Privatizações poderiam avançar com Arthur Lira, mas reforma tributária perderia espaço, diz Eurasia

Privatizações poderiam avançar com Arthur Lira, mas reforma tributária perderia espaço, diz Eurasia

dezembro 11, 2020 Off Por JJ

SÃO PAULO – Candidato apoiado pelo Palácio do Planalto na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) não deve ser um obstáculo à agenda econômica do governo federal se eleito ‒ e pode inclusive ajudar a acelerar privatizações na casa. Mas a reforma tributária corre mais riscos de ficar pelo caminho em sua eventual gestão.

Esta é a leitura que fazem os analistas políticos da consultoria Eurasia Group. Para eles, o líder do “centrão”, que oficializou sua candidatura na última quarta-feira (9), hoje corre na frente na disputa pela sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) no comando da casa legislativa.

“Ao contrário de Maia, Lira e o ‘centrão’ não são ideologicamente tão comprometidos com reformas econômicas liberais”, pontuam em relatório distribuído a clientes nesta sexta-feira (11).

Para os especialistas, Lira e a maioria dos membros do bloco hoje estão interessados em preservar o teto de gastos, mas têm menos convicção ideológica nas políticas de austeridade fiscal e são mais suscetíveis a pressões do eleitorado por mais distribuição social.

“A boa notícia é que uma vitória de Lira não deve ter impacto tão negativo sobre a agenda econômica. Certamente terá um impacto, mas principalmente mudando a ordem de prioridades, sem impedir a reforma fiscal”, afirmam.

“A má notícia é que a aliança tática de Lira com o governo depende de duas coisas: a popularidade do presidente, que deve cair em 2021, e a capacidade de a administração conceder mais recursos aos parlamentares, que será limitada. Por ambos os motivos, a relação será marcada por altos e baixos, com alguns períodos de obstrução a algumas medidas”, ponderam.

Os analistas acreditam que, independentemente do vencedor na disputa pelo comando da casa legislativa, as principais variáveis para a agenda de reformas serão a disposição de Bolsonaro em defender medidas potencialmente impopulares e a percepção que o Congresso terá sobre a urgência das medidas. Neste sentido, condições favoráveis de mercado, paradoxalmente, poderiam jogar contra tal agenda.

A reputação de cumpridor de acordos e os acenos feitos ao mercado e ao governo nesta campanha, avaliam, elevam as chances de Lira, caso eleito, conduzir as pautas de interesse da equipe econômica, sobretudo no início de 2021.

Mas no geral a probabilidade de avanço das privatizações (sobretudo da Eletrobras e dos Correios) seria maior do que da pauta tributária. Especula-se no parlamento que Maia evitou tal agenda em um aceno aos partidos de oposição – e nada impede que o cenário se repita caso um candidato do “bloco independente” seja eleito, dizem os analistas. Já Lira poderia abraçar a pauta se defendida pelo governo.

Por outro lado, a reforma tributária, pauta prioritária de Maia no fim de sua gestão, tenderia a perder espaço, dependendo ainda mais de um apoio enfático de Bolsonaro.

“Se Lira vencer, Paulo Guedes estará em uma posição de negociação muito mais forte. Isso pode torná-lo mais propenso a conduzir a reforma, já que as condições serão atrativas para o governo federal; mas se os estados acreditarem que a oferta é pequena, podem recuar. Se os estados não permanecerem unidos, no apoio à reforma, as chances de aprovação (hoje em 55%) cairão”, avaliam.

“Seria provavelmente mais fácil aprovar a reforma tributária se o candidato apoiado por Maia vencer, e um número maior de congressistas ajudarem os estados a negociarem uma solução de meio-termo mais razoável para o impasse”, concluem.

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