Tesouro Direto: piso de prefixado recua, mas taxa segue acima dos 13,18%, com novas revisões do Focus e melhora externa
julho 18, 2022Após uma semana de forte elevação das taxas com o movimento generalizado de aversão a risco internacional, os retornos oferecidos pelos títulos públicos do Tesouro Direto operam sem direção única na manhã desta segunda-feira (18).
Juros de papéis prefixados apresentam recuo, enquanto remunerações de títulos atrelados à inflação são negociadas em estabilidade.
Parte da melhora está ligada ao fato de que os agentes financeiros voltaram a esperar que o Federal Reserve (Fed), banco central americano, eleve os juros em 75 pontos-base (0,75 ponto percentual), na reunião deste mês. Dias antes, as expectativas giravam em torno de uma alta mais dura de 1 ponto percentual.
O alívio foi impulsionado por números melhores de expectativa de inflação de longo prazo, além de declarações de membros considerados mais hawkish (inclinados ao aperto monetário) por ajustes não muito agressivos.
“Agora, membros do Fed compreenderam o custo da comunicação truncada e vem a público para defender uma elevação igual à anterior, no melhor estilo bode na sala e tirando a maior elevação do escopo”, destaca Jason Viera, economista-chefe da Infinity Asset em relatório distribuído hoje a clientes.
Enquanto isso, no Brasil, novas revisões para a alta de preços no ano que vem são destaque na cena local. Economistas consultados pelo Banco Central agora esperam que a inflação oficial termine em 5,20% em 2023, ante 5,09% na semana passada. Números que seguem acima do teto da meta, que é de 4,75%.
Expectativa maior de alta também para a Selic, que agora deve encerrar o ano que vem em 10,75%, contra 10,50% esperados uma semana antes. Os dados fazem parte do Relatório Focus, do Banco Central, divulgado hoje pela manhã.
A semana também será marcada pela decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE, na sigla em inglês), na quinta-feira (21).
No Tesouro Direto, o maior juro oferecido pelos títulos prefixados era de 13,31%, na primeira atualização do dia. Tal percentual era entregue pelo papel com vencimento em 2033 e é inferior aos 13,33% registrados por ele na sexta-feira (15).
Já entre os títulos atrelados à inflação, o retorno real mais elevado era oferecido pelo Tesouro IPCA+2055, no valor de 6,17%, mesmo percentual visto na última sessão (15).
Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na manhã desta segunda-feira (18):
Relatório Focus
O destaque da cena local está no Relatório Focus. Números divulgados hoje mostraram, mais uma vez, um recuo nas projeções para a inflação deste ano, que passaram de 7,67% para 7,54% em uma semana.
As alterações têm como pano de fundo a aprovação de projetos como a PEC dos Combustíveis, que colocaram um teto entre 17% e 18% para o ICMS cobrado sobre uma série de itens essenciais, tais como combustíveis.
Analistas, no entanto, alertam que a redução não é duradoura e que terá impacto sobre a inflação no próximo ano. Não à toa, as expectativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2023 têm passado por sucessivas revisões para cima.
Embora a inflação possa recuar neste ano, a mediana das estimativas para a Selic foi mantida em 13,75% pelos economistas.
Para o Produto Interno Bruto (PIB), as projeções de crescimento em 2022 melhoraram em 0,16 ponto percentual, passando a 1,75%, enquanto, para 2023, permaneceram em 0,50%.
PEC dos Auxílios e recesso parlamentar
Já na cena política, ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) avaliam que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Auxílios terá problemas quando passar pelo crivo da Corte, segundo fontes ouvidas pela Bloomberg.
De acordo com a apuração da agência, o principal entrave é o trecho que trata da criação do estado de emergência. O mecanismo foi incluído na PEC para driblar a legislação eleitoral.
Quando chegar a hora, os técnicos do governo que elaboraram a proposta podem acabar respondendo a um processo na corte de contas, segundo uma fonte que acompanha o assunto de perto.
Após uma semana bastante corrida, a Câmara dos Deputados inicia a partir de hoje (18) o período de recesso parlamentar, que vai até 31 de julho. Com a chegada do período eleitoral, a expectativa é que os parlamentares realizem um esforço concentrado para a votação de matérias logo na primeira semana de retorno aos trabalhos, entre 1º e 5 de agosto.
Segundo Arthur Lira (PP-AL), presidente da Casa, uma das propostas que pode ser votada pelos deputados é a que trata do rol taxativo da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) sobre as coberturas dos planos de saúde. A proposta, contudo, depende da construção de um acordo com Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado.
BCE e commodities
Já na cena externa, os mercados europeus sobem estendendo os ganhos da última sexta-feira (15) em semana marcada pela decisão de juros do Banco Central Europeu (BCE).
Destaque também para os preços do petróleo, que sobem quase 3%, por volta das 10h (horário de Brasília). Investidores ponderam o aumento dos casos de Covid-19 na China, o que pode reduzir a demanda de combustível no principal país importador de petróleo do mundo, juntamente com os problemas de oferta.
No último sábado (16), Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, disse a líderes árabes que os EUA continuarão sendo um parceiro ativo no Oriente Médio, mas não conseguiu garantir compromissos com um eixo de segurança regional que inclua Israel ou um aumento imediato da produção de petróleo.