Tesouro Direto: piso de prefixado chega a 13,38% em novo dia de estresse com risco fiscal
novembro 11, 2022A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) questionando a “tal da responsabilidade fiscal” abalou os mercados na véspera (10) e trouxe forte volatilidade aos ativos, com a disparada do dólar e o avanço expressivo do mercado futuro de juros. A sexta-feira (11) promete mais um dia de turbulência após uma sessão com várias suspensões no Tesouro Direto.
Marcelo Castro (MDB-PI), relator-geral do Orçamento de 2023, afirmou que a equipe de Lula deve apresentar o texto da PEC até esta sexta-feira para ele.
O aumento da percepção de risco fiscal faz o Brasil destoar do mercado internacional. Lá fora, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) americano de outubro veio abaixo do esperado na sessão anterior. O dado deu força para visão de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) talvez possa reduzir o ritmo de aperto monetário.
Mercados amanhecem mais positivos também com a notícia de que líderes chineses pediram que as autoridades tenham uma abordagem mais direcionada com relação à Covid-19, o que foi visto como uma flexibilização na política de Covid zero do País.
Apesar de um ambiente um pouco mais positivo no exterior, Marcelo Freller, estrategista macro da XP, acredita que o cenário local deve seguir complicado. Para ele, as taxas de juros só voltam a cair se houver uma sinalização de melhora. Ou seja: se o novo governo desfizer o plano de extrapolar o teto em R$ 175 bilhões e colocar um bom ministro na Fazenda, como Persio Arida ou Henrique Meirelles, diz.
“Vai piorar até que mude o fundamento. Eu estou torcendo para uma saída à la Inglaterra”, disse o estrategista da XP, fazendo referência a mudanças no plano fiscal que tinha sido proposto anteriormente pela equipe da ex-primeira-ministra Liz Truss e que levaram a uma grave crise no País.
No Tesouro Direto, o mercado de títulos públicos registra mais um dia de forte alta nas taxas, com avanço de até 34 pontos-base (0,34 ponto percentual). Papéis prefixados, por exemplo, ofereciam juros a partir de 13,38%, na primeira atualização do dia.
Tal retorno era entregue pelo Tesouro Prefixado 2025. Na véspera, a rentabilidade oferecida pelo papel era de 13,04%. A última vez que o título tinha oferecido taxa semelhante tinha sido no fim de julho deste ano.
Já a remuneração mais alta era oferecida pelo Tesouro Prefixado 2029, no valor de 13,53%, na primeira atualização do dia, acima dos 13,15% registrados um dia antes.
Entre os papéis atrelados à inflação, o maior retorno era de 6,30% e era entregue pelo Tesouro IPCA+2045, no mesmo horário. O percentual está maior do que os 6,15% vistos na sessão anterior.
As negociações do Tesouro IPCA+ 2055 estão suspensas desde a última quarta-feira (9). A interrupção é fruto do pagamento do cupom semestral, previsto para a próxima quarta-feira (16).
O Tesouro Direto costuma proibir a compra do título quatro dias úteis antes do pagamento de cupom de juros. Além disso, também ficará suspensa, a partir dos dois dias úteis anteriores ao pagamento do cupom, a recompra desses títulos.
Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra na manhã desta sexta-feira (11):
PEC da Transição
O relator-geral do Orçamento de 2023, senador Marcelo Castro (MDB-PI), afirmou que a equipe do presidente eleito Lula deve apresentar a ele o texto da PEC da transição até esta sexta. O parlamentar participou de uma reunião na residência oficial do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que também contou com a presença do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin e líderes partidários.
De acordo com Castro, após negociar os detalhes da PEC com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a equipe da transição deve apresentar o texto a ele por telefone. O senador afirmou que, depois de tomar conhecimento da proposta, vai articular a tramitação com os líderes partidários para que haja consenso. Segundo ele, contudo, isso só deve ocorrer a partir da próxima quarta-feira, 16, após o feriado.
A equipe do governo de transição trabalha com a ideia de retirar do teto de gastos um montante de 2% de receitas extraordinárias, de acordo com Castro. A medida seria incluída na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) negociada para viabilizar as promessas de campanha do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
“Há uma ideia também, é preciso que a gente veja o texto como é que vem, de excepcionalizar uma receita de 2% de receitas extraordinárias, por exemplo, um bônus de assinatura do petróleo, que são receitas que não são correntes, que não são receitas ordinárias. Isso poderia entrar, mas não é um valor muito expressivo diante do problema que nós temos”, declarou o senador a jornalistas, após sair da reunião na residência oficial do presidente do Senado.
De acordo com Castro, o montante de 2% de receitas extraordinárias seria retirado do teto de forma permanente. “Por exemplo, se houver uma receita extraordinária, que não são das receitas que estão previstas, o governo federal vai poder gastar 2% da receita corrente líquida até esse valor do crédito extraordinário”, explicou o senador.
A equipe de transição também quer retirar todo o Bolsa Família do teto de forma permanente, “para sempre”.
Lula comenta abalo do mercado
Após reação negativa de investidores ao seu discurso pela manhã, o presidente eleito Lula disse ontem (10) que não há razão para o mercado “ficar nervoso” e que não viu comportamento semelhante ao longo dos quatro anos de governo Jair Bolsonaro (PL).
“O mercado fica nervoso à toa, nunca vi um mercado tão sensível quanto o nosso. Engraçado que esse mercado não ficou nervoso com quatro anos do Bolsonaro”, disse a jornalistas ao deixar as instalações do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília. O Ibovespa encerrou ontem em queda de 3,35%, a 109.775 pontos.
China
Já na cena externa, os mercados asiáticos fecharam em alta, com destaque para Hang Seng, de Hong Kong, que subiu mais de 7%, com a mídia estatal chinesa informando que medidas de Covid para viagens serão facilitadas.
A flexibilização da política Covid Zero na China foi tratada pelos líderes chineses, que pediram às autoridades do País que tenham uma abordagem mais direcionada. Pequim cortou para cinco dias o tempo necessário de quarentena para viajantes e contatos próximos.