Saída inesperada de Caffarelli da presidência da Cielo é negativa em meio aos já grandes desafios da companhia
maio 20, 2021SÃO PAULO – Uma notícia inesperada e que mostra mais um desafio para a Cielo (CIEL3) em meio a um ambiente já bastante complexo para a companhia de maquininhas.
O conselho de administração da empresa aprovou na última quarta-feira (19) o pedido de renúncia do diretor-presidente da companhia Paulo Rogério Caffarelli. Na mesma reunião, o colegiado elegeu para o posto, por unanimidade, Gustavo Henrique Santos de Sousa, que hoje ocupa os cargos de Diretor sem Designação Específica (vice-presidente de Finanças) e de Diretor de Relações com Investidores.
O atual CEO segue na Cielo até 31 de maio para coordenar uma transição. Inicialmente, Sousa complementará o mandato de dois anos até a reunião do conselho da Cielo sobre o balanço de 2021.
Caffarelli chegou à Cielo no final de outubro de 2018, após deixar o comando do Banco do Brasil (BBAS3) com o objetivo de mudar a estratégia da empresa líder em pagamentos no Brasil, passando a se concentrar mais nos lucrativos mercados de pequenas e médias empresas, processo hoje em andamento.
No entanto, a empresa seguiu perdendo participação num mercado que antes dominava com a Rede, após uma abertura promovida pelo Banco Central ter incentivado a aparição de mais de 20 adquirentes e duas centenas de subadquirentes no Brasil.
Desde então, a Cielo perdeu dois terços de seu valor de mercado, para cerca de R$ 10,6 bilhões, valendo pouco mais de um décimo de sua rival menor Stone. No mês passado, a Cielo reportou lucro recorrente de R$ 135,8 milhões no primeiro trimestre, queda de 18,6% ante mesma etapa do ano anterior.
A troca no comando da Cielo ocorre também em meio a sucessivos rumores de que os sócios controladores Bradesco (BBDC4) e Banco do Brasil negociavam deslistar a companhia ou vender uma participação no negócio, o que foi sempre negado pelos bancos. A mudança também vem enquanto a GetNet, controlada pelo Santander Brasil (SANB11), planeja listagem na B3 e na Nasdaq, enquanto a Caixa Econômica Federal indica que pretende também fazer uma oferta inicial de ações de sua unidade de pagamentos.
Na avaliação do Itaú BBA, a notícia da saída do CEO é ligeiramente negativa, destacando que Caffarelli liderou mudanças importantes na empresa, incluindo o foco estratégico no desenvolvimento de uma plataforma de distribuição e produtos.
Além disso, a Cielo enfrenta atualmente enormes desafios operacionais, com o setor de pagamento passando por mudanças disruptivas impulsionadas pela intensificação da competição em produtos de aquisição tradicionais e pela implementação de novas iniciativas regulatórias e tecnológicas (por exemplo, avanço do PIX, WhatsApp Pay, etc.). Por fim, concorrentes como PagSeguro, Stone e Mercado Pago, entre outros, estão ampliando sua oferta de produtos, principalmente em produtos bancários, de crédito e de software.
“Acreditamos que a renúncia de Caffarelli representa um desafio a mais no contexto dinâmico e competitivo que a Cielo está enfrentando e deve se somar às incertezas do mercado quanto à capacidade da empresa de se reinventar em um cenário extremamente adverso”, avaliam os analistas do BBA.
O Credit Suisse também aponta que a notícia foi inesperada e é negativa para o processo de recuperação em andamento. No entanto, a transição deve ser suave, avaliando ainda que Sousa é um nome experiente para comandar a companhia.
De acordo com compilação feita pela Refinitiv com analistas que cobrem o papel, duas casas possuem recomendação de compra, enquanto nove têm recomendação neutra e três têm recomendação de venda. O preço-alvo médio é de R$ 4,45, um potencial de alta de 14% em relação ao fechamento da véspera.
Cabe destacar que, nesta semana e antes da renúncia do CEO, o Bradesco BBI já havia cortado o preço-alvo para Cielo de R$ 5 para R$ 3,90 (ou estabilidade em relação ao fechamento de quarta-feira), e mantendo recomendação neutra, vendo um cenário difícil de ganhos de curto prazo.
Os analistas apontaram que, após um primeiro trimestre desafiador, não esperavam recuperação no curto prazo, com:
(i) a Cielo ainda enfrentando pressão competitiva no segmento de varejo; (ii) volumes de cartões com maior participação
de transações de débito – em grande parte devido à recuperação mais lenta do que o previsto da economia e bloqueios
parciais vistos ao longo de março / abril – acabando por reduzir as taxas médias de take away (tanto na Cielo Brasil
quanto na Cateno); e (iii) pressão de custos na Cateno, impactada por perdas operacionais, que os analistas esperavam que se normalizassem mais adiante. Assim, a estimativa é de que a Cielo entregue um lucro líquido recorrente de R$ 694 milhões em 2021 e de R$ 850 milhões em 2022, em grande parte em linha com o consenso para o próximo ano e, portanto, apontando para revisões limitadas de ganhos, na avaliação dos analistas.
Para eles, potenciais desinvestimentos de suas subsidiárias não lucrativas, ou seja, Cielo USA e MerchantE, poderiam ser um catalisador positivo para as ações.
(com Reuters e Agência Estado)
Stock Pickers lança curso online e gratuito que ensina a identificar ativos com ótimo potencial de valorização. Inscreva-se.