Psicóloga infantil fala sobre excesso de telas como fruto da pandemia

Psicóloga infantil fala sobre excesso de telas como fruto da pandemia

agosto 22, 2020 Off Por JJ

Isabela Pena, psicóloga especialista em criança e adolescente (Foto: Arquivo pessoal)

Com a mudança de rotina causada pela pandemia, tem sido comum ouvir relatos de famílias que enfrentam um desequilíbrio na relação entre crianças e tecnologias. De acordo com a psicóloga especialista em criança e adolescente, Isabela Pena, a permissividade por parte dos pais tem sido uma das maiores consequências desse contexto.

A relação com as telas de uma forma inadequada é tida pela profissional como o resultado de uma situação emocional muito delicada, enfrentada por crianças e adultos. “É um contexto que mexeu com a rotina das crianças e com toda a estrutura familiar. Os pais também estão sofrendo e isso faz com que nem sempre estejam dispostos emocionalmente ou fisicamente para dar a atenção básica que as crianças pedem”, explica a psicóloga.

Segundo orientações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), é fundamental que o tempo de exposição às telas, indicado para cada faixa etária, seja respeitado neste momento para evitar o agravamento dos prejuízos trazidos pelo consumo exagerado das mídias durante a pandemia. Sobre os sintomas que podem ser desencadeados entre os pequenos, Isabela alerta os pais para reações como irritabilidade, variação de humor junto de comportamento agressivo, sintomas corporais e até problemas de estômago.

Criança de 0 a 2 anos

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o tempo de exposição às telas deve ser feito de acordo com cada faixa etária (Foto: Freepik)

Considerando a necessidade do desenvolvimento da coordenação motora geral e do estimular diariamente a coordenação motora fina, Isabela ressalta a importância de redobrar os cuidados sobre a exposição às telas entre crianças de 0 a 2 anos de idade. Entre essa faixa etária, a psicóloga orienta que o uso da tecnologia seja realizada somente de forma passiva.

Bem como recomendado pela SBP, a profissional orienta que nenhum tipo de contato tecnológico seja realizado como parte essencial da rotina. “Eu indico o uso de telas somente para o contato com outras pessoas, como quando uma criança pequena liga para um familiar e os pais fazem disso uma saudável de se usar a tecnologia diante do contexto que a gente está vivendo”, explica.

Readaptação de rotinas

Como um dos motivos para mudanças de comportamentos notadas frequentemente, a psicóloga destaca o fato das crianças terem perdido o contato social e a prática de atividades físicas, mesmo que por meio de brincadeiras entre amigos. “A hora do recreio era um momento diário de interação. É na escola que eles aprendem a dividir e a respeitar um ao outro, então tudo isso influencia diretamente na saúde mental deles”, afirma.

Isabela explica ainda que, diferente dos adultos, as crianças não compreendem a situação de uma forma intelectual, o que impossibilita que eles tenham condições de lidar emocionalmente com a perda de uma rotina “da noite para o dia”. “Os adolescentes, principalmente, estão adoecendo porque tiveram uma mudança muito brusca em suas rotinas e vivem como se uma parte deles realmente tivesse morrido”, destaca a psicóloga.

Embora precise ser tratado com cautela, Isabela acredita que o uso das telas é o único meio que foi encontrado para que crianças e adolescentes não percam seus estímulos pedagógicos, numa realidade em que o uso passivo das telas tem sido a solução para o momento vivido. “Eu indico que os pais participem desse contexto acompanhando o mundo virtual junto com seus filhos, selecionando, inclusive, aquilo que será menos prejudicial para eles”, aconselha.

Outra dica importante é definição de uma rotina familiar aproximada àquilo que as crianças estavam habituadas a viver antes da pandemia. Segundo a psicóloga, essa prática é capaz de desenvolver a confiança interna, preservando a autoestima e a saúde mental das crianças. “Se ela estudava pela manhã, por exemplo, o ideal é que ela mantenha os horários para não perder essa segurança na rotina diária”, diz ela.

Embora seja de extrema importância para o momento, Isabela ressalta que a definição da rotina deve ser realizada com base na avaliação que cada família deve fazer sobre si mesma. “Se a família tem passado por situações diferenciadas como a perda de alguém próximo, por exemplo, é interessante que não exista tanta cobrança”, aconselha.

Para a psicóloga, a única saída que temos diante da pandemia é começar a aceitar e viver verdadeiramente a situação, evitando culpas e situações desconfortáveis para preservar, inclusive, a saúde mental dos adultos. “À medida que a família aceita a situação, os pais tentam se equilibrar dentro do que eles estão vivenciando e é possível passar por esse momento sem grandes prejuízos”, conclui.

por Juliana Melo