Tesouro Direto: taxas disparam com PEC dos combustíveis e risco fiscal

Tesouro Direto: taxas disparam com PEC dos combustíveis e risco fiscal

junho 28, 2022 Off Por JJ

As taxas dos títulos públicos avançam com força na manhã desta terça-feira (28). Nos prefixados, as taxas sobem até 15 pontos-base, enquanto nos títulos atrelados à inflação a alta é de até 12 pontos-base.

Segundo Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, o que puxa este movimento é o risco fiscal, com o parecer da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Combustíveis que deve ser apresentada hoje pelo relator Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). A leitura do parecer está marcada para às 11h.

Costa explica que o parecer da PEC está com uma estimativa de gastos de R$ 34,8 bilhões, contudo estão surgindo novas demandas de gastos, por exemplo, o auxílio para trabalhadores do segmento de transporte de cargas autônomas. “Isso já representaria mais R$ 5 bilhões de gastos e elevaria o custo da PEC para R$ 40 bilhões”, explica o economista.

Ele cita um receio do mercado de que estes gastos possam ser subestimados. “O Ministério da Economia acha que o gasto com o auxílio emergencial expandido de R$ 400 para R$ 600 tenha um custo de R$ 30 bilhões, ao invés de R$ 22 bilhões como estimado no parecer”, aponta.

No cenário internacional, Costa destaca o movimento das Treasuries – títulos do Tesouro americano- que também avançam com notícias de reabertura da China e alta das commodities. “O mercado está mais calmo em relação ao risco de recessão global”, diz.

Dentro do Tesouro Direto, as taxas dos prefixados avançavam 15 pontos-base na primeira atualização desta terça-feira (28).

O Tesouro Prefixado 2025 e o Tesouro Prefixado 2029 ofereciam um retorno anual de 12,76% e 12,89% respectivamente, superior aos 12,61% e 12,74%, vistos ontem.

O Tesouro Prefixado 2033 se encontra com negociações suspensas, devido ao pagamento do cupom semestral, previsto para o dia 1º de julho. A razão é que o Tesouro Direto costuma proibir a compra do título quatro dias úteis antes do pagamento de cupom de juros. Além disso, também ficará suspensa, a partir dos dois dias úteis anteriores ao pagamento do cupom, a recompra desses títulos.

Nos títulos atrelados à inflação, o movimento também era de alta com as taxas subindo entre 9 e 12 pontos-base.

O Tesouro IPCA+ 2055 oferecia o maior ganho real entre os títulos, de 6,02%. A taxa oferecida é recorde para 2022.

O Tesouro IPCA+ 2035 também alcançou patamar recorde nas taxas. Já o Tesouro IPCA+ 2040, com juros semestrais, voltou ao patamar máximo de 5,91%, visto pela última vez no dia 14 de março.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na manhã desta terça-feira (28):

Fonte: Tesouro Direto

Caged

O Brasil criou 277.018 empregos formais em maio, uma forte alta na comparação com abril (196.966) e um resultado muita acima da expectativa do mercado (o consenso Refinitiv projetava 192.750 novas vagas CLT no mês passado).

Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) foram divulgados nesta terça-feira (28) pelo Ministério do Trabalho e Previdência.

Visão da Selic

Segundo pesquisa Focus XP, investidores institucionais apostam em Selic de 13,75% para o final de 2022.

A mediana das respostas dos 39 investidores institucionais também mostra Selic a 10,50% em 2023. Os dados divulgados no comunicado do Copom (Comitê de Política Monetária) mostram medianas em 13,25% para 2022 e 10,0%, no ano seguinte. 85% dos respondentes esperam novo aumento de 50 bps em agosto e 13%, desaceleração para 25 bps. Para setembro, 87% esperam manutenção da taxa Selic.

Nos demais indicadores, a expectativa mediana é de R$5,00 para o BRL no final de 2022 e também de 2023. Para o PIB, os respondentes esperam crescimento de 1,60% em 2022 e de 0,50% em 2023, contra 1,42% e 0,55% divulgados na coletiva sobre política monetária na última quinta-feira (23/06).

Índice de Confiança da Indústria

O Índice de Confiança da Indústria (ICI) avançou 1,5 ponto em junho, de acordo com dados da Fundação Getulio Vargas.

Segundo a FGV, com a terceira alta consecutiva, o índice atingiu 101,2 pontos, o nível mais elevado desde novembro de 2021 (102,1 pontos). Entre julho do ano passado e março de 2022, o ICI acumulou uma queda de 13 pontos. O avanço em junho foi puxado tanto pela avaliação do presente quanto pelas perspectivas do setor.

O Índice de Situação Atual (ISA) subiu 1,9 ponto, para 102,3 pontos, enquanto o Índice de Expectativas (IE) teve alta de 1,2 ponto, para 100,2. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI), por sua vez, subiu 0,6 ponto porcentual, a 81,4%, o maior nível desde junho de 2014.

Títulos de inflação longos no radar

A percepção de uma parte do mercado de que o ciclo de alta da Selic, já em 13,25% ao ano, deverá encerrar em breve tem levado os especialistas a olhar com carinho para a porção mais distante da curva de juros. Na visão de alguns deles, as taxas títulos públicos de longo prazo atrelados à inflação estão atrativas.

Segundo Nicolas Giacometti, especialista em renda fixa da Blue3, os preços dos títulos de prazo mais longo são mais sensíveis ao risco e, por isso, variam com maior intensidade. Assim, é possível encontrar neles oportunidades de ganhos de capital em saídas antecipadas, antes do vencimento dos papéis.

Explique-se: os juros oferecidos por um título de renda fixa têm uma relação inversa com o seu preço de negociação pelos investidores. Quando as taxas recuam, seu valor tende a subir. O contrário também é verdadeiro.

A expectativa (ainda que não consensual) de que os juros parem de subir nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) – e, bem mais à frente, comecem a arrefecer – poderia favorecer a alta dos preços dos títulos de inflação. Na prática, devido à chamada “marcação a mercado” dos papéis, alguns especialistas acreditam que eles podem valorizar.

Nesse caso, papéis com vencimentos mais longos, como 2060, podem ser boas opções para uma alocação com esse objetivo, afirma Giacometti. Como esse tipo de vencimento não está disponível no Tesouro Direto, uma alternativa é alocar no Tesouro IPCA + 2055, por exemplo.

Outra opção, diz o especialista, é aplicar no título com vencimento em 2035, em que a relação risco e retorno parece atrativa.

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De olho no fim do ciclo de alta da Selic, especialistas começam a se voltar para títulos de inflação longos