Tesouro Direto: após ata do Copom que ensaia “trégua”, juros de prefixados recuam para até 13,29%
fevereiro 7, 2023Os próximos passos da política monetária e os questionamentos sobre mudanças nas metas de inflação e críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Banco Central estão no centro das atenções desta terça-feira (7).
Após a polêmica, a apresentação hoje da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, trouxe uma postura firme da autoridade de preocupação com a deterioração das expectativas de inflação de prazos mais longos e justificativas.
Para citar alguns exemplos, a autoridade monetária destacou uma possível percepção de leniência do BC com as metas estipuladas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), até uma política fiscal expansionista, que pressionaria a demanda agregada ao longo do horizonte de projeções, ou a possibilidade de alteração das metas de inflação ora definidas.
Pelas redes sociais, o ex-diretor do Banco Central Tony Volpon afirmou que a ata foi “correta” e “didática”, ao dizer que o presidente Lula pediu explicações e que o documento buscou entregá-las.
Volpon também destacou que a ata representou um esforço de comunicação para evitar a perigosa crise que “parecia que estávamos contratando” e o “hasteamento de uma bandeira branca pelo BC”, ao admitir que a possível aprovação do pacote de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, vai reduzir o risco de alta da inflação e as projeções do BC são baseadas em medidas aprovadas por lei.
Falas de Jerome Powell, presidente dos Estados Unidos, durante evento nos EUA também serão acompanhadas de perto hoje após dados de emprego no País terem reduzido apostas de corte de juros ainda neste ano.
No Tesouro Direto, o mercado de títulos públicos opera com queda mais expressiva nas taxas nesta manhã, de até 20 pontos-base (0,20 ponto percentual), caso do Tesouro Prefixado 2033, em que a remuneração recuava de 13,39% para 13,19% ao ano, às 9h30.
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Após bater os 13,48% ao ano na véspera, o papel prefixado com vencimento em 2029 oferecia um retorno de 13,29%, na primeira atualização do dia.
No caso de papéis atrelados à inflação, o juro real máximo era de 6,39% ao ano, valor que era pago pelo Tesouro IPCA+ 2045. Na sessão anterior, o percentual oferecido pelo título era de 6,50%.
Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na manhã desta terça-feira (7):
Ata do Copom
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As atenções na cena local estão voltadas para a ata do Copom. De acordo com o documento, a conjuntura particularmente incerta no âmbito fiscal, com expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária.
“O Comitê avalia que tal conjuntura eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo CMN. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas”, afirma.
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Os diretores do BC explicaram na ata da reunião que, para atingir as metas estabelecidas, uma vez observada a desancoragem das expectativas, é necessário se manter ainda mais atento na condução da política monetária e assim reduzir o custo futuro da desinflação.
Na avaliação de Caio Megale, economista-chefe da XP, o Comitê trouxe uma mensagem final hawkish (inclinada ao aperto monetário) e clara de que o Copom irá “atuar para garantir que a inflação convirja para as metas”.
Para o economista, o documento sugeriu ainda que os riscos de inflação estão assimétricos para cima e, portanto, o Copom vê pouco espaço (se houver) para flexibilizar a política monetária até o início do ano que vem. “A ata é consistente com nosso cenário de taxa Selic estável pelo menos até o fim de 2023”, completa.
Mais do que as preocupações com a inflação, o documento representou um aceno de trégua, segundo análise feita por Roberto Lira, para o InfoMoney. No parágrafo 16 da Ata, o BC comenta explicitamente que o pacote fiscal anunciado no mês passado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pode ter um efeito benigno para as expectativas de inflação, ressalta o jornalista.
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A comunicação da ata veio um tom abaixo do comunicado pós-decisão do Copom, que deu ênfase no balanço de riscos à “elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais adicionais que impliquem sustentação da demanda agregada, parcialmente incorporados nas expectativas de inflação e nos preços de ativos”.
O recado duro foi mal recebido tanto pelo presidente Lula como pela equipe de Haddad. Lula aumentou as críticas à política monetária. Havia um temor no mercado de que as tentativas de diálogo entre os formuladores das políticas fiscal e monetária tinham voltado à estaca zero.
Na véspera, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a mencionar certo descontentamento e que esperava ‘tom mais generoso’ do comunicado do Copom diante das medidas anunciadas pelo governo. Além disso, disse que estava em conversas com Campos Neto e levando nomes para as diretorias do BC para Lula, de quem é a prerrogativa da escolha.
Nesta terça-feira, Roberto Campos Neto, presidente do BC, profere palestra no evento 2023 Milken South Florida Dialogues, em Miami, Estados Unidos. Já Lula tem café da manhã com a mídia independente e alternativa, como consta em sua agenda. As falas de ambos serão monitoradas de perto pelos investidores em meio ao aumento da tensão entre governo e BC.
Discurso de Powell
Já na cena externa, a participação de Powell em evento do The Economic Club of Washington deve oferecer maior clareza sobre o rumo das taxas de juros no país, ou esclarecer alguns comentários feitos após o aumento de 25 pontos-base (0,25 ponto percentual) na semana passada.
O discurso de Powell está previsto para às 14h40 (horário de Brasília) e é aguardado com muita expectativa, após o surpreendente payroll (relatório de emprego) de janeiro, reduzir as apostas de corte do juro ainda em 2023.
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