Tesouro Direto: retornos reais de títulos de inflação recuam e perdem patamar de 6% ao ano
agosto 5, 2022As atenções nesta sexta-feira (5) estão voltadas para a apresentação do relatório de emprego de julho dos Estados Unidos (payroll). Segundo a Secretaria de Estatísticas Trabalhistas (BLS, na sigla em inglês) do Departamento do Trabalho americano, o País criou 528 mil vagas de trabalho fora do setor agrícola no mês passado.
Com isso, a taxa de desemprego recuou para 3,5%. O resultado ficou acima do consenso de mercado, que previa a criação de 250 mil vagas e uma taxa de desemprego em 3,6%, segundo a Refinitiv. Tais dados costumam ser monitorados de perto pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano).
Após a divulgação dos números, os rendimentos dos títulos do Tesouro americano (treasuries) apresentavam forte de alta, por volta das 9h40 (horário de Brasília), com os vencimentos mais longos, avançando mais de 5% em alguns casos.
Na direção oposta, os juros oferecidos pelos títulos públicos no Tesouro Direto operam mais um dia em queda nesta sexta-feira (5).
Na visão de parcela dos agentes de mercado, o comunicado feito pelo Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou que a alta de 005 ponto percentual definida na reunião desta quarta-feira (3) – que levou a Selic para 13,75% ao ano – talvez seja a última de 2022, trazendo alívio para a curva de juros e fez as taxas despencarem desde então.
Chama atenção o fato de que todos os retornos reais oferecidos por papéis atrelados à inflação caíram para abaixo de 6%, na primeira atualização do dia. No caso do Tesouro IPCA+2055, com juros semestrais, por exemplo, a remuneração real oferecida era de 5,97%, abaixo dos 6,03% vistos na véspera (4). O título ultrapassou a barreira dos 6% ao ano pela primeira vez no começo de julho deste ano.
Já entre os papéis prefixados, a taxa real oferecida pelo Tesouro Prefixado 2025 era de 12,06% ao ano, mesmo patamar registrado em 26 de abril deste ano. Na sessão anterior, o juro entregue pelo título era de 12,17%.
Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na manhã desta sexta-feira (5):
Payroll e commodities
Na cena internacional, o destaque está nos números do payroll. Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, avalia que os dados mostraram que o mercado de trabalho continua forte, o que vai colocar na mesa de discussão a possibilidade de que o Fed suba novamente a taxa de juros em 0,75 ponto percentual. Não à toa, os rendimentos dos títulos avançavam.
O estrategista chamou a atenção também para o fato de que o salário médio no país tem aumentado. Ele pondera que há vagas sobrando no mercado de trabalho, o que dá poder de barganha maior aos trabalhadores e tende a aumentar os salários e a pressão sobre a inflação. “Qualquer americano que busca vagas tem uma disponibilidade muito grande hoje”, afirma.
Destaque também para as commodities. Por volta das 10h10 (horário de Brasília), os contratos futuros de petróleo operavam em leve queda, com o Brent cotado a US$ 93,76 e o WTI a US$ 88,12.
Correção da tabela do IR e teto de gastos
O presidente Jair Bolsonaro reiterou na quinta-feira (4) que já acertou no governo a revisão da tabela do Imposto de Renda para o ano que vem, mas ainda não decidiu em quanto. “Não vou dizer o porcentual, não batemos martelo”, declarou em transmissão ao vivo nas redes sociais.
A revisão da tabela do imposto de renda foi uma promessa de campanha de Bolsonaro em 2018. “Não corrigimos a tabela do Imposto de Renda em anos anteriores por causa da pandemia. A economia era incógnita, o que poderia acontecer. Não tínhamos margem”, seguiu o chefe do Executivo.
Também na cena política, Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, declarou ontem que manterá em vigor o teto de gastos “enquanto pudermos, e Congresso pode muito”. A declaração foi feita durante a Expert XP 2022.
Durante o discurso, Lira afirmou ser “absolutamente” a favor da responsabilidade fiscal e disse que, se foram feitas intervenções no teto, chamadas de “microcirurgias”, foi por necessidade. “Temos que ter sensibilidade de não deixar de olhar para os mais vulneráveis”, disse. “Teto de gastos é importante, Lei de Responsabilidade fiscal é importante”, continuou.
Tanto o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL) quanto o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já declararam a possibilidade de extinguir a âncora fiscal caso sejam eleitos no ano que vem.