Tesouro Direto: semana fecha com juro de Tesouro IPCA+2045 perto de patamar recorde; mercado monitora exterior e fala de Haddad

A semana fecha com o mercado mostrando volatilidade nesta sexta-feira (27). No Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou, ao jornal Valor Econômico, que a Reforma Tributária que o governo pretende apresentar e aprovar ainda neste primeiro semestre não prevê aumento de carga de impostos. O ministro disse que os impostos sobre o consumo no Brasil já estão suficientemente altos.

Haddad também disse acreditar ser possível votar uma Reforma Tributária no Congresso até abril, pelo menos na Câmara dos Deputados.

Outro destaque desta sexta-feira (27) são as afirmações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na abertura do encontro com governadores no Palácio do Planalto. Segundo o presidente, o BNDES voltará a ser um banco de desenvolvimento. “O governo federal quer participar da realização de obras prioritárias nos Estados. Os bancos públicos, especialmente o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), deverão participar ativamente das ações”.

No cenário internacional, um dia após a atividade americana mostrar resiliência no quarto trimestre e elevar o otimismo dos investidores de que a economia dos Estados Unidos pode conseguir um pouso suave, investidores acompanham a divulgação do núcleo do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), que subiu 0,3% em dezembro na comparação mensal e 4,4% na anual.

Essa é a medida preferida de inflação do Federal Reserve (Fed, banco central americano). O resultado veio dentro do esperado, uma vez que o consenso Refinitiv projetava alta mensal de 0,3% e anual de 4,4%. O dia é de continuação na subida dos rendimentos dos Treasuries (títulos do Tesouro americano). Por volta das 16h20 de hoje, a taxa oferecida pelo papel com vencimento em dez anos avançava de 3,491% para 3,526%.

No Tesouro Direto, o mercado de títulos públicos opera com alta nas taxas nesta tarde. A remuneração real oferecida pelo Tesouro IPCA+2045 era destaque na sessão de hoje. Às 15h28, o papel entregava um retorno real de 6,51%. Na primeira atualização do dia, o retorno real chegou a 6,53%, recorde para o papel que passou a ser negociado em fevereiro de 2017. O percentual está acima dos 6,48% registrados um dia antes.

Já o juro máximo entregue por papéis prefixados era de 13,19% (Tesouro Prefixado 2029), bem acima dos 13,08% ao ano vistos na véspera. Uma diferença de 11 pontos-base (0,11 ponto percentual).

“O mercado brasileiro, no geral, está descolando um pouco de lá fora. Hoje, houve a divulgação do PCE dentro do esperado. O Fed [Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos] olha para esse cenário e pode ‘pegar mais leve’ com as taxas de juros”, diz Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, fazendo referência ao fato de que a autoridade monetária americana pode reduzir o ritmo de aperto nas próximas reuniões.

O especialista afirma que, no Brasil, investidores têm monitorado o discurso de autoridades. Segundo Komura, as últimas declarações de Haddad têm agradado, já que estão em linha com a ideia de responsabilidade fiscal. “O problema é que o mercado não tem muita confiança no Haddad”.

Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta sexta-feira (27): 

Haddad

Ao jornal Valor Econômico, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a Reforma Tributária que o governo pretende apresentar e aprovar ainda neste primeiro semestre não prevê aumento de carga de impostos. O ministro disse que os impostos sobre o consumo no Brasil já estão suficientemente altos.

“Se nos queremos nos aproximar das boas práticas internacionais, faz todo o sentido adotar o IVA (Imposto sobre o Valor Agregado) e nenhum sentido em aumentar a carga a partir do IVA. Seria um contrassenso”, afirmou.

Haddad disse ainda que pensa em mudar a estrutura tributária em duas etapas. A primeira é exatamente aprovar um IVA sem aumento de carga. “Se nós formos bem-sucedidos, na segunda etapa podemos até rever alíquotas da primeira. É assim que está organizado o debate”, comentou.

Ao jornal, ele também afirmou que acredita ser possível votar uma Reforma Tributária no Congresso até abril, pelo menos na Câmara dos Deputados, isso se houver uma boa negociação e o entendimento dos líderes partidários de que a proposta está madura.

O chefe da equipe econômica defendeu ainda ver mérito nas duas propostas hoje em tramitação no Congresso e que o governo tem a felicidade de contar com o secretário Bernard Appy para ajudar a solucionar entraves técnicos e políticos para a aprovação.

Na sequência, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que Haddad convidou os governadores para participar da discussão da reforma tributária.

O chamado foi feito durante reunião, realizada nesta sexta-feira (27), entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ministros e os governantes estaduais. Padilha reforçou também que Haddad quer aproveitar as iniciativas que já estão no Congresso para avançar na reforma.

Estados Unidos

O núcleo do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) nos Estados Unidos subiu 0,3% em dezembro na comparação mensal e 4,4% na anual, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (27) pelo Departamento de Comércio americano.

O resultado veio dentro do esperado, uma vez que o consenso Refinitiv projetava alta mensal de 0,3% e anual de 4,4%.

O núcleo do PCE exclui variações de preços de alimentos e energia, considerados mais voláteis. Considerando esses preços, a inflação de consumo americana (medida pelo PCE) foi de 0,1% na base mensal e de 5,0% na anual em dezembro. Os preços dos bens diminuíram 0,7% e os preços dos serviços aumentaram 0,5%. Os preços dos alimentos subiram 0,2% e os preços da energia caíram 5,1%.

Para Carlos Vaz, CEO da Conti capital, Carlos Vaz, o PCE anunciado hoje é consistente com uma leitura de que o Fed está atingindo sua meta de reduzir a inflação por meio de taxas de juros mais altas. “Há cada vez mais evidências de que as mudanças na política monetária estão, de fato, impactando a economia americana hoje, dando margem para enxergar e acreditar na possibilidade de se conquistar um ‘pouso suave’”, comentou.

O economista Francisco Nobre, da XP Investimentos, concordou com essa leitura. “O crescimento do consumo enfraqueceu nos últimos meses, consistente com a política monetária mais restritiva”, afirmou, citando a redução de 0,2% nas despesas, acima das projeções, embora a variação anual tenha se mantido em 7,4% em dezembro.

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