Petrobras: quais são as consequências da debandada de conselheiros para a companhia?

Petrobras: quais são as consequências da debandada de conselheiros para a companhia?

março 3, 2021 Off Por JJ

Petrobras
(Shutterstock)

SÃO PAULO – Com mais uma notícia negativa para a Petrobras (PETR3;PETR4) desde que a intervenção política entrou no radar, a petroleira informou na noite de ontem (2), via fato relevante, que quatro membros do seu conselho de administração indicados pelo acionista controlador (isto é, a União) pediram para não serem reconduzidos na próxima eleição para o colegiado.

Os Conselheiros João Cox Neto e Nivio Ziviani alegaram razões pessoais para suas decisões. Paulo Cesar de Souza e Silva manifestou-se agradecendo o mandato e esclarecendo que prefere a não renovação.

Já o conselheiro Omar Carneiro da Cunha afirmou não ter se sentido na posição de aceitar a recondução “em virtude dos recentes acontecimentos relacionados as alterações na alta administração da Petrobras, e os posicionamentos externados pelo representante maior do acionista controlador da mesma”. Assim, Carneiro da Cunha revelou insatisfação com a decisão do presidente da República, Jair Bolsonaro, de promover uma troca no comando da estatal, com a indicação de Joaquim Silva e Luna para o lugar de Roberto Castello Branco.

O Conselheiro também afirmou que “a mudança proposta pelo acionista majoritário, embora amparado nos preceitos societários, não se coaduna com as melhores práticas de gestão, nas quais procuro guiar minha trajetória empresarial.”

A notícia chegou para os investidores como mais um revés para o case de investimentos na companhia. A XP Investimentos destaca que, após a destituição do Castello Branco do cargo de membro do conselho, os demais sete conselheiros eleitos pelo sistema de voto múltiplo são automaticamente destituídos. O Ministério e Minas e Energia, inicialmente, havia proposto a recondução dos sete conselheiros.

Agora, a notícia da debandada claramente deve ser interpretada como negativa, avaliam os analistas Regis Cardoso e Marcelo Gumiero, do Credit Suisse.

Os analistas apontam que o movimento abre espaço para uma maior interferência do governo na companhia, lembrando que o Conselho é composto por 11 membros, mas que sete são eleitos pelo governo.

“Dos sete, dois tiveram carreiras militares e um deles era o Roberto Castello Branco. Os outros quatro eram independentes e com carreiras consolidadas como CEOs de empresas ou em altos cargos. Estes quatro estão de saída. Ainda temos outros quatro membros, sendo que três foram eleitos em votação separada (um pelos acionistas das preferenciais, um pelos minoritários e outro pelos funcionários da estatal). O quarto membro foi eleito pelos minoritários por voto múltiplo e será excluído, mas pode vir a ser indicado novamente”, apontam.

Eles avaliam que o mínimo exigido no Conselho para os independentes seria de 40%, mas os sinais indicam que pode-se ir para outra direção. Outro risco, avaliam ainda, seria a perda do terceiro assento pelos minoritários.

“De forma geral, não esperamos que nenhum membro do time executivo ou do Conselho renuncie antes do final do mandato. A gestão atual deve seguir até a chegada do sucessor e esta talvez seja a melhor alternativa para evitar uma quebra na fluidez do cotidiano”, apontam os analistas do Credit.

Cabe destacar que O Globo e a Agência Estado informaram que um quinto conselheiro, Leonardo Antonelli, afirmou à empresa que ele apenas aceitaria ser reconduzido como representante dos acionistas minoritários.

O Bradesco BBI aponta que, com os quatro conselheiros desistindo da sua potencial recondução, alguns outros nomes ainda poderiam ser reconduzidos pelo governo (lembrando que Silva e Luna já foi indicado para substituir Castello Branco). São três nomes: Eduardo Bacellar (atual presidente e ex-almirante da Marinha), Ruy Flaks Schneider (Mestre em Ciências e
engenheiro em Stanford e ex-oficial da marinha), além do já mencionado Leonardo Antonelli. “Dependendo dos três nomes nomeados (ou renomeados) pelo acionista controlador, o Conselho da Petrobras pode acabar com uma grande composição militar”.

Apesar de destacar que a saída de conselheiros experientes neste momento é outra consequência negativa da intervenção governamental, um risco sinalizado desde o anúncio da substituição do CEO, os analistas do Morgan Stanley não esperam impacto material nos resultados de curto prazo da empresa.

De qualquer forma, as ações provavelmente seguirão negociadas com base neste forte sentimento de incerteza “até que a poeira baixe”, avaliam os analistas.

O Itaú BBA ainda ressaltou que os principais pontos a serem monitorados são os perfis dos novos indivíduos indicados para o Conselho e o tempo adicional necessário para a consideração desses candidatos. “Diante desses acontecimentos, e considerando o aviso prévio necessário de 30 dias, a Assembleia Geral Extraordinária (AGE) para substituir Roberto Castello Branco – e agora para eleger os quatro novos membros – pode ser adiada, assim como uma reunião subsequente para nomear Silva e Luna como o novo CEO da empresa.

Depois de ter planejado inicialmente a recondução de todos os conselheiros, exceto Roberto Castello Branco, o governo agora terá que propor quatro nomeados adicionais, que serão submetidos ao mesmo processo de análise pelo Comitê de Pessoas que receberá Joaquim Silva e Luna.

Cabe destacar que, desde o final do mês passado, XP Investimentos, Bradesco BBI e Credit Suisse possuem recomendação equivalente à venda para os ativos da Petrobras, destacando o forte risco político no radar, enquanto BBA e Morgan estão temporariamente sem recomendação para os ativos.

“As ações da Petrobras deverão sofrer mais pressões negativas enquanto houver incertezas a respeito da autonomia de gestão da companhia, de sua governança e da viabilidade de uma política de preços de combustíveis alinhada a referências internacionais de preços de petróleo e taxa de câmbio”, apontam os analistas da XP Investimentos.

Além dessa notícia sobre o Conselho, os últimos dias estão sendo marcados pela abertura de algumas investigações pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Isso desde o início da queda de braço entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, e a administração da companhia, que culminou com a troca do comando da petroleira.

Depois da abertura de três processos, de acordo com informações de jornais, a CVM avalia abrir um novo processo para investigar operações atípicas com papéis da Petrobras nas últimas semanas. Isso após O Globo informar que um investidor pode ter lucrado R$ 18 milhões com opções da petroleira ao efetuar operações, na quinta-feira 18 de fevereiro, que só fariam sentido se realmente acreditasse que as ações iriam cair forte. A suspeita é de uso de informação privilegiada.

Vale destacar que a associação que representa investidores minoritários Abradin apresentará à Comissão pedindo a investigação do operador que teria feito movimentação suspeita com as ações da companhia no mercado de opções, segundo afirmou à Reuters o presidente da entidade, o economista Aurélio Valporto.

As ações preferenciais da Petrobras, que operavam em forte baixa % no meio da tarde desta quarta-feira, já recuaram mais de 20% desde o dia 19 de fevereiro. A representação à CVM é um primeiro passo para uma investigação mais aprofundada sobre o caso.

(Com informações da Reuters e do Estadão Conteúdo)

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