Qual será o futuro das ações que se beneficiaram da pandemia?

Qual será o futuro das ações que se beneficiaram da pandemia?

novembro 16, 2020 Off Por JJ

(Getty Images)

NOVA YORK – O mundo respirou mais aliviado na semana passada, quando a farmacêutica Pfizer anunciou que sua candidata a vacina do coronavírus obteve 90% de eficácia na mais recente rodada de testes clínicos.

Nesta segunda-feira, a empresa de biotecnologia Moderna informou que sua vacina foi 94,5% eficaz na prevenção da Covid-19.

As repercussões nas Bolsas foram de euforia – com algumas exceções importantes.

Um grupo de ações que vem sendo chamado de “ficar em casa” despencou na última semana. Muitos investidores se perguntam: será que as companhias que se beneficiaram indiretamente com a pandemia serão capazes de continuar crescendo?

A Zoom, empresa do Vale do Silício cujo serviço virou sinônimo de videoconferências, teve queda de 20% na última semana, em meio ao cenário mais otimista sobre a criação de uma vacina, com uma baixa de 17,4% apenas na última segunda (9). No último dia 9, Amazon caiu 5,1%, e a Netflix, 8,6%. As ações da Clorox, empresa que produz desinfetantes domésticos, caíram 12%.

Já na sessão desta segunda-feira, os papéis da Zoom caem cerca de 4%, os papéis da Clorox têm baixa de cerca de 0,4% – após chegar a cair mais de 2% -, assim como Amazon e Netflix, que registram perdas menos expressivas, um pouco abaixo de 1%.

Estes números parecem sugerir que o fim da pandemia está à vista, mas todas as notícias positivas em relação às vacinas são acompanhadas de duas ressalvas importantes.

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Primeiro, nenhuma delas recebeu aprovação oficial. Segundo, ter uma vacina é apenas o primeiro passo; ainda será necessário vacinar a população, e isso vai levar tempo.

Além disso, os números de casos vêm crescendo de forma alarmante na Europa e nos Estados Unidos, seguidos de novas medidas restritivas e lockdowns.

Mas investidores e gestores de recursos do mundo inteiro já começam a considerar um mundo voltando mais ou menos ao normal. O que isso representa para as empresas que tiveram bom desempenho durante a pandemia – e também para aquelas que foram atingidas pelas restrições de circulação impostas no mundo todo?

O comércio eletrônico é apontado como um dos setores que mudaram de patamar por causa da pandemia – e isso é verdade não somente as empresas puramente virtuais, como a Amazon. Varejistas tradicionais americanos viram suas operações de ecommerce disparar. A Target triplicou as vendas online no trimestre divulgado mais recentemente. O Walmart registrou aumento de 97%.

Um relatório recente da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que esse fenômeno já havia sido observado na Ásia durante a epidemia da SARS, em 2002. “A mudança de foco da JD.com, hoje uma das maiores varejistas online do mundo, das lojas físicas para vendas online foi uma resposta direta à crise da SARS”, afirma o documento. A mesma crise foi fundamental para a criação do Taobab, braço de comércio B2C do grupo Alibaba.

Segundo a consultoria McKinsey, os consumidores dos países em desenvolvimento foram os que mais experimentaram novas maneiras de comprar: 96% dos indianos, 92% dos indonésios e 84% dos brasileiros.

E em todos eles a intenção de repetir a experiência fica na casa dos 70%. Para muitos consumidores, a segurança foi a porta de entrada no comércio eletrônico nos tempos da pandemia – mas é conveniência que deve representar a conversão de longo prazo.

A vida pelo Zoom

Talvez nenhuma empresa seja mais associada ao período da pandemia que a Zoom Video Communications. Até o ano passado, a companhia era mais conhecida no mundo corporativo, como uma alternativa a serviços como Skype e Cisco WebEx.

De uma hora para a outra, ela passou a ser sinônimo de encontros virtuais com amigos, aulas e reuniões de trabalho. No fim de 2019, cerca de 10 milhões de pessoas de conferências via Zoom. Este ano, o número superou 300 milhões.

As ações da empresa, lançadas em março do ano passado a US$ 36, chegaram a ser negociadas a US$ 569 em meados do mês passado. Mas agora o gráfico aponta para baixo. Na sexta-feira, o preço estava em cerca de US$ 410.

Embora muitas empresas tenham flexibilizado as regras para o trabalho em casa indefinidamente, espera-se que os escritórios voltem as ser ocupados, o que significa menos videoconferências. E o excesso de reuniões virtuais deu origem à expressão “Zoom fatigue” – as pessoas estão literalmente cansadas de ficar o dia todo na frente do computador.

O modelo de negócios da companhia também é uma preocupação dos analistas. O foco principal ainda são os clientes corporativos. Quem quer usar o serviço gratuitamente tem de aceitar um limite de 40 minutos na duração das chamadas.

Há um mês, a companhia anunciou um novo serviço, batizado de OnZoom, uma plataforma para criar eventos com cobrança de “ingressos”. O serviço pode ser usado por quem dá aulas por vídeo, por exemplo, com os pagamentos e permissões de acesso integrados. Uma das possibilidades é que a empresa cobre uma porcentagem das vendas. Num evento recente, a COO da companhia, Aparna Bawa, afirmou que as opções estão sendo estudadas. “Ainda estamos esperando para ver” o que faz sentido, afirmou ela.

A Zoom também opera num segmento muito competitivo. Todas as grandes empresas de tecnologia – Microsoft, Google, Apple e Facebook – investiram em seus próprios serviços.

Academia em casa

Uma das ações que sofreram maior impacto com as notícias do avanço da vacina foi a Peloton. A empresa vende bicicletas e esteiras para quem quer se exercitar em casa – em conjunto com aulas em vídeo – e foi uma das estrelas da pandemia na bolsa americana. Mas esta semana os papeis da Peloton entraram em queda livre: de um valor recorde de US$ 139 em meados de outubro, eles eram negociados a US$ 97 nesta segunda-feira.

Além dos concorrentes naturais – as academias –, a empresa também terá pela frente um competidor de peso: a Apple anunciou um serviço de assinatura que vai oferecer aulas em vídeo de dez modalidades esportivas ainda este ano. Mas alguns analistas acreditam que a tendência de exercitar-se em casa veio para ficar. O modelo da Peloton – que une equipamentos, aulas em vídeo e um forte componente de rede social – representa uma “revolução em atividade física e bem estar conectados”, escreve o analista Youssef Squali, da Truist Securities.

A palavra-chave é “conectado”. As bicicletas e esteiras da Peloton funcionam online e permitem que o usuário acompanhe sua performance ao longo do tempo e também com os outros participantes das aulas. O serviço Apple Fitness+ integra sensores de movimento e batimentos cardíacos do Apple Watch para oferecer um retrato detalhado do rendimento.

É um tipo de informação personalizada que os equipamentos de academia simplesmente não oferecem. Essa tendência do “fitness virtual” pode afetar “redes de academias de porte médio e também boutiques e estúdios especializados”, escreve o analista Paul Golding, do banco de investimentos Macquarie.

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