Os líderes globais que estão falhando no teste de estresse do coronavírus

Os líderes globais que estão falhando no teste de estresse do coronavírus

maio 24, 2020 Off Por JJ

Jair Bolsonaro e Donald Trump
(Foto: Alan Santos/PR)

(Bloomberg) – Se um líder tiver um ponto fraco político, o novo coronavírus vai conseguir achá-lo.

É muito cedo para classificar países em suas respostas à pandemia cujo ciclo de vida provavelmente será medido em anos. No entanto, já está claro que alguns usaram o tempo que tinham para se preparar e agir no estágio crítico inicial do surto de forma muito menos eficiente do que outros.

Na China, o vírus revelou o vício prejudicial ao segredo, compartilhado por autoridades locais e pelo presidente Xi Jinping.

A abordagem estrondosa do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, custou não apenas tempo, mas quase a vida dele.

Nos Estados Unidos, o estilo caótico de gestão do presidente Donald Trump e a politização do surto parecem ter dificultado uma resposta federal rápida e coordenada.

No antigo debate sobre se líderes são importantes para decidir a história, a resposta dos primeiros meses de 2020 é um retumbante “sim”, diz Francois Heisbourg, ex-funcionário dos ministérios de Relações Exteriores e da Defesa da França que agora assessora o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, em Londres.

Os custos de não atender às expectativas são altos. O número de mortos pelo vírus ultrapassa 330 mil, as cadeias de suprimentos globais se romperam e milhões de empregos foram destruídos. A estimativa da Bloomberg Economics, baseada em cenários otimistas de recuperação, projeta que a pandemia deve eliminar US$ 6 trilhões da economia global.

Grande parte do impacto político dos erros cometidos foi obscurecida até o momento por um sentimento de patriotismo que, com algumas exceções, protegeu líderes de todas as partes contra críticas e aumentou sua popularidade, um padrão familiar em tempos de guerra. Mas esse efeito protetor começa a desaparecer.

Na quarta-feira, o líder do Partido Trabalhista da oposição no Reino Unido, Keir Starmer, atacou Johnson no Parlamento por ter demorado para proteger casas de repouso do Covid-19, expandir testes e, agora, na implementação de políticas de rastreamento e isolamento que ajudaram a Alemanha e a Coreia do Sul a controlarem a pandemia.

Do outro lado do Atlântico, a crise sobrecarregou a tendência do presidente Trump de desprezar a ciência, politizar questões e instituições mais técnicas e evitar a cooperação internacional. Também interferiu para um papel ou mensagem federal consistente, impondo-se em algumas áreas e renunciando à responsabilidade em outras, e desviando a atenção para outros problemas com até 126 tuítes por dia.

No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro, que continua negando a seriedade do vírus, trocou dois ministros da Saúde durante a crise e entrou em conflito com governadores devido a restrições das quarentenas, destacando sua falta de experiência em um cargo executivo.

A liderança é apenas um fator que pode explicar as enormes variações no impacto que o Covid-19 teve em diferentes países. Entre os mais importantes: se os países tiveram experiência recente com epidemias semelhantes, uma razão pela qual nações da Ásia e da Australásia tendem a ser mais seguras em suas respostas. Outros fatores incluem demografia etária, densidade populacional, capacidade do sistema de saúde e cultura“O ressentimento em relação às autoridades é muito mais profundo do que era antes da pandemia”, disse Olga Kryshtanovskaya, socióloga especializada em elites da Universidade Estadual de Administração, em Moscou.

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