Tesouro Direto: taxas de prefixados avançam com juros globais e alta do petróleo, mas ficam abaixo de 12%
setembro 5, 2022A segunda-feira (5) é marcada pelo forte clima de aversão a risco na Europa, em dia de Bolsas fechadas nos Estados Unidos em virtude de um feriado. Na sexta-feira (2), a Gazprom, gigante estatal de energia russa, interrompeu – por tempo indeterminado – o fornecimento de gás para o continente europeu por meio do gasoduto Nord Stream 1.
Nesta manhã, Dmitry Peskov, porta-voz do presidente russo Vladimir Putin, disse que o fornecimento de gás pelo gasoduto não será totalmente retomado até que o ocidente retire, de forma coletiva, as sanções contra Moscou, o que torna a situação ainda mais dramática. Problemas de abastecimento devem seguir pressionando o preço do produto na Europa e, consequentemente, a inflação na Zona do Euro.
Tais fatores reforçam a visão de que o Banco Central Europeu (BCE) talvez tenha que adotar uma postura mais dura para driblar a escalada de preços na próxima quinta-feira (8), quando definirá o novo patamar de juros da região. O mercado ainda está dividido quanto ao nível da elevação, se de 0,50 ou 0,75 pontos percentuais. Atualmente, a taxa de depósitos está em 0% e a de empréstimos em 0,75%.
Atenção também para a reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+). A expectativa é que sejam discutidos possíveis cortes de produção da commodity. Não à toa, por volta das 9h30 (horário de Brasília), os preços do petróleo avançavam mais de 3%.
Após novo anúncio de redução no preço dos combustíveis na semana passada e divulgação de novos dados de inflação, economistas revisaram novamente as projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste ano e em 2023.
Segundo o Relatório Focus, do Banco Central, divulgado pela manhã, o ponto médio das projeções para a inflação deste ano agora está em 6,61%, contra 6,70% na semana anterior. Houve ligeiro corte também nas estimativas para o IPCA em 2023: de 5,30% para 5,27%.
A inflação oficial de agosto será apresentada na sexta-feira (9). A mediana das projeções dos economistas consultados pela Refinitiv aponta para mais uma deflação, desta vez de 0,39%.
No Tesouro Direto, as taxas oferecidas pelos títulos públicos operam em alta nesta manhã, após várias sessões em queda na semana passada. O avanço está em linha com a elevação de boa parte dos juros globais, em especial os de países da Europa.
Apesar da subida nas taxas, os retornos oferecidos por papéis prefixados seguiam abaixo dos 12% ao ano, por volta das 9h20. O maior juro era entregue pelo Tesouro Prefixado 2033, no valor de 11,97% ao ano, acima dos 11,93% vistos na sexta-feira (2).
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No mesmo horário, a remuneração oferecida pelo Tesouro Prefixado 2025 e pelo 2029 era a mesma: 11,83%, acima dos 11,79% e dos 11,80% registrados nos dois títulos, respectivamente, na sexta-feira.
Já a maior alta apresentada entre os papéis atrelados à inflação era registrada pelo Tesouro IPCA+ 2026, que via o juro real subir de 5,63% ao ano para 5,68% ao ano, também às 9h20.
Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na manhã desta segunda-feira (5):
Estados Unidos, Europa e China
Além das preocupações com o fechamento do Nord Stream 1, a Europa acompanha a divulgação de mais um dado ruim de atividade.
Segundo a S&P Global, o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto da zona do euro, que engloba os setores industrial e de serviços, caiu de 49,9 em julho para 48,9 em agosto, atingindo o menor nível em 18 meses. O resultado abaixo de 50 mostrou que a atividade na região seguiu em contração no mês passado.
O PMI de serviços da zona do euro, por sua vez, diminuiu de 51,2 para 49,8 no mesmo período, tocando o menor patamar em 17 meses e vindo também abaixo do cálculo inicial, de 50,2.
Em um dia marcado por menor liquidez global com o fechamento das Bolsas americanas em virtude de um feriado, investidores americanos operam em compasso de espera pela divulgação do Livre Bege na quarta-feira (7). O mercado também aguarda novo discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano) na quinta-feira (8).
Já na China, o destaque está no anúncio de nova redução no compulsório bancário pelo Banco do Povo da China (PBoC, o BC chinês). Essa é mais uma tentativa da autoridade monetária do País para impulsionar a segunda maior economia do mundo, que sofre os efeitos da política de Covid-19 zero e da onda de calor mais grave a atingir a região em décadas.
Focus
O destaque da agenda local está nos números do Relatório Focus, do Banco Central. Enquanto houve revisão para baixo nas expectativas para a inflação, economistas aumentaram as projeções para a alta do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e no próximo.
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Essa foi a décima alta consecutiva para a estimativa do PIB em 2022 e a primeira para 2023.
A projeção de alta do PIB neste ano subiu de 2,10% para 2,26% e passou de 0,37% para 0,47% no ano que vem. Apesar da melhora nas projeções para 2022 e 2023, o mercado começou a estimar uma piora no cenário econômico no médio prazo, ao elevar a expetativa para a Selic no fim de 2023 (de 11,00% para 11,25%) e também a da inflação de 2024 (de 3,41% para 3,43%).
Por outro lado, o mercado manteve as expectativas para a Selic no fim de 2022 (13,75%), 2024 (8,00%) e 2025 (7,50%) e para o dólar nos próximos 3 anos (US$ 1 = R$ 5,20 em 2022 e 2023 e R$ 5,10 em 2024), embora tenha elevado marginalmente a estimativa para a moeda americana em 2025 (de R$ 5,17 para R$ 5,18).
Barroso
Na cena política, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso suspendeu, de forma liminar, a lei que estabeleceu um piso salarial para os profissionais da enfermagem. Ele adiantou que vai solicitar ao presidente da Corte, Luiz Fux, a inclusão do assunto na pauta do plenário para análise de todos os colegas nos próximos dias.
Barroso atendeu a um pedido da Confederação Nacional de Saúde, Hospitais e Estabelecimentos e Serviços (CNSaúde). Em sua decisão, concordou com o argumento da entidade sobre os riscos de demissão em massa nos hospitais. O ministro mencionou ainda a redução da qualidade de serviços no setor da saúde, com fechamento de leitos.
Enquanto isso, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, afirmou ontem (4) que vai tratar “imediatamente dos caminhos e das soluções” para manter o piso salarial da enfermagem.