Selic abaixo de 2,25% ao ano e retração de 9% no PIB: as previsões da Legacy para 2020
maio 22, 2020Que o dólar tem sido uma aposta mais fácil para ganhar dinheiro no Brasil, isso não é novidade para ninguém – de cada dez gestores que conversamos, ao menos nove estão comprados em dólar ou já fizeram esse trade nos últimos dias.
Agora, que bolsa e dólar, juntos, são a melhor combinação para ganhar dinheiro em Brasil, isso não é tão consensual assim — mas é a tese que Felipe Guerra, sócio e fundador da Legacy Capital defendeu no Coffee Stocks desta sexta-feira.
Guerra e a Legacy carregavam posições otimistas em Brasil, mas após a pandemia do coronavírus adotaram postura de mais cautela. Um dos fatores que sustentam a posição comprada em bolsa e dólar é a possibilidade do Banco Central não conseguir parar de cortar a taxa Selic.
Os motivos que o fazem acreditar nessa possibilidade são: baixíssimo crescimento econômico por conta da recessão e depressão financeira por conta de um patamar de juro que deve continuar baixo por muito tempo.
Abaixo, um resumo dos principais trechos da conversa. A entrevista completa, em vídeo, está abaixo:
Cautela com Brasil
Estamos muito mais cautelosos com Brasil pois o país gasta mais do que arrecada. Pelas nossas contas vamos sofrer uma contração de PIB de 9% esse ano e com viés de ser pior do que isso. O déficit primário que pelas nossas contas seria de 2,5% antes da crise, agora deve vir pior do que 10%. A discussão das próximas semanas será se os auxílios emergenciais para o enfrentamento da crise serão permanentes e a verdade é que alguns deverão ser. Ou seja, em nossa visão o déficit primário do ano que vem será muito pior dos 2,5% que o mercado está projetando para o ano que vem.
Além disso, o Brasil conseguiu juntar uma crise de saúde a crise econômica calcada na questão fiscal e misturada com uma crise política. Se o país enfrentava dificuldade de crescimento antes da crise, quando todos estávamos eufóricos, daqui pra frente deve ser ainda pior.
As duas grandes convicções da Legacy para o Brasil
A primeira é que o Brasil vai crescer muito pouco nos próximos anos e a segunda é que o baixo crescimento somada a uma inflação tremendamente baixa fará com que o país entre em uma depressão financeira.
O Brasil vai crescer pouco e a inflação deve ser persistentemente baixa desde que a lei do Teto dos Gastos Públicos seja mantida. Teremos uma série de pautas estoura teto, então esse é a assunto mais importante para o Brasil hoje. Se a lei se fizer valer e o Teto se mantiver, que é o que nós acreditamos que aconteça, a expectativa de inflação continuará ancorada. Com a expectativa de inflação ancorada, trabalharemos com um país com dificuldades de crescimento e juro baixo por muito tempo.
O juro baixo por mais tempo levará a uma depressão financeira. Acredito que o BC terá dificuldades de parar nos 2,25% ao ano que ele está sinalizando. Nas próximas reuniões, teremos dados tão ruins de economia, com um desemprego tão alto e inflação tão baixa que ele deverá continuar cortando [a Selic].
Trabalhamos com uma inflação de 2,7% para o ano que vem que é bem abaixo da meta do BC [3,75% em 2021] e já temos visto alguns sinais do próprio BC de que 2,25% não deve ser o piso. Com juro mais baixo, entraremos em uma depressão financeira.
A combinação dólar e bolsa e as posições da Legacy
Em uma depressão financeira que será capitaneada pelo juro baixo, as pessoas vão buscar ativos reais como alternativas de investimento que rendam acima de 2% ao ano. A bolsa possui ativos reais e o dólar é um ativo real. Quando as pessoas estiverem mais otimistas vão comprar bolsa e quando estiverem mais pessimista vão comprar dólar. Eu acredito que a combinação de bolsa e dólar no portfólio vai dar muito certo.
Isso não significa que você deve navegar no Brasil de peito aberto. É uma economia burocrática, pouco produtiva e que vai encontrar dificuldades de crescimento. É preciso encontrar um portfólio equilibrado e até por isso que nossa posição em bolsa internacional é um pouco maior do que brasileira. Nós financiamos a compra da bolsa brasileira com um short na bolsa mexicana.