Quem é Kamala Harris e o que defende a candidata a vice-presidente dos Estados Unidos
setembro 26, 2020Nome completo: | Kamala Devi Harris |
Ocupação: | Política e advogada |
Local de nascimento: | Oakland, California, Estados Unidos |
Data de nascimento: | 20 de outubro de 1964 |
Quem é Kamala Harris
Kamala Devi Harris é uma mulher acostumada com o pioneirismo. Filha de mãe indiana e pai jamaicano, Kamala foi a primeira negra procuradora na história do estado da Califórnia. Em 2010, mais um feito inédito: Kamala se tornou a primeira mulher a ser eleita para a Procuradoria-Geral da Califórnia.
Em 2016, foi eleita para o Senado norte americano, tornando-se a primeira mulher com ascendência asiática – e segunda negra – a se tornar senadora nos 240 anos da história da democracia americana.
Em 2019, em busca de mais um pioneirismo, ela disputou as primárias do partido democrata com a intenção de ser a candidata do partido para as eleições presidenciais de 2020. Depois de um começo de campanha forte, acabou desistindo da candidatura em dezembro do mesmo ano.
Mas o ano seguinte viria com uma surpresa. Em agosto de 2020, Kamala foi escolhida, entre 12 mulheres, como a vice da chapa encabeçada por Joe Biden, que vai disputar com Donald Trump a presidência dos Estados Unidos, pelo Partido Democrata.
Em novembro, a depender da decisão dos americanos, Kamala Harris pode fazer história em mais uma posição: a de primeira mulher na vice-presidência dos Estados Unidos.
Família e formação
Kamala vem de uma família miscigenada, algo incomum nos Estados Unidos na década de 1960.
A mãe, Shyamala Gopalan, a primogênita de quatro irmãos de uma família do sul da Índia, era apaixonada por ciência e, apoiada por seus pais, mudou-se para a Califórnia aos 19 anos. Lá, ela fez seu doutorado em Nutrição e Endocrinologia na Universidade de Berkeley, atuando como pesquisadora do câncer de mama.
Seu pai, Donald Harris, nasceu na Jamaica em 1938 e emigrou para os Estados Unidos para estudar Economia, também em Berkeley. Depois de formado, passou a lecionar e, hoje, é professor emérito na também reconhecida Universidade de Stanford.
O casal se conheceu em manifestações contra a Guerra do Vietnã e pelos direitos humanos. Os dois tiveram duas filhas: Kamala, que, em sânscrito significa “flor de lótus”, e nasceu no mesmo ano em que sua mãe conseguiu o título de doutora, e Maya.
Quando Kamala tinha 5 anos e Maya, 3, seus pais se separaram. As meninas foram morar com a mãe em Oakland, convivendo com o pai aos finais de semana, em Palo Alto. Nessas ocasiões, percebiam que outras crianças não brincavam com elas por serem negras. As duas irmãs iam frequentemente para a Índia e a Jamaica visitar as famílias de seus pais. Também frequentavam a Igreja Batista e templos hindus.
O espírito ativista começou a se manifestar cedo nas irmãs. Quando Kamala tinha 10 e Maya, 8, as duas lançaram uma bem-sucedida campanha para transformar um pátio abandonado no seu condomínio em um playground.
Quando Kamala tinha 12 anos, sua mãe foi convidada para ser pesquisadora e professora de uma universidade no Canadá. Assim, a família mudou-se para o país vizinho.
Kamala passou a vida estudando em escolas “de brancos”. No ensino superior, sua irmã Maya,foi estudar em Stanford, mas Kamala quis estudar na Howard University, em Washington, conhecida por ser “historicamente negra”, fundada em 1867.
Graduada em Ciência Política e Economia, em 1986, Kamala foi para São Francisco para estudar Direito na Universidade da Califórnia, formando-se em 1989. No ano seguinte, ela foi admitida na Ordem dos Advogados da Califórnia.
Muitas vezes a primeira
A partir de 1990, Kamala passou a trabalhar na Procuradoria do Estado da Califórnia. Em 1993, começou uma relação com Willie Brown, que seria o primeiro prefeito negro de São Francisco. Pouco depois de eleito, Brown terminou o relacionamento.
Mais tarde, ela trabalhou com o progressista Terence Hallinan, no Ministério Público de São Francisco – curiosamente, ela o enfrentaria nas urnas pouco tempo depois. Na maioria dos estados dos EUA, o ocupante do cargo de Procurador de Justiça é escolhido por meio de eleição. Kamala se candidatou para o cargo de Procuradora de São Francisco em 2003, contra o ex-chefe Hallinan. E venceu.
Eleita, Kamala tornou-se a primeira promotora distrital negra da história da Califórnia. No cargo, sua prioridade foi resolver os casos “esquecidos” pela antiga administração, enfrentando críticas da opinião pública e de aliados políticos ao não pedir a pena de morte para um réu acusado de assassinar um policial. O réu foi declarado culpado e atualmente cumpre prisão perpétua.
Como procuradora, Kamala iniciou um programa que usava a educação e a reinserção no mercado de trabalho como uma política pública para reduzir a reincidência em crimes de menor potencial ofensivo de réus primários e criou uma Unidade de Crimes de Ódio, que investigava delitos cometidos contra crianças e adolescentes da comunidade LGBTQIA+.
Em 2010, Kamala se candidatou ao cargo de Procuradora-Geral da Califórnia e, novamente eleita, tornou-se a primeira mulher negra a ocupá-lo. Em 2014, foi reeleita para a posição.
Senadora
Quando a democrata Barbara Boxer, senadora pela Califórnia, anunciou sua intenção de encerrar sua carreira de mais de 20 anos na política, Kamala foi a primeira a declarar sua intenção de ocupar a vaga.
Ela lançou sua campanha em janeiro de 2015 e recebeu o apoio de figuras proeminentes do partido, como o então presidente americano Barack Obama.
Kamala conquistou o cargo nas eleições de 2016 e, ao ser empossada, tornou-se a primeira senadora de origem asiática, e a segunda mulher afro-americana a integrar o Senado americano.
Em Washington, ela passou a defender ativamente pautas contrárias às do presidente eleito, Donald Trump.
Dos 15 indicados para compor o Gabinete presidencial – equivalente ao ministério do governo Trump –, Kamala votou contra a confirmação de 12, vendo conflito de interesses e falta de experiência dos candidatos.
Também votou contra os dois nomes indicados por Trump para a Suprema Corte, o STF americano, tornando-se reconhecida por ser extremamente dura e eficaz nos questionamentos, lembrando seus tempos de procuradora.
Kamala também se opôs ativamente às restrições em políticas de imigração do governo Trump – em 2018, foi uma das senadoras a pedir que o governo americano interrompesse a política de separação de famílias e crianças na fronteira.
Ela também se opôs à tentativa do Partido Republicano de revogar parte do Affordable Care Act, também conhecido como Obamacare, que expandiu o acesso à saúde nos Estados Unidos.
Enquanto “batia” no governo Trump, Kamala organizava sua própria candidatura à presidência dos Estados Unidos.
Em janeiro de 2019, anunciou oficialmente que concorreria às eleições. Durante as 24 horas seguintes, superou o recorde de maior quantia de dinheiro arrecadada para uma campanha presidencial em um único dia.
Mas a facilidade com que o dinheiro fluiu nos primeiros meses de campanha não se sustentou nos seguintes. Em 3 de dezembro de 2019, sem decolar nas pesquisas das primárias do Partido Democrata, Kamala desistiu da corrida presidencial.
Vice de Biden
Com uma plataforma eleitoral progressista, baseada na prevenção da violência com armas de fogo, redução de impostos para classe média, elevação do salário mínimo para 15 dólares por hora, combate ao aquecimento global e manutenção e expansão de um sistema de saúde universal, Kamala Harris chamou a atenção dos democratas durante sua pré-campanha.
Em um debate nas primárias, desferiu o ataque mais duro recebido por Joe Biden na campanha. Mas, depois de sair oficialmente da disputa, endossou a candidatura do ex-vice-presidente americano pelo Partido Democrata.
Desde março, quando Joe Biden anunciou que escolheria uma mulher como vice-presidente em sua chapa, Kamala Harris passou a ser apontada como a favorita à indicação. Ela disputou o posto com outras 11 mulheres.
Quando a decisão foi anunciada, em agosto, Harris se tornou a primeira mulher negra e de origem asiática a concorrer em uma chapa presidencial de um grande partido.
Antes mesmo da decisão, Harris sugeriu o que estava por vir: “Mulheres negras e mulheres de cor há muito tempo estão sub-representadas em cargos eletivos e em novembro temos a oportunidade de mudar isso”.
Poucas horas após o anúncio da escolha de Kamala como vice, o partido democrata diz ter recebido US$ 11 milhões em doações para a chapa Biden-Harris.
No discurso de confirmação de sua indicação, Kamala lembrou que sua mãe, como muitas outras, criou as filhas sozinha, preparando o almoço das meninas antes mesmo que elas acordassem e pagando as contas depois que elas iam dormir.
“Minha mãe me ensinou que servir aos outros nos dá propósito e significado na vida. E como eu desejo que ela estivesse aqui esta noite, mas eu sei que ela está olhando lá de cima”, afirmou. Shyamala Gopalan morreu em 2009, vítima de um câncer de cólon.
Já em meio à pandemia, Kamala também criticou a administração de Donald Trump, afirmando que “sua falta de liderança custou vidas”. “Se você é a mãe ou pai com dificuldades no ensino à distância ou é um professor sofrendo do outro lado da tela, você sabe que o que estamos fazendo agora não está funcionando. Essa nação está de luto pela perda de vidas, de trabalho, de oportunidades, de normalidade e de certezas”.
Em seu discurso, Kamala também falou sobre o racismo estrutural da sociedade americana e relembrou o emblemático caso de George Floyd, o homem negro que morreu asfixiado por um policial, que levou milhares de pessoas às ruas do planeta para protestar contra o racismo.
Momento de transição
Se Joe Biden for eleito à Presidência dos EUA, ele seria o mais velho a ser empossado no cargo, aos 78 anos. Se ele também disputar a reeleição, assumiria o segundo mandato com 82 anos. Por isso, Biden afirmou que precisava de uma vice jovem já que, por sua idade, teria mais chances de morrer no cargo.
Todos esses elementos levam a crer que Kamala será considerada a candidata natural do partido em 2024.
Momala: vida pessoal e família
Em agosto de 2014, Kamala se casou com o advogado Douglas Emhoff, em uma cerimônia celebrada por Maya, sua irmã.
O casal se conheceu em um encontro arranjado pela melhor amiga de Kamala. Emhoff tem dois filhos de seu primeiro casamento: Cole e Ella, que receberam seus nomes em homenagem às lendas do jazz John Coltrane e Ella Fitzgerald. Os dois só foram apresentados a Kamala depois que o relacionamento ficou sério. Hoje, a chamam de Momala (uma mistura de mom e Kamala).
Maya, sua irmã, é advogada formada por Stanford e casada com o também advogado Tony West. Os dois são pais de Meena Ashley Harris, mais uma advogada da família que estudou na Universidade de Stanford e completou os estudos em Harvard.
Meena é autora de um livro infantil (Kamala and Maya´s Big Idea) e fundadora da Phenomenal Women Action Campaign, uma organização que apoia e promove causas sociais – e está empenhada na campanha da tia.
Se Kamala for eleita em novembro, ela será, mais uma vez, a pioneira: a primeira mulher a assumir o cargo de vice-presidente dos Estados Unidos da América.
Para saber mais
- Smart on crime (Kamala Harris)
- The truths we hold: An American journey (Kamala Harris)
- Superheroes are everywhere (Kamala Harris)
- Senator Kamala Harris on being “momala” (artigo para Elle)