Qual é o tamanho do caos no setor automotivo?
abril 9, 2020Caros leitores, digníssimas leitoras: em momentos de COVID-19, acho que a “teoria do caos” é a melhor definição para o que estamos vivendo nos dias de hoje.
Qual é o cerne central da “teoria do caos”?
Uma minúscula alteração no início de qualquer evento gerará mudanças enormes, abrutas e desconhecidas no futuro (também conhecido como o “efeito borboleta”).
E aí nos perguntamos: por que raios o chinês tinha que comer morcego??
Como Inês é morta…. segue o jogo!
Voltando para o nosso foco central – o setor automotivo – podemos falar sem meias palavras que: a porca torceu o rabo.
Se, no começo do ano, todos estavam otimistas para o horizonte que se abria ao setor, com a retomada gradual do crescimento (depois de um período duro entre 2013 e 2016), onde projetávamos um volume de vendas de veículos novos na ordem de 2,9 milhões de unidades, ou um crescimento de quase 9% sobre o ano de 2019; agora tudo isso virou pó!
A nova perspectiva que temos para o mercado (numa visão Poliana de ser) é um volume próximo a 1,9 milhão de unidades vendidas, o que representa uma queda de 750 mil carros sobre o ano passado ou 1 milhão de veículos sobre a projeção do início do ano.
A retração nas vendas deverá ficar entre 28% a 30%.
Numa visão “não tão Poliana”, o pessoal da Fiat fala em uma retração de 40%.
E, aproveitando o clássico bordão “nunca antes na história desse país”, o setor nunca sofreu um tombo tão forte como o que ocorrerá este ano.
Em 1998, quando a economia sofreu com os tigres asiáticos, a queda foi de 20,6%. Na maxidesvalorização do Real em 1999, a queda foi de 22,2%. Até quando a “marolinha” chegou nas praias tupiniquins, o tombo foi de expressivos 25,6% em 2015.
O que percebemos: nem chegamos no dia 10, e o mês de abril já acabou. O que as montadoras fizeram foi dar férias coletivas. Algumas marcas, como o grupo FCA, pararam as suas operações por 30 dias – até o dia 20 deste mês. Já a VW, por exemplo, foi um pouco mais audaciosa. Ela parou a suas operações por quase 40 dias. Desde o dia 23/03 até 30/04.
Ou seja, a produção de veículos praticamente não irá acontecer neste mês de abril.
E as vendas de veículos, como estão?
Bem… antes da quarentena, o nosso volume de vendas era por volta de 9.574 carros novos/dia. Depois da quarentena, e com o fechamento das lojas/concessionárias, esse volume caiu para uma média de 1.724 carros novos/dia, uma singela retração de 82%.
O grande “caos automotivo” é que esta paralisação pegou todos de calças curtas. Em outros ciclos, quando tivemos quedas nas vendas, a retração era diluída no ano. Além disso, as concessionárias não fechavam… eles continuavam operando o pós-venda (oficina). Ou seja, havia um certo tempo, para poderem assimilar o seu sofrimento e tomarem as melhores medidas possíveis.
Dessa vez, não! Como houve o fechamento das lojas via caneta, foi como se eu quebrasse as duas pernas do pessoal e falasse: “Aguenta aí, que daqui a pouco você vai competir com o Usain Bolt”.
Ou seja: não tem como ter um final feliz.
O consenso que existe é que dificilmente o mercado irá abrir as suas portas este mês (esperamos estar enganados). Existe uma “grande probabilidade” de que o mercado reabra em maio.
Mas, o ponto aqui não é apenas o mercado reabrir, mas qual será a reação dos consumidores. O impacto geral é que, com a quarentena, houve a perda real da renda das famílias. E a pergunta de 1 milhão de dólares é: o consumidor será mais racional e se adequará ao novo padrão de vida/renda, ou irá às compras?
Uma boa leva deve tentar aproveitar as promoções quando as lojas reabrirem… mas a grande maioria tenderá a postergar a sua compra para os próximos meses. Como já falamos, a bomba relógio do setor automotivo está montada. O grande ponto aqui é a necessidade de geração de caixa para manter o funcionamento da empresa.
Além disso, uma possível desvalorização de certos ativos (carros usados, entre outros) é mais do que certa.
Diferentemente do Ned Stark, sabemos que:
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E, infelizmente, não estamos preparados para ele…
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