Os 5 pilares da estratégia da BRF para buscar uma receita de R$ 100 bi em 10 anos (e o que animou os investidores)
dezembro 8, 2020
SÃO PAULO – Crescimento em alimentos processados, suínos, segmento pet, proteína vegetal, e maior internacionalização – mas sem tirar o olho do endividamento. Com essa receita, a BRF (BRFS3), dona de marcas como Sadia e Perdigão, animou os investidores na sessão desta terça-feira (8), dia do BRF Day, em que os executivos destacaram as estratégias para a companhia para os próximos dez anos.
Nesta terça-feira (8), os papéis chegaram a saltar 12,41% na máxima do dia, a R$ 23,92, operando durante boa parte da tarde com ganhos acima de 9%, mesmo nos momentos de queda da Bolsa. A baixa, contudo, é de mais de 30% no acumulado de 2020.
Poucos minutos antes de abrir o pregão da Bolsa, a BRF divulgou as suas principais metas para os próximos anos, algumas consideradas bastante ambiciosas.
A companhia estimou receita líquida de R$ 65 bilhões para o período de 2021 a 2023, com o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) se multiplicando em dois ao levar em consideração os doze meses encerrados em setembro, seja multiplicado por 2,5 vezes entre 2024 e 2026 e, finalmente, alcance mais de R$ 15 bilhões entre 2027 e 2030. A BRF também projetou investimentos de, aproximadamente, R$ 55 bilhões nos próximos dez anos.
Nos nove meses até setembro, a BRF teve faturamento de quase R$ 23 bilhões e até 2030, a BRF espera que a receita anual cresça para R$ 100 bilhões.
“A priori, tais projeções parecem ambiciosas em relação ao consenso de mercado (para 2023, por exemplo, a estimativa é de cerca de R$ 43 bilhões em receitas). De qualquer forma, a direção das iniciativas nos parece correta”, avaliam Larissa Pérez e Leonardo Alencar, analistas da XP Investimentos, em relatório. Nesse sentido, eles reiteram a recomendação de compra para BRF, com preço-alvo para final de 2021 de R$ 30, um potencial de alta de 40,98% em relação ao fechamento da véspera.
Durante o BRF Day, os executivos destacaram como pretendem alcançar tais metas, concentrando-se no crescimento doméstico e em mercados halal como a Turquia e a Arábia Saudita. Já a previsão de investimentos, de R$ 55 bilhões nos próximos 10 anos, é de forma a impulsionar o crescimento orgânico do negócio.
Abaixo, seguem os cinco focos da companhia para os próximos 10 anos:
1. Alimentos processados
A companhia apontou no BRF Day que quer em expandir para mercados onde os consumidores compram produtos alimentícios processados como pizzas e nuggets de frango, com menor foco em alimentos in natura.
A expectativa da companhia, que possui marcas como a Sadia no Brasil e Banvit na Turquia, é de passar de 50% para 70% de sua receita com produtos processados em um período de 10 anos, o que pode contribuir para a redução da volatilidade do negócio da companhia.
Segundo os analistas da XP, tal iniciativa é positiva, uma vez que o segmento oferece maior rentabilidade que o segmento in natura. Por outro lado, tratam-se de produtos de maior valor agregado e mais dependentes de um cenário macroeconômico positivo, apontam os analistas.
2. Ração para pets
O mercado de produtos para animais de estimação também é destaque na estratégia da empresa. De acordo com Lorival Luz, CEO da companhia, o segmento pet pode dobrar nos próximos dez anos e chegar a R$ 40 bilhões no Brasil – e a BRF pode se tornar pelo menos o segundo maior player em cinco anos. Atualmente, o mercado é dominado pela Mars (dona de Royal Canin); a Nestlé, dona da Purina; e a PremieR.
“Entendemos que esse é um negócio altamente lucrativo e que faz sentido para a BRF na medida em que a empresa já dispõe das principais matérias primas – a maior parte das rações são confeccionadas a partir de subprodutos de operações de frango e suínos. Nossa única ressalva é que tal segmento deveria representar um adicional para a empresa, não uma prioridade”, apontam Larissa e Alencar.
3. Internacionalização
O plano também inclui a abertura de bases de produção na América do Norte, Europa ou países asiáticos selecionados, disseram os executivos. Eles têm em estudo 50 países para possíveis investimentos, incluindo Estados Unidos, Canadá e México, mas não deram mais detalhes durante o evento.
Conforme apontam os analistas da XP, as margens elevadas e o real desvalorizado tendem a atrair a atenção das companhias nacionais do setor para fora e, estruturalmente, o consumo de carnes deve seguir crescendo nos mercados emergentes. “Tendo em vista as marcas fortes e o extenso portfolio da BRF, a empresa teria a capacidade para se aproveitar desse crescimento. Vale a ressalva de que a empresa realizou desinvestimentos em ativos internacionais na Argentina, Tailândia e Europa em anos anteriores, mas entendemos ser improvável que tal revés ocorra novamente”, avaliam.
Outros dois pontos estão na estratégia da companhia para os próximos anos além de refeições prontas, mercado pet e internacionalização: o maior consumo de produtos suínos pela população brasileira e, na ponta oposta, o consumo de alimentos plant-based, ou substitutos de carne, que seguem abaixo.
4. Consumo de carne suína
Para a BRF, nos próximos 10 anos, o consumo de carne suína no Brasil pode ser multiplicado por cinco, atingindo R$ 23 bilhões mas, no meio do caminho, há um processo de desmistificação ainda a ser feito. No país, o consumo é de 15,8 quilos por habitante ao ano, ante números de 30 kg nos EUA e de 38 kg na Europa.
“Na nossa visão, embora desafiador, caso a empresa tenha sucesso, esse segmento pode representar uma grande avenida de crescimento para a BRF”, avalia a XP.
5. Proteína vegetal
Já com relação ao mercado plant-based, apesar de haver uma maior diversificação de produtos, há maior incerteza também frente ao tamanho do mercado na próxima década, conforme destacado pelo próprio CEO da BRF.
Para os analistas da XP, esse é um nicho com grande potencial de crescimento e que pode se provar bastante atrativo no curto prazo para os participantes que souberem explorá-lo, enquanto a maior parte do mercado ainda está no começo da curva de aprendizado em relação à demanda de vegetarianos, veganos e flexitarianos (este último sendo um termo usado para descrever a prática de comer carne em menos de três refeições por semana).
A companhia lançou no começo de 2020 a Veg&Tal, linha de produtos plant-based: entre os itens, hambúrguer, bacon, nuggets e tortas.
Vale ressaltar que a empresa se comprometeu a não tomar empréstimos excessivos para financiar o crescimento e a estabelecer limites de endividamento durante o período em que o investimento será feito, apontando que a dívida líquida no período não ultrapassaria a relação de três vezes o Ebitda.
Além disso, a BRF também pretende voltar a pagar dividendos aos acionistas. Lorival Luz disse no evento que os acionistas voltarão a ser remunerados entre 2021 e 2023 – faz cinco anos que a companhia não paga dividendos.
Os projetos da companhia são grandes, assim como os desafios que a companhia ainda tem que enfrentar. Dentre eles, ressaltam os analistas da XP, as condições macroeconômicas desafiadoras no Brasil, competição com outras proteínas e com outras marcas do setor no Brasil e no mundo.
Por outro lado, os analistas destacam que estão otimistas com o consumo de carne para o próximo ano, com carne bovina e suína devendo ter um desempenho melhor em termos de exportações, enquanto a carne de frango deve crescer principalmente no mercado interno.
“Frigoríficos com mix de produtos mais amplo devem ser beneficiados: uma maior demanda por alimentos processados poderia compensar, ainda que parcialmente, a alta no custo das matérias-primas observada neste ano”, afirmam os analistas.
Adicionalmente, tendo em vista o cenário macroeconômico desafiador – e o fim do auxílio emergencial -, sem grande espaço para aumentos de preço, a avaliação é de que o momento do frango poderia finalmente estar chegando, após um 2020 estelar para a carne bovina e suína.
Os analistas de mercado ainda se dividem sobre BRF: de acordo com compilação da Refinitiv, de 11 casas que cobrem o papel, 6 possuem recomendação de compra, 4 neutra e 1 de venda, com preço-alvo médio de R$ 28 (ou um potencial de valorização de 31%). No início de novembro, mesmo após a divulgação de números positivos no terceiro trimestre, o Credit Suisse destacou manter recomendação neutra para a companhia, destacando pressão de custos e a possível redução da demanda com auxílio emergencial. O cenário de curto prazo pode ser desafiador, mas a companhia está otimista e com um plano ambicioso para os próximos 10 anos.
Treinamento gratuito: André Moraes mostra como identificar operações com potencial de rentabilidade na Bolsa em série de 3 lives – assista!