Teto de juros para rotativo pode afetar receita de instituições financeiras, alerta Fitch

Teto de juros para rotativo pode afetar receita de instituições financeiras, alerta Fitch

setembro 13, 2023 Off Por JJ

Ainda há dúvidas sobre como o projeto de lei que define um limite para os juros do chamado crédito rotativo será implementado. Mas, desde já, a agência de classificação de risco Fitch alerta que o efeito dessa medida deve ser negativo para a avaliação de crédito das instituições. Isso porque o limite pode afetar variáveis como  a receita e o apetite, além de favorecer uma onda de concentração desse mercado, diz a agência,.

A proposta de um teto para os juros do rotativo do cartão de crédito foi incluída pela Câmara no projeto de lei do Desenrola, votado na terça-feira passada (5).  O texto que foi aprovado prevê que o limite passe a valer apenas 90 dias após a publicação da lei. Nesse período, o setor financeiro poderá apresentar uma alternativa de autorregulação – razão pela qual ainda não há total clareza sobre como a nova regra funcionará.

De acordo com a Fitch, a medida teria potencial de pressionar o modelo de negócios e o fluxo de receitas de instituições financeiras não bancárias e bancos. “Limitaria potencialmente o acesso ao cartão de crédito pelos clientes e reduziria a inclusão financeira no País”, diz a agência em nota.

A medida poderia também limitar o número de agentes fornecendo acesso a produtos de crédito e aumentar a concentração do mercado, em especial fintechs, “que cresceram na última década provendo cartões de crédito e contas sem custos aos clientes”.

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Segundo o Banco Central, entre as 63 instituições que operam diretamente com cartões de crédito, apenas nove possuem uma taxa de juros inferior ao limite de 100% proposto. A Fitch argumenta que a alteração pode reduzir o apetite ao crédito e, por consequência, os limites oferecidos pelos bancos aos seus correntistas.

Se aprovado, o teto deve impactar fatores de classificação como apetite ao risco, lucros e rentabilidade e qualidade dos ativos, em maior ou menor grau e dependendo da instituição.

Proposta de teto do rotativo

Na última terça-feira (5), a Câmara aprovou o projeto de lei que estabelecia as regras do programa de renegociação de dívidas Desenrola. O texto, no entanto, também incluia o estabelecimento de uma taxa de juros máxima de 100% no rotativo e no parcelamento de faturas de cartão de crédito.

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A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) criticou a possibilidade e, como a Fitch, argumenta que o teto poderia reduzir a oferta de crédito no Brasil. “Limites artificiais de juros impactam na oferta de crédito, pois carregam o risco de torná-lo não sustentável”, disse a entidade, em nota na última quarta-feira (6).

A Febraban, no entanto, diz que reconhece o esforço do relator do projeto de lei, Deputado Alencar Santos (PT-SP), em conceder o prazo de 90 dias para que haja discussão técnica e colaborativa, envolvendo a indústria de cartões, o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central e afirma ter confiança de que o prazo será suficiente para que se encontre uma evolução material no mercado.

Já Boanerges Ramos Freire, CEO da Boanerges & Cia Consultoria, vê com ceticismo a possibilidade do setor encontrar um caminho de autorregulação no curto prazo, como propõe o governo. “A decisão de dar o prazo de 90 dias é inteligente e um empurrão para que os próprios agentes se regulem, mas acho difícil que todo o setor se entenda sem a ajuda de um articulador”, diz o especialista. O próprio Banco Central poderia ser esse agente de organização das negociações entre as diferentes agentes, diz o especialista.

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