Os 3 motivos para acreditar na queda do dólar, segundo fundador da GAP Asset

Os 3 motivos para acreditar na queda do dólar, segundo fundador da GAP Asset

maio 25, 2020 Off Por JJ

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(Getty Images)

A queda do dólar está longe de ser uma visão consensual no mercado financeiro. Aliás, muito pelo contrário, como mostra o próprio InfoMoney nesta reportagem: a visão dominante entre os bancos há duas semanas, era de dólar cotado acima de R$ 6 no curto prazo – o Deutsche Bank, inclusive, disse que o dólar poderia chegar a R$ 6,50.

Tornando curta uma história longa, a maioria dos bancos nutria uma visão negativa para o real baseada em: 1) baixo potencial de crescimento futuro em meio à pior recessão da história brasileira, 2) desalinhamento político entre o Planalto e o Congresso, 3) gastos permanentes afetando a sustentabilidade fiscal do governo, 4) novos cortes de juros que afastariam ainda mais o capital especulativo do país.

Mesmo diante de um cenário assim, o dólar saiu de quase R$ 6 na semana passada para R$ 5,48 nessa manhã – e poderá cair ainda mais, de acordo com Renato Junqueira, gestor e fundador da GAP Asset. O fundo Absoluto GAP está +5% no ano e +17% em doze meses.

Com quase 25 anos de mercado, Junqueira disse no Coffee & Stocks desta segunda-feira que tem preferido carregar posições mais táticas do que estruturais, tendo em vista a volatilidade atual do mercado, e elencou os três principais motivos para acreditar na queda do dólar.

Além da posição “vendida” no dólar, o gestor também carrega posição relevante comprada em bolsa brasileira. Abaixo, um resumo dos principais trechos da conversa. A entrevista completa, em vídeo, está abaixo:

Alinhamento político e busca pela sustentabilidade fiscal

No final de abril, entramos num capítulo de turbulência política grande. O grande desafio do Brasil é garantir a sustentabilidade das contas públicas, mas quando uma crise política – como a que tivemos – se instaura, é normal começarmos a temer pela insustentabilidade fiscal. Nesse cenário, juros e dólar sobem enquanto a bolsa cai.

De duas semanas para cá tivemos alguns sinais relevantes de que o pilar fiscal será sustentado: primeiro, o presidente Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia, presidente da Câmara, se reuniram simbolicamente para conversar; depois, tivemos a reunião de Bolsonaro com governadores. O próprio presidente está mais contido.

O vídeo da reunião ministerial divulgado na sexta-feira foi um fiasco. O que vimos foi uma reunião ministerial com Bolsonaro cobrando os seus ministros, como era de se esperar de um presidente e com nenhuma novidade sobre interferência política dele na Polícia Federal. Além disso, vimos um alinhamento e respeito muito grande entre Bolsonaro e Paulo Guedes. Resumindo: não aumentou o risco de impeachment por conta do vídeo.

Real descontado ante pares emergentes

Quando comparamos o real com moedas de países emergentes, como África do Sul e México, vimos que o real depreciou 7% a mais do que eles. A questão crucial era o alinhamento político, que parece já não ser um grande problema.

Que todos os países sairão da crise mais endividados, disso não há dúvidas. Mas sairão melhores aqueles que criarem condições de implementarem juros baixos por mais tempo.

Eu também acredito que as moedas de países emergentes como um todo devem se fortalecer à medida que começarmos a ter notícias menos ruins sobre o coronavírus.

Visão consensual do mercado sobre o dólar

Juntamos os dois motivos anteriores à posição estrutural do mercado comprado em dólar. As pessoas estão muito posicionadas. Como o dólar saiu de R$ 5 pra quase R$ 6 em dois meses, as pessoas ficam mais confiantes em carregar mais do que deveriam em dólar por acharem que a alta vai se perpetuar. Não é bem assim e a verdade é que o real já ficou bem para trás dos seus pares. Diante disso, preferimos ficar vendidos em dólar nesse momento.

Mas é sempre importante ressaltar nossa posição tática e não estrutural: estamos olhamos o mercado em capítulos. Não sabemos qual será o capítulo da semana que vem, mas para nós o grande risco de volatilidade do mercado hoje é mais positivo do que negativo. É o risco de algum remédio ou cura para o coronavírus sair.

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