Tesouro Direto: taxas de prefixados sobem forte até 12,34%, com IPCA-15 acima do esperado

Tesouro Direto: taxas de prefixados sobem forte até 12,34%, com IPCA-15 acima do esperado

maio 24, 2022 Off Por JJ

A terça-feira (24) promete mais um dia de forte volatilidade no mercado local. Destaque para a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação, que desacelerou para 0,59% em maio.

No acumulado dos últimos 12 meses, o índice avança 12,20%, acima dos 12,03% registrados em abril. Tanto o dado mensal quanto o anual vieram bem acima das expectativas dos analistas consultados pela Refinitiv.

Agentes financeiros também acompanham mais mudanças na Petrobras. Ontem à noite (23), o Ministério de Minas e Energia anunciou a demissão de José Mauro Ferreira Coelho da presidência da Petrobras (PETR3; PETR4), após 40 dias no cargo.

A Câmara dos Deputados também pode votar hoje o projeto que limita a cobrança de ICMS sobre energia elétrica, combustíveis, telecomunicações e transportes.

Na cena externa, dados de vendas de novas casas nos Estados Unidos e o  discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, banco central americano, estão no centro das atenções dos investidores.

No Tesouro Direto, o mercado de títulos públicos apresenta alta expressiva nas taxas na manhã desta terça-feira (24).

Na primeira atualização do dia, os juros entregues por alguns títulos chegam a subir até 20 pontos-base (0,20 ponto percentual). É o caso do Tesouro Prefixado 2025, que entregava um retorno de 12,34%, às 9h20. Valor que está acima dos 12,14% vistos na véspera.

Entre os títulos atrelados à inflação, a remuneração real oferecida pelo Tesouro IPCA +2055, com cupom semestral, por exemplo, era de 5,83%, às 9h20. Percentual superior aos 5,72% registrados um dia antes.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto que eram oferecidos na manhã desta terça-feira (24): 

Taxas Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

IPCA-15

Na cena local, o mercado analisa os novos números de inflação. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a alta de 0,59% representou o maior avanço para o mês desde 2016 (0,86%). No ano, o indicador sobe 4,93%.

A persistência da alta de preços tem feito com que economistas — e até o governo — revisem para cima as suas projeções para a inflação de 2022. A expectativa do mercado já chega a 10% para o IPCA deste ano, enquanto o Ministério da Economia aumentou a sua para 7,9% na semana passada.

Oito dos nove grupos de produtos e serviços tiveram alta em maio — a única exceção foi habitação, que teve forte retração (-3,85%).

A maior alta veio de saúde e cuidados pessoais (+2,19%), que contribuiu para aumentar a prévia da inflação do mês em 0,27 ponto percentual.

A alta de preços do setor de transportes (+1,80%) desacelerou em relação a abril (+3,43%), mas o grupo foi o responsável pelo maior impacto positivo no indicador (0,40 p.p.). O grupo alimentação e bebidas (+1,52%) também desacelerou na comparação com o mês anterior (+2,25%), mas impactou o índice em 0,32 ponto percentual.

Ao olhar para os números, Tatiana Nogueira, economista da XP, disse que
os dados vieram piores e sinalizam que o impacto deve ser altista na projeção do mês fechado, principalmente devido à inflação maior de bens industriais e serviços.

Por outro lado, afirma a economista, as coletas de alta frequência sugerem queda na inflação de alimentos.

Embora os números tenham vindo piores, a especialista da XP ressalta que aguarda a decisão do governo em relação ao teto do ICMS em 17% em itens essenciais, como energia elétrica e combustíveis, que pode ter caráter deflacionário.

Petrobras e ICMS

Dentro da cena política, os olhares estão voltados para a Petrobras. Ontem à noite, o Ministério de Minas e Energia anunciou a demissão de José Mauro Ferreira Coelho da presidência da companhia.

Seus antecessores no cargo, Roberto Castello Branco e Joaquim Silva e Luna, também foram dispensados durante o governo Jair Bolsonaro.

A mudança já era esperada. Coelho foi uma indicação de Bento Albuquerque, Almirante da Marinha, que ocupava o cargo de Ministro de Minas e Energia desde o início do governo Bolsonaro, e foi substituído por Adolfo Sachsida em 12 de maio. A troca ocorreu em meio à insatisfação declarada do presidente com reajustes de preços de combustíveis pela Petrobras.

Para assumir a presidência da Petrobras, foi indicado Caio Mário Paes de Andrade, que ocupava o cargo de secretário da Desburocratização, no Ministério da Economia.

A demissão de José Mauro Coelho do comando da Petrobras é a primeira de uma série de mudanças que o governo vai fazer na estatal, segundo apuração do jornal O Estado de S.Paulo.

Além de demitir Coelho, o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, vai fazer mudanças no conselho de administração da estatal, que foi montado pelo ex-ministro Bento Albuquerque. A saída de Coelho também antecipa mudanças na diretoria da empresa, abrindo caminho para alterar a forma de reajuste dos preços, como quer Bolsonaro.

A Petrobras informou que, se a demissão de José Mauro Coelho da presidência da companhia for aprovada em AGE, ocorrerá a destituição de todos os membros do Conselho eleitos como ele, por meio do voto múltiplo.

Leia mais:
• Demissão na Petrobras (PETR3;PETR4) levará a mudanças no conselho e na política de preços

A estatal terá, assim, de realizar nova eleição para esses cargos. Em fato relevante, a Petrobras informou que o MME enviou ofício à empresa solicitando a convocação de AGE para destituir Coelho e eleger Caio Paes de Andrade como membro do Conselho de Administração.

Também na cena política, a Câmara dos Deputados deve votar hoje o projeto que limita a cobrança de ICMS sobre energia elétrica, combustíveis, telecomunicações e transportes.

Segundo a Folha de S.Paulo, parlamentares negociam a retirada de telecomunicações e transportes do projeto para facilitar sua aprovação.. Se a mudança efetivar-se, apenas energia elétrica e combustíveis trariam uma perda anualizada de pouco menos de R$ 50 bilhões para a arrecadação dos estados, com impacto deflacionário de até 103 pontos-base (1,03 ponto percentual).

Commodities, BCE

Na cena externa, as cotações do petróleo sobem com a expectativa de oferta global apertada e uma recuperação na demanda de combustível na China após as promessas de estímulo de Pequim.

Destaque também para a fala de Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE). Hoje, ela disse que a instituição não está com pressa de elevar juros porque o atual salto da inflação é alimentado pelo lado da oferta da economia e as expectativas de inflação seguem bem ancoradas.

“Não acho que estamos na situação de forte alta da demanda no momento (…) nesta situação, temos de mover na direção certa, obviamente, mas não temos de nos apressar e não temos de entrar em pânico”, disse Lagarde em entrevista à Bloomberg em Davos, onde participa do Fórum Econômico Mundial.