Os melhores fundos de ações e multimercados em abril e em doze meses

Os melhores fundos de ações e multimercados em abril e em doze meses

maio 11, 2020 Off Por JJ

SÃO PAULO – Aproveitar o tombo de março para comprar ações de empresas sólidas que estiveram caras por muito tempo ou aumentar o peso em posições de alta convicção já no portfólio estiveram entre as estratégias de fundos que navegaram bem durante a recuperação do mercado em abril, quando o Ibovespa subiu 10,25%.

Apostar na continuidade da valorização do dólar frente ao real também se mostrou uma alocação vencedora no mês passado, dado que a divisa americana subiu 4,7%, acumulando 38,7% de ganhos em 12 meses.

Em janelas curtas de análise em que o mercado tem uma alta expressiva, como em abril, os gestores têm mais dificuldade para superar os índices – no mês passado, de uma base de 143 fundos de ações, 54 não bateram o Ibovespa, ou cerca de 38% do total.

Ainda assim, nenhum deles fechou no campo negativo em abril, com a menor valorização, de 1,66%, do NCH Maracanã. Apesar de ter ficado um pouco para trás em abril, o fundo tem um dos melhores desempenhos do ano na categoria de renda variável, com alta de 1,83%, contra queda de 30,4% do Ibovespa.

Os dados fazem parte de levantamento elaborado pela XP Investimentos com base em informações extraídas da Economatica e mostram que, ao estender o intervalo da análise para os últimos 12 meses, em que o Ibovespa acumula uma queda de 16,45%, a fatia de fundos de ações com performance inferior à do benchmark cai para 15,3% (ou 22) .

A valorização do dólar e o melhor desempenho da bolsa americana em termos relativos têm mantido os fundos que investem em BDRs na liderança da categoria de renda variável. Já entre os fundos dedicados às ações brasileiras, o HIX Capital Institucional e o NCH Maracanã despontam à frente dos demais.

Confira a seguir os dez melhores fundos de ações em 12 meses até abril, observando ainda seu desempenho no mês passado e a variação acumulada no ano e em 36 meses.

Importante lembrar que retorno passado não é garantia de rentabilidade futura, mas é interessante analisar o desempenho histórico dos fundos para observar sua consistência.

Entre os multimercados, partindo de uma base de 203 fundos, 178, ou 87,6%, não tiveram fôlego para bater o Ibovespa em abril. Mas, em 12 meses, são apenas nove, ou 4,4% dos multimercados, que perdem para o benchmark da Bolsa.

Na comparação com a variação de 5,19% do CDI em 12 meses, 56,6% (ou 115) dos multimercados não conseguiram superar o índice de referência no período. Em abril, quando o CDI foi de 0,28%, os multimercados que não superaram o referencial diminuem para 15,2% (ou 31).

Na classe dos fundos multiativos, marcam presença entre as maiores rentabilidades aqueles com alocação global, de casas como Itaú, Bradesco, Santander, Safra e M Square. O fundo quantitativo da Giant Steps também está presente na lista.

Para a análise, foram considerados fundos não exclusivos com patrimônio líquido médio superior a R$ 100 milhões em 12 meses, e mais de 99 cotistas, no fim de abril. No caso dos fundos de ações, foram excluídos os setoriais, os indexados e os monoações. Dentre os multimercados, não foram considerados os fundos de crédito privado. Fundos espelho também foram eliminados do estudo.

Pulverização da carteira

A magnitude da queda da Bolsa em março criou tantas oportunidades em empresas sólidas, que devem sair até mais forte da crise, que a HIX Capital tem mantido o portfólio com uma quantidade maior de ações do que o padrão.

Geralmente são cerca de 15 papéis na carteira da gestora, tendo o número subido agora para mais perto de 25. “Temos encontrado várias ações com preço bastante descontado e muita margem de segurança”, diz o sócio fundador da HIX, Gustavo Heilberg, acrescentando que o elevado grau de incerteza do cenário também contribui para uma maior diversificação.

Em abril, o fundo Hix Capital Institucional subiu 15%, o que reduziu a rentabilidade negativa no ano para 21,3%. Em 12 meses, o veículo avança 20,3%.

Entre os nomes que passaram a fazer parte da carteira da HIX nas últimas semanas aparecem empresas de consumo, como Burger King e Lojas Renner.

“A melhor forma de ganhar dinheiro é comprar os ativos baratos, só que essas situações vêm sempre acompanhadas de incerteza, que é justamente o momento que estamos atravessado.”

Heilberg diz ainda que a HIX não só comprou novas ações para o portfólio, mas também reforçou a posição em papéis que já estavam na carteira, como AES Tietê e Natura, além das operadoras de planos de saúde Sul América e Hapvida.

“Por conta do ambiente desafiador, temos priorizado empresas resilientes, que prestam serviços básicos, que seguem demandados mesmo na pandemia.”

Protagonistas do século XXI

A IP Capital também se aproveitou da queda indiscriminada de preços de março para reforçar, em abril, posições em ativos que já tinha e que ficaram baratos, tendo em vista sua qualidade e as perspectivas de crescimento tanto no curto como no médio e longo prazo.

A diferença é que, além da Bolsa local, a IP se vale da exposição em ativos globais, seja via alocação direta no exterior ou por meio de BDRs.

Segundo Carolina Barbará, responsável pela área de relações com investidores da IP, o portfólio já vinha concentrado nas protagonistas da nova era digital, como Facebook, Netflix, Google e Amazon. Por isso, a gestora entendeu que não havia a necessidade de promover grandes alterações na direção do leme.

Alheias à crise, as ações dessas empresas de tecnologia têm representado o principal refúgio dos investidores em meio à tempestade – os BDRs da Netflix negociados na B3, que incluem também a variação cambial, sobem 91,6% em 2020, até o dia 8 de maio, segundo dados da Economatica, enquanto os da Amazon avançam 84,2%.

Com ganhos um pouco menores, mas ainda assim bem relevantes, os BDRs da Alphabet (controladora do Google) têm valorização de 48,4%, e os do Facebook, de 46,7%.

“Uma das melhores formas de enfrentar uma crise é estar sempre preparada para ela”, afirma Carolina. “Temos um foco muito grande na qualidade das empresas que colocamos na carteira.”

Em abril, o fundo IP Participações BDR Nivel I valorizou 13,5%, com queda de 2,3% no acumulado de 2020, mas com alta de 12,9% em 12 meses.

Dentre os ajustes mais pontuais, a gestora comprou papéis que já monitorava – da Mastercard e do Mercado Livre – e vendeu varejistas e Booking.com. “Como investidores de longo prazo, estamos sempre à espera de momentos como o de março, que nos permite fazer posições que gostamos a um preço razoável”, diz a executiva da IP. “Esse cenário nos permitiu montar nossa carteira dos sonhos.”

Embora tenham surgido diversas oportunidades nas ações americanas, as brasileiras não ficaram muito para trás na avaliação da gestora. Tanto que, por estar mais atraente do que no início do ano, o espaço da Bolsa local na carteira da IP subiu de aproximadamente 20%, em janeiro, para cerca de 30%, em abril.

E isso mesmo com a saída de ativos como os da Hapvida, que já tiveram uma boa recuperação desde o tombo de março, diz Karen Hime, gestora da IP. Em abril, as ações da operadora de saúde subiram 23,7%, mas, no primeiro quadrimestre, tiveram perdas de 17,7%.

“Entramos recentemente na Equatorial, que fazia parte da nossa lista de desejo, mas ainda não estava no portfólio até então por estar cara”, afirma Karen. Segundo ela, após a performance de abril, agora é preciso um pouco mais de cautela na análise das ações, nos Estados Unidos e, principalmente, no Brasil, onde os melhores nomes suportaram bem o baque da pandemia.

Pax americana

Já entre os multimercados, na Dahlia Capital o sócio José Rocha conta que conseguiu atravessar a turbulência recente com relativa tranquilidade, por conta de sua exposição ao dólar e ao ouro.

Em abril, o fundo Total Return da gestora ganhou 9,9%, com uma queda de 8,4% no ano, mas com alta de 12,5% em 12 meses.

Logo após o carnaval, ao perceber que a crise que chegava seria grande, a Dahlia aumentou o posicionamento na divisa americana, presente no portfólio desde o início, em 2018. “Mesmo após o coronavírus, o dólar seguirá subindo no médio e longo prazo”, avalia Rocha.

A expectativa para o câmbio decorre da Selic nas mínimas históricas e também do esperado protagonismo americano na economia global na década que se inicia. “Vamos viver uma Pax americana”, diz o especialista, em alusão ao termo cunhado para se referir ao domínio do império romano no século I.

Dada a visão construtiva para os Estados Unidos, a Dahlia também tem investido em empresas de tecnologia na Nasdaq.

No Brasil, a visão para o dólar também influencia, com a gestora apostando nas exportadoras Vale, JBS e Weg. “Considerando os preços atuais, a tendência da Bolsa é para cima nos próximos anos.”

Ainda no fronte doméstico, a Dahlia tem encontrado boas oportunidades na parte intermediária da curva de juros real. No Tesouro Direto, a NTN-B com vencimento em 2026 oferece um prêmio da ordem de 3,5%, que sobe para 4,52% no título atrelado à inflação de 2035.

Sobre a posição em ouro, o sócio da Dahlia explica que a impressão de dinheiro pelos bancos centrais para enfrentar a crise deve fazer com que o papel moeda perca valor ao longo do tempo. “Ouro os governos não podem imprimir.” Segundo dados da Bloomberg, o contrato do ouro tem uma valorização de 11,2% em 2020, até abril.

Desajuste fiscal

Já o gestor Eduardo Canto, da ARX Investimentos, avalia que o ouro já subiu bastante, e tem apostado suas fichas na prata, que recua 16,8% no ano, até abril. No mês passado, o multimercado Extra da casa valorizou 6,15%, com baixa de 2,2%, em 2020, mas com alta de 8,8%, em 12 meses.

Além das commodities, a alocação em ações de consumo e varejo, carregada pela asset desde o segundo semestre de 2019, perdeu espaço para as exportadoras.

A gestora também optou em abril por uma posição na bolsa americana por meio do S&P 500 e do dólar. “Não vemos espaço para uma valorização do real.”

Nos juros, Canto manteve durante o mês passado uma alocação expressiva nos vértices mais curtos da curva de juro nominal, com as sinalizações do Banco Central de novos cortes na Selic.

Com a queda de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros, e a porta aberta para uma nova redução em junho, esse prêmio deixou de existir, diz o especialista.

Nos trechos intermediários e longos, embora haja taxas atraentes, o risco é elevado diante de um cada vez mais provável descontrole das contas públicas, avalia o gestor da ARX.

“A trajetória de crescimento da dívida pública, que acreditava que seria temporária, parece cada vez mais que será permanente”, afirma Canto. “Não sinto conforto para fazer grandes posições nos vértices mais longos da curva de juros neste momento.”

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