Pacientes com doença autoimune sofrem com falta de hidroxicloroquina
março 25, 2020O anúncio de que testes apontaram uma suposta eficácia da hidroxicloroquina no combate ao novo coronavírus provocou uma verdadeira corrida na busca por medicamentos à base deste substância. Eles agora estão em falta na maioria das farmácias e os pacientes com doença autoimune – que fazem uso desse tipo de remédio – estão desassistidos.
Médicos e pacientes estão fazendo campanhas por meio de redes sociais para que as pessoas não comprem o medicamento, pois além de não haver eficácia comprovada contra o covid-19, pessoas que fazem uso contínuo do medicamento estão desassistidas.
É o caso da estudante de medicina Francieli Silva, que tem Síndrome de Sjogren e Artrite Reumatoide e faz uso diário do medicamento. “Procurei em diversas farmácias de Aracaju na sexta e no sábado, mas não encontrei. Entrei em contato com fabricante, mas a informação que recebi é de que eles estavam trabalhando na fabricação do medicamento para repor os estoques das farmácias do país. Outro fato que me causou indignação é de que em uma das farmácias, o funcionário disse que o medicamento quando chegasse custaria quase R$ 400, quando normalmente ele vendido por R$ 150, seria vendido”, conta.
Danielli Valentin, que é recepcionista em uma clínica de oncologia, conta que diversos pacientes estão telefonando para a unidade em busca de informações sobre como conseguir os medicamentos. “Desde que surgiu o problema, nós temos recebido diversas ligações de pacientes falando que não estão encontrando o medicamento. O que nos preocupa é que são pessoas que fazem há muitos anos o uso contínuo desse medicamento. São casos de idosos que tiveram câncer, gestantes e outras pessoas com doenças crônicas sérias. Tentamos ajudar ligando para várias farmácias, mas quase todas não têm o medicamento”, revela.
Consequências
O médico reumatologista Denisson Silva alerta que os pacientes que estão sem a medicação estão com a saúde em risco. “A suspensão do medicamento traz o risco de as doenças autoimunes voltarem a entrar em atividade. Quando isso acontece, a pessoa sofre os sintomas consequentes da doença e também fica com a imunidade prejudicada, podendo desenvolver doenças oportunistas, como as doenças virais”, explica.
Conselho Regional de Farmácia
O Conselho Regional de Farmácia do Estado de Sergipe (CRF/SE) informou que tem acompanhado a situação e que tão logo constatou a problemática emitiu nota técnica. No documento, o CRF informou aos farmacêuticos sobre eficácia ainda não comprovada da hidroxicloroquina no combate ao Covid-19 e orientou para a não dispensação do medicamento para tal fim. ‘Orientamos também que os farmacêuticos aguardassem maiores evidências científicas sobre o medicamento para que, posteriormente, ele fosse comercializado para o tratamento do Covid-19”, explicou o presidente do CRF/SE, Marcos Rios.
Até então, conforme o presidente, a dispensação do medicamento não necessitava de uma receita especial. Foi somente no último dia 21, que a Anvisa estabeleceu novas regras. “Atualmente, a venda só pode ser feita em receita especial de duas vias”, complementa.
Anvisa
Em nota divulgada em seu site oficial, a Anvisa disse que a entrega ou venda do medicamento nas farmácias e drogarias só poderá ser feita para pessoas com a receita especial, para que uma via fique retida na farmácia e outra com o paciente.
No entanto, conforme a Anvisa, até o dia 18 de abril, as pessoas poderão continuar comprando os medicamentos com receita comum para evitar que os tratamentos em curso sejam interrompidos. Em todos os casos, o farmacêutico está obrigado a registrar na receita a comprovação do atendimento. Com o novo enquadramento, as farmácias e drogarias são obrigadas a registrar todas as entradas e saídas do medicamento e o seu estoque, além de registrar os dados dos consumidores.
por Verlane Estácio