem um grande entusiasmo pelo avanço de outras mulheres nessa área. As entrevistadas também destacaram basicamente três habilidades que foram fundamentais para o sucesso no mercado financeiro: (1) construir uma rede de apoio, (2) assumir riscos e (3) conhecer e comunicar seu valor:

1. Construir uma forte rede de apoio

As mulheres executivas entrevistadas na pesquisa citaram sistematicamente a rede de apoio como um fator crítico de sucesso. Por rede de apoio, entende-se a habilidade de se conectar e ser orientada por outras ou outros executivos sêniores. Essa relação de mentoria é considerada também uma habilidade política importante para a construção de uma boa visão das necessidades e oportunidades dentro da empresa.

2. Assumir riscos mais cedo e de maneira frequente

As mulheres de nível sênior entrevistadas pela McKinsey incentivam as mulheres mais jovens a assumir riscos no início de suas carreiras. Esses riscos vão desde enfrentar cargos em diferentes unidades de negócio e até mesmo em outros setores da empresa, de forma a construir uma ampla base de experiências que será muito útil em futuras posições de liderança.

3. Conhecer e comunicar o seu valor

Várias entrevistadas creditaram seu sucesso ao trabalho árduo e a um forte senso de confiança em seu valor individual para a empresa. Muitas dessas executivas enfatizaram a importância de comunicar o seu valor e as realizações para as lideranças e demais stakeholders.

Ainda assim, existem ventos contrários lá no topo. Mesmo as mulheres que alcançam os níveis executivos mais altos muitas vezes olham para trás e concluem que seu gênero impediu seu avanço.

Mais da metade das mulheres de nível sênior – aquelas que alcançaram o nível de vice-presidente ou superior – acreditam que perderam oportunidades por causa do seu gênero, em comparação com apenas 10% dos seus colegas homens. E essa desigualdade continua por várias razões.

Entre vários fatores, o acesso à liderança sênior permanece desigual, mesmo nos níveis mais altos. Equilibrar família e trabalho torna-se cada vez mais desafiador: a incapacidade de equilibrar família e trabalho é citada por metade das mulheres de nível sênior como um dos principais motivos para não quererem ocupar cargos executivos de alto escalão.

O caminho para a igualdade ainda é longo, mas passa necessariamente pelo estabelecimento de um compromisso das altas lideranças de empresas do mercado financeiro. A criação de políticas organizacionais para uma cultura inclusiva, bem como a orientação e comunicação adequada sobre a implementação desses compromissos são ações essenciais.

Fundamentalmente, igualdade de gênero é uma questão de escolha: equipar meninas e meninos, mulheres e homens, com o mesmo conhecimento e oportunidades de tomar decisões informadas sobre suas vidas.

Já está mais do que na hora proporcionar essa igualdade de escolhas.