Tesouro Direto: com juros de até 11,40% ao ano nos prefixados, títulos públicos operam sem direção única

Agentes financeiros estão focados nesta terça-feira (25) no exterior. Investidores acompanham as tensões entre Rússia e Ucrânia e aguardam as definições da reunião do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), que começa hoje e termina na quarta-feira (26).

O encontro será importante porque pode sinalizar quando o Federal Reserve (Fed), banco central americano, deve começar a elevar os juros. A expectativa de boa parte dos analistas é de que isso ocorra já em março e que a autoridade monetária dê também alguma pista sobre a redução do balanço patrimonial do banco, o que pode ajudar a retirar ainda mais dinheiro da economia dos Estados Unidos.

No Brasil, o mercado monitora ainda as discussões e impactos em torno da mobilização de servidores federais em defesa de reajustes salariais. As paralisações devem ganhar ainda mais força, após o presidente Jair Bolsonaro (PL) ter sancionado o reajuste de R$ 1,7 bilhão para o funcionamento público no Orçamento deste ano. O texto, porém, não especifica as categorias às quais o recurso vai ser destinado. Investidores seguem atentos também à PEC dos combustíveis que pode trazer novas ameaças fiscais ao País e a revisões de projeções de crescimento para o Brasil neste ano.

À espera da decisão do Fed, o mercado de títulos públicos negociados no Tesouro Direto opera com movimento misto durante a tarde. Papéis prefixados recuam, enquanto os títulos atrelados à inflação registram estabilidade nas taxas.

Pela terceira sessão seguida, o retorno oferecido pelo Tesouro Prefixado 2031 é maior do que os juros pagos pelo papel com vencimento em 2024.

Na última atualização do dia, o papel prefixado com vencimento em 2031 e juros semestrais oferecia retorno de 11,40%, abaixo dos 11,43% ao ano vistos durante a manhã e dos 11,42% da sessão anterior. No mesmo horário, o Tesouro Prefixado 2024 apresentava uma taxa de 11,25% ao ano, frente aos 11,29% vistos um dia antes. O valor também é inferior aos 11,30% do início do dia.

Da mesma forma, entre os papéis atrelados à inflação, os juros pagos pelo Tesouro IPCA+ 2040 e 2055 com pagamento de cupom eram de 5,60% e de 5,64%, respectivamente, às 15h20. Ambos os percentuais estão em linha com os 5,61% e 5,65%, nessa ordem, registrados ontem.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto que eram oferecidos na tarde desta terça-feira (25): 

Radar externo

Na cena internacional, investidores seguem atentos à volatilidade nos mercados americanos e à continuidade da tensão geopolítica na fronteira da Ucrânia, onde o governo da Rússia continua a mobilizar cerca de 100 mil soldados.

Os preços do barril de petróleo continuam a avançar influenciados pela perspectiva de invasão da Ucrânia pela Rússia, mesmo com conversas entre autoridades de alto escalão. Ontem (25), Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, falou com líderes europeus. O país considera enviar quadros e equipamentos militares à região.

Também na véspera, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) anunciou que alguns países membros estão mantendo suas forças em alerta e enviando forças para a Europa oriental. Reino Unido e Estados Unidos determinaram que diplomatas e seus familiares deixem a Ucrânia.

Além disso, ontem rebeldes houthi do Iêmen tentaram um novo ataque com mísseis a Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, mas falharam. A tensão na região também vem contribuindo para altas dos preços do petróleo desde um ataque fatal feito pelo mesmo grupo na semana passada.

Arrecadação federal, Tesouro Direto e menor PIB

Dentro da agenda econômica, a Receita Federal divulgou hoje que a arrecadação de impostos, contribuições e demais receitas federais chegou a R$ 1,878 trilhão em 2021. Esse foi o maior volume desde o início da série histórica iniciada em 1995. O montante representa um crescimento real – já descontada a inflação – de 17,36% na comparação com os R$ 1,479 trilhão de 2020.

O resultado das receitas em 2021 veio dentro do intervalo de expectativas das instituições ouvidas pelo Broadcast Projeções, que ia de R$ 1,855 trilhão a R$ 1,915 trilhão, com a maior parte prevendo R$ 1,877 trilhão.

O valor de R$ 193,902 bilhões arrecadado em dezembro também foi o maior para o mês na série histórica da Receita Federal. Os números também vieram dentro da mediana de  estimativas coletada pelo Broadcast Projeções, que era de R$ 192,000 bilhões.

Também na agenda econômica, as captações líquidas do Tesouro Direto fecharam dezembro de 2021 em R$ 1,791 bilhão. As vendas de títulos atingiram R$ 3,293 bilhões, e os resgates totalizaram R$ 1,687 bilhão, sendo R$ 1,502 bilhão relativos a recompras.

Os títulos mais procurados pelos investidores foram aqueles atrelados à taxa básica de juros, como o Tesouro Selic, que corresponderam a 57,6% do total no mês passado.

Outro tema que voltou a chamar atenção durante a tarde foi a mudança nas projeções de crescimento econômico do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o Brasil neste ano. Hoje, a instituição reduziu a projeção de expansão econômica do País de 1,5% para 0,3% neste ano, o crescimento mais baixo em um grupo de 26 países.

Para 2023, o FMI também diminuiu a previsão realizada em outubro para o Brasil, de 2,0% para 1,6%, o que é o segundo desempenho mais baixo nesse conjunto, atrás apenas da alta de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) da África do Sul.

Mobilização de servidores

Na cena política, agentes financeiros acompanham os efeitos das mobilizações do funcionalismo público em defesa de reajustes salariais neste ano.

Reportagem do UOL mostra que a operação padrão (execução de tarefas com rigor excessivo, de forma a reduzir o fluxo de trabalho) de auditores da Receita Federal iniciada no mês passado já afeta a exportação de ao menos três classes de produtos: combustíveis, alimentos e bebidas e máquinas industriais.

Segundo as associações, a maior demora na liberação de mercadorias nas alfândegas está elevando o custo de armazenagem, o que pode levar a alta de preços para o consumidor final.

A Lei Orçamentária Anual (LOA), publicada no Diário Oficial da União (DOU) de ontem (24), estipulou reajuste de R$ 1,7 bilhão para servidores públicos, mas não especificou para quais categorias os recursos serão destinados.

De acordo com o jornal Valor Econômico, auxiliares do presidente sugeriram que ele mantivesse a verba no Orçamento, mas deixasse em aberto quais categorias serão contempladas. A ideia é determinar esse ponto quando a pressão diminuir.

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