Tesouro Direto: maior parte dos títulos prefixados volta a oferecer juros a partir de 12% ao ano
setembro 14, 2022Depois de um pregão turbulento na terça-feira (13), em que as negociações chegaram a ser suspensas devido ao sobe e desce dos preços e taxas, os retornos oferecidos por títulos públicos do Tesouro Direto seguem em alta na manhã desta quarta-feira (14).
A maior parte dos papéis prefixados voltou a oferecer remuneração acima do patamar de 12% ao ano, algo que não se via desde o começo de setembro.
Para além do mercado de juros, agentes financeiros aproveitam o momento para recalibrar as expectativas e ajustar posições após a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês), que avançou 8,3% em agosto na base anual e 0,1% na comparação mensal – ambos os números acima do esperado pelo mercado.
A apresentação do dado, na terça, reforçou a visão de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) deve adotar uma postura mais agressiva na condução da política monetária. Mudou, inclusive, a percepção de parte do mercado sobre o tamanho do próximo ajuste.
A possibilidade de uma elevação maior dos juros americanos no próximo encontro do Fed, de 1 ponto percentual, entrou no radar, embora a aposta de 0,75 ponto siga sendo majoritária entre os agentes financeiros. Anteriormente, as expectativas estavam concentradas em uma alta de 0,50 ou de 0,75 ponto percentual.
Novos dados de inflação dos preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) nos Estados Unidos e do consumidor (CPI, na sigla em inglês) no Reino Unido também estão no foco do mercado na sessão de hoje.
A agenda de indicadores reserva ainda a apresentação do volume de vendas no varejo brasileiro, que recuou 0,8% em julho na comparação mensal, abaixo do esperado.
No Tesouro Direto, o maior juro era oferecido pelo Tesouro Prefixado 2033, de 12,03% ao ano às 9h30, acima dos 11,95% ao ano vistos na véspera. No mesmo horário, o retorno entregue pelo papel com vencimento em 2025 era de 12,01% ao ano, superior aos 11,98% ao ano registrados ontem.
Papéis atrelados à inflação também tinham avanço nas remunerações reais, com destaque para o juro entregue pelo Tesouro IPCA+ 2055, de 5,97% ao ano, contra 5,95% ao ano vistos um dia antes.
Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na manhã desta quarta-feira (14):
Inflação e commodities
Após a divulgação do CPI americano, a sessão desta quarta-feira (14) é voltada para a apresentação do índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos. Conforme informou o Departamento do Trabalho, o indicador recuou 0,1% em agosto na comparação mensal, com ajustes sazonais. Já em relação a agosto de 2021, o índice subiu 8,7%.
O resultado veio em linha com o esperado pelo mercado, pois o consenso Refinitiv projetava uma deflação de 0,1% no mês e uma alta de 8,8% na comparação anual.
Dados de inflação no Reino Unido também são destaque. Hoje, o Escritório de Estatísticas Nacionais (ONS, na sigla em inglês) anunciou que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) estava 9,9% mais alto em agosto do que no ano anterior, ante os 10,1% vistos em julho, o que representa uma desaceleração.
Especialistas ouvidos pelo Wall Street Journal previam o avanço de 9,9%. Com relação ao mês anterior, os preços subiram 0,5%, abaixo da previsão de analistas de 0,6%. O núcleo do CPI – que exclui itens mais voláteis – avançou 6,3% na comparação anual, dentro da expectativa dos analistas.
Foco também nos preços de algumas commodities. Em relatório apresentado nesta quarta-feira (14), a Agência Internacional de Energia (AIE) disse que a queda na demanda por petróleo na China está se sobrepondo ao robusto consumo em outras partes do mundo e que isso irá restringir o avanço geral da busca pela commodity este ano.
O gigante asiático tem sido afetado por uma série de lockdowns em diversas cidades para conter a propagação da Covid-19 no País.
Diante disso, a AIE cortou sua projeção para a demanda chinesa por petróleo este ano em 400 mil barris por dia (bpd), a 15 milhões de bpd, 420 mil bpd a menos do que em 2021. Para 2023, a agência reduziu a previsão para o consumo chinês em 300 mil bpd, a 16 milhões de bpd.
Varejo
Após a divulgação dos números do setor de serviços na véspera (13), o dia é marcado pela apresentação do volume de vendas no varejo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas no setor tiveram o terceiro mês seguido de taxa negativa.
No acumulado do ano, o varejo sobe 0,4%. Já nos últimos 12 meses, o volume de vendas no setor acumula queda de 1,8%. Na comparação com julho de 2021, o recuo foi de 5,2%.
O resultado ficou abaixo do esperado, uma vez que o mercado projetava alta de 0,30% na base mensal e queda de 3,5% na anual, segundo a Refinitiv.
No comércio varejista ampliado, que inclui as atividades de veículos, motos, partes e peças e de material de construção, o volume de vendas em julho caiu 0,7% frente a junho e 6,8% contra julho de 2021.
“O setor repete a trajetória que vem acontecendo desde março de 2020, com alta volatilidade. O mês de abril foi o último com crescimento”, explica Cristiano Santos, gerente da pesquisa. “Desde então, maio, junho e julho acumulam recuo de 2,7%. Por conta desses resultados, o setor se encontra praticamente do mesmo nível do período pré-pandemia, em fevereiro de 2020, com variação de 0,5%. Esse patamar já esteve muito mais alto. Em julho de 2021, apresentou 5,3% acima de fevereiro de 2020”, relembra.
Os números do varejo encerraram hoje a divulgação de dados de atividade econômica no Brasil em julho. Segundo o IBGE, a atividade de serviços cresceu 1,1% em julho na comparação mensal, número que ficou acima do esperado pelo mercado.
Por outro lado, a produção industrial caiu 1,3% em julho e frustrou expectativas de analistas. Amanhã (15), será divulgado o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central também referente ao mês de julho.
Consignado
Já na cena política, divergências sobre a fixação de um teto de juros retardam a regulamentação da operação de empréstimo consignado aos beneficiários do programa Auxílio Brasil, segundo reportagem do jornal O Estado de S.Paulo.
O assunto tem sido tema de reuniões diárias no Ministério da Cidadania. Entre os técnicos, a avaliação é de que o consignado voltado para uma população tão vulnerável precisa de uma limitação dos juros cobrados pelos bancos. A defesa dos técnicos é de que o limite dos juros seja fixado pelo menos igual ao do INSS, de 2,14%. O ministro da Cidadania, Ronaldo Vieira Bento, defende internamente a fixação de um teto de juros.
A criação de um consignado com garantia do Auxílio Brasil é uma medida polêmica, considerada pelos especialistas da área social uma estímulo ao endividamento de pessoas que já vivem em condições de alta vulnerabilidade e insegurança alimentar.
Representantes de entidades jurídicas, de defesa do consumidor e personalidades de diversos setores chegaram a assinar uma nota “Em Defesa da Integridade Econômica da População de Vulneráveis” pedindo o adiamento do consignado.