Pandemia prejudica o orçamento do brasileiro, mas eleva interesse por educação financeira, diz pesquisa
novembro 23, 2020
SÃO PAULO – A crise econômica provocada pela Covid-19 teve impactos negativos sobre o orçamento dos brasileiros, mas, ao mesmo tempo, pode ter contribuído para elevar o interesse da população sobre o tema da educação financeira, segundo dados de uma pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva, a pedido da XPeed, braço educacional do grupo XP Inc.
De acordo com a pesquisa, feita com 1.500 pessoas em outubro deste ano, três em cada dez brasileiros passaram a atrasar mais o pagamento de contas durante a pandemia e 51% disseram estar insatisfeitos com a situação financeira atual.
“O brasileiro chegou na pandemia enfrentando o que talvez tenha sido a maior crise econômica da nossa história. O vírus encontrou no Brasil uma situação de desigualdade, na qual apenas uma parcela da população até então tinha condições de planejar com calma o seu futuro”, comenta Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.
Os resultados do levantamento foram apresentados por Meirelles na abertura da Semana de Educação Financeira, evento online e gratuito, organizado pela Xpeed, que acontece entre os dias 23 a 27 de novembro, junto à Enef, a semana de incentivo à educação financeira que acontece no país todo.
A pesquisa também revelou que, nos últimos 12 meses, sete em cada dez entrevistados passaram pela experiência de ver as contas não fecharem; e 58% disseram que a atual condição financeira impede a realização de objetivos que consideram importantes. No longo prazo, o quadro não muda muito: apenas 31% se sentem confiantes sobre seu planejamento para a aposentadoria.
Apesar de os dados retratarem uma situação financeira desconfortável em boa parte da população, também mostraram que a pandemia pode ter estimulado a busca por mais conhecimento sobre finanças.
Cerca de quatro em cada dez entrevistados (41%) passaram a pesquisar mais sobre educação financeira durante a pandemia. Para 47% dos participantes, a pandemia contribuiu para que fossem feitos mais planos sobre o futuro. E 53% disseram que a chegada da Covid os incentivou a sair da zona de conforto
“A crise poderia deixar as pessoas simplesmente mais apavoradas, mas os brasileiros não estão mais olhando para o futuro com aquele voluntarismo do passado, de quem tinha que vender o almoço para comprar o jantar, mas com uma visão mais estratégica. Ainda faltam ferramentas para essas pessoas, mas está cada dia mais claro que a grande demanda desses brasileiros é chegar ao futuro de uma forma muito melhor do que os seus pais chegaram ao dias de hoje”, diz Meirelles.
Conhecimento financeiro
Desde 2011, quando o Banco Central (BC) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) criaram a Semana Nacional de Educação Financeira (Enef), junto a outras entidades, o evento, que começou com poucas e tímidas ações, vem ganhando corpo, com mais iniciativas realizadas ano após ano. Um dos aspectos mais interessantes que a Enef traz é justamente o levantamento de dados que permitem refletir sobre o nível de conhecimento financeiro da população.
A pesquisa da Xpeed e do Instituto Locomotiva, por exemplo, mostra que apenas um em cada dez brasileiros (8%) acertaram todas as perguntas de um questionário formado por perguntas sobre investimentos, que passaram por tópicos como juros compostos e rendimentos.
Segundo a pesquisa, apenas quatro em cada dez brasileiros sabem o que são juros compostos e 56% erraram a resposta que avaliou se os participantes compreendem os efeitos concretos da inflação.
Ainda que o conhecimento financeiro seja limitado, vontade de aprender é o que não falta: 90% dos brasileiros disseram que gostariam de saber como investir, planejar recursos para o futuro e organizar receitas e despesas.
Izabella Mattar, CEO da Xpeed, comenta que o assunto tem ganhado mais relevância, mas reconhece que os desafios são grandes. “As pessoas ainda têm muitas crenças limitantes relacionadas ao dinheiro. Muitas delas acreditam que as aplicações financeiras são restritas a quem tem muito dinheiro e não sabem que ao se organizar é possível ter acesso a bons investimentos”, diz.
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