Tesouro Direto: taxas dos títulos públicos recuam com mercado antecipando fim da guerra e dólar; prefixados oferecem até 12,22% ao ano
março 9, 2022As taxas dos títulos públicos recuaram nesta quarta-feira (9), com o mercado antecipando o fim da guerra. Houve uma queda generalizada em várias classes de ativos, dólar e petróleo também despencaram.
Luciano Costa, economista-chefe da Kilima Asset, explica que a curva de juros cedeu por conta de um possível avanço nas negociações diplomáticas entre a Rússia e Ucrânia. “O vice-chefe do gabinete da presidência da Ucrânia, Oleh Tatarov, afirmou hoje que o país estaria aberto a novas negociações, envolvendo a questão da neutralidade e entrada a Otan”, relata.
Com uma possível solução democrática e melhoras na percepção de risco, os juros acabaram recuando, principalmente os de longo prazo.
O economista também destaca a queda do dólar frente ao real, que por volta das 15h23 apresentava baixa de 1,01%, cotado a R$ 5,0019.
Perto do mesmo horário, os preços do petróleo também recuavam. O WTI para abril caiu 10,07%, a US$ 111,24, enquanto o Brent para maio desabou 10,96%, a US$ 113,95.
Nos juros curtos, Costa destaca que o movimento também precifica o choque inflacionário no Brasil, com o mercado atento ao reajuste da taxa Selic na próxima semana.
O economista cita dados da produção industrial divulgados hoje, referente ao mês de janeiro, com queda de 2,4% frente a dezembro de 2021. “Os dados foram fracos o que pode acabar impactando no reajuste da Selic”, aponta.
Dentro do Tesouro Direto, a maior baixa foi do título de curto prazo. O Tesouro Prefixado 2025 apresentava uma rentabilidade anual de 12,15% às 15h18, inferior aos 12,41% da terça-feira (8).
O Tesouro Prefixado 2029 e o Tesouro Prefixado 2033, com juros semestrais, também viram suas taxas cair. Os títulos entregavam uma rentabilidade anual de 12,19% e 12,22%, respectivamente nesta quarta-feira (9), abaixo dos 12,40% e 12,44% vistos ontem.
Nos títulos atrelados à inflação, todas as taxas apresentaram quedas. A maior baixa foi do Tesouro IPCA+ 2026 que oferecia uma rentabilidade real de 5,63%, abaixo dos 5,72% da sessão anterior.
E do Tesouro IPCA+ 2032, com juros semestrais, que apresentava um retorno real de 5,82%, inferior aos 5,90% registrados ontem.
Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto que eram oferecidos na tarde desta quarta-feira (9):
Produção industrial e revisões no IPCA
Na agenda econômica, o foco está nos números da produção industrial. Com os dados de hoje, o IBGE informou que a indústria se encontra 3,5% abaixo do patamar de antes do início da pandemia, em fevereiro de 2020, e 19,8% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a queda foi de 7,2%.
O dado foi pior do que o esperado. O consenso Refinitiv esperava baixa de 1,9% na comparação com dezembro, enquanto a expectativa na comparação anual era de queda de 6%.
“Verificamos que o mês de janeiro está bem caracterizado pela perda de dinamismo e de perfil disseminado de queda, uma vez que todas as grandes categorias econômicas mostram recuo na produção, tanto na comparação com o mês anterior quanto na comparação com janeiro de 2021”, destaca André Macedo, gerente da pesquisa.
Os números de atividade mais baixos do que o esperado preocupam agentes financeiros, já que a economia brasileira tem sido fortemente impactada por pressões inflacionárias, que tendem a piorar agora com as altas de commodities.
Com o avanço dos preços de petróleo e alimentos com a guerra entre russos e ucranianos, várias casas vêm revisando as projeções de alta para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste ano.
Na terça, o BNP Paribas, por exemplo, elevou de 6% para 7% as estimativas de avanço da inflação neste ano. O banco, no entanto, manteve a projeção para a inflação oficial no ano que vem em 4%.
Também na véspera, a XP aumentou sua estimativa para a alta do IPCA ao fim deste ano em 1 ponto percentual, para 6,2%.
Radar externo
A União Europeia divulgou novas sanções contra a Rússia. “Estamos reforçando ainda mais a rede de sanções em resposta à agressão militar da Rússia contra a Ucrânia”, diz a Comissão Europeia.
São 160 indivíduos, incluindo oligarcas e membros do Conselho da Federação Russa, o setor bancário da Bielorrússia (com restrições ao Swift de três bancos do país) e a proibição de exportações de tecnologia de navegação marítima para a Rússia.
No Reino Unido, Boris Johnson chamou ataque russo à maternidade ucraniana de “depravado”.
“Há poucas coisas mais depravadas do que atacar os vulneráveis e indefesos. O Reino Unido está tentando dar mais apoio à Ucrânia para se defender contra-ataques aéreos e vamos responsabilizar Putin por seus crimes terríveis”, disse o primeiro-ministro britânico nas redes sociais.
Mais cedo, a Ucrânia relatou que a Rússia atacou e destruiu um hospital infantil e maternidade em Mariupol, algo que a comunidade internacional em peso repudiou.
Combustíveis
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, defendeu nesta quarta-feira um subsídio para ajudar a controlar o preço dos combustíveis em meio à guerra entre Rússia e Ucrânia, por um período determinado, e estimou um custo de 13 bilhões a 14 bilhões de reais.
“Na minha opinião, a linha de ação que causasse menos danos a posteriori seria usar os recursos de royalties e dividendos para dar um subsídio ao combustível durante um período devidamente qualificado”, defendeu.
Ele não mencionou a Petrobras, mas a empresa, controlada pelo governo, elevou os pagamentos à União após um lucro recorde em 2021. Os dividendos pagos a todos os acionistas somaram 101,4 bilhões de reais.
