Tesouro Direto: juros de títulos de inflação mantêm alta; mercado foca na queda de braço entre governo e BC e aguarda arcabouço fiscal

Tesouro Direto: juros de títulos de inflação mantêm alta; mercado foca na queda de braço entre governo e BC e aguarda arcabouço fiscal

março 3, 2023 Off Por JJ

O último dia da semana é marcado pelas duras críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) às taxas de juros e ao Banco Central, e também à Petrobras. Essa “queda de braço” entre governo e o BC vem se arrastando e mexe com o humor do mercado. “O comportamento dos juros mostra o descasamento entre a política fiscal e a política monetária. E muito desse descasamento foi reverberado na última fala do presidente Lula, contra a política monetária do presidente do BC, Roberto Campos”, diz Ricardo Aragon, sócio-fundador e diretor de produtos e estratégia da Matriz Capital.

Quando há esse ruído político e fiscal, as taxas de juros tendem a estressar, cada uma nos seus mais variados vértices, diz o especialista. “O mercado espera ainda por esse tão falado arcabouço fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Enquanto isso não for divulgado, o que pode acontecer na semana que vem, os juros futuros continuarão subindo”, detalha Aragon.

Segundo o jornal Valor Econômico, o texto deve prever que as receitas fiscais sejam corrigidas pelo Produto Interno Bruto (PIB) integral, enquanto as despesas aumentariam conforme o PIB per capita.

Ontem (2), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a petroleira deveria ter investido os dividendos no crescimento econômico do país. A companhia obteve lucro recorde e dobrou o pagamento de proventos aos acionistas. O novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, endossou o coro e defendeu a “flexibilização” da distribuição de dividendos.

No Tesouro Direto, os juros oferecidos por títulos públicos registravam comportamento misto às 15h33. Os retornos dos prefixados apresentavam queda. O destaque era o Prefixado 2029, com juros de 13,61%, abaixo dos 13,64% vistos nesta quinta-feira (2).

Os papéis atrelados à inflação voltaram a oferecer retornos recorde. É o caso do Tesouro IPCA+2045, que entregava uma taxa real de 6,57%, acima dos 6,55% da sessão anterior. Na primeira atualização do dia, esse ativo entregava uma taxa real de 6,58%. Tal percentual é o maior já oferecido por esse papel, que começou a ser negociado em 2017.

Para Ricardo Aragon, o cenário acaba dando origem a algumas oportunidades para o investidor que quer priorizar o Tesouro. “O Tesouro prefixado está pagando 13,28% no vértice de 2029. O investidor pode travar a taxa. Os juros do Brasil têm alta volatilidade. Por que não aproveitar esse momento?” Outra oportunidade, afirma, é a NTN-B 2045, com 6,58%.

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Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta sexta-feira (3): 

 

Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Novas críticas ao nível da Selic

Ontem (2), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez novas críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o atual patamar da taxa básica de juros (a Selic), mantida a 13,75% ao ano.

Em entrevista à rede BandNews, o chefe do Executivo retomou a tese de que o país não tem inflação de demanda que justifique o afrouxamento e fez novas referências a Campos Neto.

“Qual é a explicação de você ter juros de 13,75% em um país em que a economia não está crescendo?”, questionou. “Saiu o PIB do último trimestre negativo. Ou seja, a economia brasileira não cresceu no ano passado. Apesar da fanfarrice do [Paulo] Guedes, não cresceu. Você tem uma economia que não está crescendo, um desemprego e empregos informais em que o trabalhador está ganhando pessimamente mal, porque a massa salarial caiu muito. O crédito está escasseando, logo logo nós poderemos ter uma crise de crédito, e eu queria uma explicação apenas de por que os juros estão a 13,75%”.

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Ao se referir a Campos Neto, ele disse que é um “cidadão, que não foi eleito para nada” e que “acha que tem o poder de decidir as coisas” e ajudar o País. “Não, você não tem que pensar como ajudar o Brasil, tem que pensar como reduzir a taxa de juros”, comentou. “Ele tem que estar preocupado com inflação, emprego e crescimento da economia”, pontuou o presidente. Apesar dos ataques, Lula disse que não tem interesse em brigar com o presidente do Banco Central.

Discursos do Fed

Um dos destaques da agenda externa está nos novos discursos de dirigentes da autoridade monetária americana. Na véspera (2), o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, disse que o banco central americano pode manter o aumento da taxa de juros em 0,25 ponto percentual, em vez de elevar o juro em 0,5 ponto, conforme defendem algumas autoridades.

Bostic disse ser a favor de um curso de ação “lento e constante” para o Fed, já que o efeito das taxas de juros mais altas só deve ser sentido com maior força na primavera americana.

Também na véspera (2), o governador do Fed, Christopher J. Waller, adotou um tom mais duro em seus comentários, levantando a possibilidade de uma taxa terminal mais alta se os números de inflação não esfriarem.

Os investidores ouvirão mais comentários de dirigentes do Fed nesta sexta, incluindo os da governadora do Fed, Michelle Bowman, e o do presidente do Fed de Richmond, Thomas Barkin.

Pente fino no Bolsa-Família

Segundo o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, 1.479.915 de famílias não receberão o Bolsa Família em março e outras 694.245 serão incluídas no programa. Com isso, a economia líquida do governo no mês após o início do pente-fino nos benefícios chegará a R$ 471,402 milhões. Ele disse que, caso se essa economia seja  mantida ao longo do ano, será possível poupar R$ 4,7 bilhões nos próximos 10 meses. O governo deve desembolsar R$ 14 bilhões no mês com o programa assistencial.

Inflação EUA

O processo de redução da inflação de volta à meta de 2% deve demandar um período de crescimento econômico abaixo da tendência histórica e enfraquecimento do mercado de trabalho americano. A conclusão consta em relatório do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que será apresentado ao Congresso dos Estados Unidos na semana que vem e que foi divulgado nesta sexta-feira (3).

Para o Fed, apesar de progressos recentes, a inflação nos país permanece alta e justifica mais aumentos de juros.

O documento reitera o posicionamento oficial de que uma política “suficientemente restritiva” será necessária para assegurar a estabilidade de preços. “O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) está fortemente empenhado em retornar a inflação ao seu objetivo de 2%”, reforça.

PMI Global  e dos EUA

No cenário externo, o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) global de serviços subiu de 50,1 em janeiro para 52,6 em fevereiro, informaram nesta sexta-feira (3) a S&P Global e o JP Morgan. Já o PMI composto global, que inclui serviços e indústria, avançou de 49,7 para 52,1 no mesmo período.

Segundo o relatório, foram registradas expansões na maioria das nações, lideradas por crescimento robusto na Índia. As exceções são para o Brasil e o Cazaquistão, que tiveram contração. “China e Japão também tiveram aumentos sólidos e os EUA voltou à expansão (ainda que fraca) após sete meses seguidos de queda.”

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O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto dos EUA, que engloba os setores industrial e de serviços, subiu de 46,8 em janeiro para 50,1 em fevereiro, segundo dados finais divulgados nesta sexta-feira (3) pela S&P Global.

O PMI de serviços também subiu, de 46,8 em janeiro para 50,6 em fevereiro, contrariando as expectativas de analistas consultados pelo The Wall Street Journal, que previam PMI menor, de 50,5, assim como a estimativa preliminar.

Todos os dados estão acima de 50, o que indica expansão da atividade.