O que esperar para o IRB em meio à montanha-russa das ações na Bolsa?
outubro 7, 2020
SÃO PAULO – Quem investiu nas ações do IRB (IRBR3) entre o fim de setembro e o começo de outubro em meio a uma maré de boas notícias para o ressegurador tomou um verdadeiro balde de água fria nas últimas duas sessões.
Afinal, após uma disparada de 60% entre o fechamento do dia 21 de setembro e do dia 5 de outubro, com as ações passando de R$ 5,41 para R$ 8,65 em apenas 10 pregões, os papéis IRBR3 registram o segundo dia de derrocada na B3, conforme destaca o gráfico abaixo. Na mínima desta quarta, o papel chegou a R$ 6,36 (-11,30%), acumulando uma queda de 26% em apenas dois dias. Com isso, o ativo IRBR3 firma-se como a maior queda do Ibovespa em 2020, registrando baixa superior a 80%.
Tamanha volatilidade chamou a atenção inclusive da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que questionou a companhia sobre as fortes oscilações dos papéis, principalmente no pregão do último dia 6, quando as ações desabaram 17,11%. O volume negociado também foi muito forte, de R$ 1,3 bilhão, bem acima da média recente, de cerca de R$ 540 milhões nos últimos 21 dias.
O IRB respondeu na manhã desta quarta-feira (7) destacando a notícia que já era de conhecimento público na sessão anterior. O movimento de forte queda ocorreu por conta da retomada de cobertura das ações pelo UBS BB, com recomendação de venda e preço-alvo de R$ 4,60, o que configura uma queda de 47% em relação ao fechamento de segunda-feira, aos R$ 8,65, e de 36% frente o fechamento de terça (R$ 7,17).
Vale ressaltar que, antes de interromper a cobertura – suspensa após questionamentos da gestora Squadra e que desencadeou a descoberta de fraudes contábeis na empresa – a recomendação do UBS BB era de compra e o preço-alvo era de R$ 48. Ou seja, houve uma baixa de 90% no preço-alvo.
Com essa retomada de recomendação, o UBS BB dá dois sinais para o mercado: um positivo e outro negativo. Ao mesmo tempo que mostra uma confiança maior na atual gestão da companhia depois de meses turbulentos desde fevereiro, também indica que o IRB terá um longuíssimo caminho para percorrer.
Vale ressaltar que, em março, no auge da polêmica após a notícia enganosa de que o megainvestidor Warren Buffett teria comprado ações da companhia, muitas casas interromperam a sua cobertura para o ativo, esperando maior visibilidade sobre os verdadeiros números da empresa e também sinais da nova gestão, uma vez que os principais comandantes haviam saído em meio aos escândalos (veja mais clicando aqui).
Agora, com alguns números já apresentados e a nova gestão tornando-se mais transparente sobre o que esperar para a companhia, os analistas se dividem sobre o passo de recuperação na Bolsa.
Para os analistas do UBS BB, a avaliação de que a companhia terá um “novo normal” bem mais modesto a partir de agora motivou a recomendação de venda em meio às fortes altas recentes. Segundo o banco, a cotação por volta dos R$ 8,10 (perto do valor do fechamento da ação na sexta-feira) não se justificaria, já que embute um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) de 20% e uma taxa de sinistralidade de 62% no longo prazo, alinhada à média registrada entre 2014 e 2019. Para os analistas Mariana Taddeo e Kaio Prato, esses números são muito altos frente à situação da companhia.
Para eles, a reconstrução do IRB ainda vai demorar, uma vez que a empresa ainda busca superar os problemas de governança corporativa. Além disso, o IRB deve desacelerar o ritmo de crescimento de prêmios, com a nova administração priorizando a rentabilidade.
A expectativa do banco é de que, após atingir um número negativo de 18,5% em 2020, o IRB registre um ROE positivo de 4% em 2021, ante média de 9,6% dos pares globais, que subiria para 12,3% em 2024, aí sim voltando a superar a média dos rivais globais (esperada para 11%).
Assim, o ROE ficaria bem abaixo da média histórica de 27% entre 2014-2019, principalmente pelos seguintes fatores: 1) abordagem mais conservadora da nova gestão para provisões; 2) acúmulo de capital (aumento de capital) e menor distribuição de dividendos para enfrentar a iliquidez regulatória; 3) custo de retrocessão potencialmente maior; 4) uma taxa de imposto efetiva mais alta em decorrência de sua menor exposição internacional; e 5) menor contribuição de ganhos não recorrentes. A retrocessão ocorre quando a resseguradora transfere parte dos seus riscos absorvidos a outras resseguradas ou até mesmo para seguradoras.
Neste cenário, enquanto o IRB deve diminuir o ritmo de crescimento de apólices premium, as margens dos contratos serão achatadas pela nova postura mais conservadora da nova gestão e também pela elevada taxa de sinistros. O UBS BB espera um índice de sinistralidade de 95,2% em 2020, 73% em 2021 e chegando a um patamar normalizado de 70% apenas em 2024 (considerado saudável para as empresas do setor). Enquanto isso, os resultados financeiros devem ser pressionados em um cenário em que as taxas de juros estão em patamares historicamente baixos.
Recuperação já em 2021?
A percepção de um cenário desafiador para a empresa não é exatamente uma novidade, com muitos analistas já mostrando ceticismo após os resultados do segundo trimestre (apresentados no fim de agosto), considerados fracos e que levaram inclusive a revisões de recomendação para baixo (veja mais clicando aqui).
Contudo, a recomendação do UBS BB acabou pegando muitos investidores de surpresa em meio ao noticiário dos últimos dias indicando que, a princípio, o pior poderia ter passado para a ação após as fortes registradas desde fevereiro.
Os dados não auditados e enviados à Superintendência de Seguros Privados (Susep), mostrando que a companhia registrou um prejuízo líquido de R$ 62,4 milhões em julho, prejuízo bem menor do que os R$ 292,6 milhões registrados no mês anterior, animou o mercado. Vale destacar ainda que, excluindo o impacto dos negócios descontinuados, o lucro do mês seria de R$ 36 milhões.
Seguiu-se a isso, no final de setembro, o noticiário de elevação do rating para brAAA pela agência Standard & Poor’s, com perspectiva estável, destacando que as mudanças na direção “fortalecerão a governança e melhorarão a cultura de risco, embora essas mudanças sejam recentes e precisem de tempo para materializar por completo”.
Além disso, o Conselho de Administração da resseguradora aprovou emissão de debêntures simples não conversíveis no valor de até R$ 900 milhões de reais para reenquadrar a empresa aos critérios de cobertura de provisões e margem de liquidez definidos pela Susep e pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), um dos fatores de risco para a companhia. Em seguida, o IRB anunciou a antecipação de seus resultados do terceiro trimestre para 3 de novembro após o fechamento do mercado, o que é visto como positivo pois deve reduzir as incertezas sobre os números da companhia, sendo que os dados prévios de julho já haviam animado.
Assim, entre as incertezas da retomada, há também quem avalie que a ação pode ter uma recuperação mais forte na Bolsa até 2021, caso da Eleven Financial, uma das únicas casas de análise com recomendação de compra para a ação. Mais do que isso, o preço-alvo projetado para 2021 é de R$ 20 – ou seja, um potencial de valorização de 179% frente o fechamento da véspera.
No final de setembro, em entrevista ao InfoMoney, Carlos Daltozo, co-head de Renda Variável da Eleven Financial, destacou que o patamar abaixo dos R$ 6,93 (da operação de aumento de capital recente) é altamente especulativo e visto pelo analista como uma reação exagerada do mercado.
O analista ainda apontou que a companhia limpou o balanço e, quando resolver a pendência de liquidez regulatória com a Susep (veja mais clicando aqui), essa pode ser uma sinalização ainda mais efetiva de retomada da companhia.
Daltozo apontou que, obviamente, o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) da companhia não vai voltar a ser os de 40% observados antes das polêmicas sobre o IRB virem à tona, já que eram baseados em dados errôneos, mas vê o ROE próximo da casa dos 20%. “Lógico que será um retorno gradual, mas deve haver uma retomada, ainda mais considerando as vantagens competitivas da companhia”, apontou.
Entre os extremos, maior parte recomenda cautela
Em um cenário de incertezas no radar, a maior parte dos analistas de mercado prefere manter cautela com o papel. De acordo com o consenso Bloomberg, apenas duas casas de análise recomendam compra para o ativo, quatro têm recomendação de manutenção e quatro de venda (ou equivalente).
Daltozo ressaltou que, apesar de estar otimista com o papel, ainda há um grau de desconfiança grande no mercado sobre os possíveis “esqueletos no armário”, incerteza esta que acaba gerando volatilidade para os ativos.
Victor Hasegawa, gestor da Infinity Asset, destacou que a empresa está passando por um momento difícil, mas ele aponta não estar pessimista com o ativo. O gestor ressalta que, para o setor, a liquidez é importante, algo que o IRB está conseguindo endereçar com o aumento de capital e expectativa de emissão de debêntures.
“A nova gestão está focando em retorno melhor, tem uma postura mais conservadora, então é natural que haja menos expansão agora – e é bom que isso aconteça. Toda empresa é assim, quando troca a gestão, os novos executivos já querem mostrar logo tudo que há de ruim, para depois mostrarem as coisas boas. Acredito que vão fazer turnaround (virada). É a maior empresa de resseguros do Brasil e tem potencial de crescer, foi atrapalhada por má gestão, mas pode se recuperar”, avalia Hasegawa.
No comunicado em que esclareceu a oscilação de ações para a CVM, o IRB apontou que o plano de regularização de liquidez junto à Susep foi formalmente aprovado pela Comissão e vem sendo cumprido. A solvência em junho era de 101% e, após a operação de capitalização, ficou no patamar de 244%, “estando, portanto, a sua saúde econômico-financeira no mais alto nível do mercado global de resseguros”.
Além disso, reiterou que não planeja realizar nenhuma chamada de capital além da que aconteceu em agosto, que não perdeu nenhum contrato importante e teve crescimento de prêmio emitido total da ordem de 24,5% nos sete primeiros meses de 2020.
A companhia também apontou que o resultado de julho já demonstra melhora, com uma menor influência dos efeitos dos negócios já descontinuados (clean-up do portfólio) e que os negócios remanescentes (run-on) já demonstram estar no caminho do break even (equilíbrio).
Com todos os prós e contras para a companhia, o próximo grande evento marcado e que será observado de perto pelos investidores é o resultado do terceiro trimestre, a ser revelado no início de novembro. O balanço do período dará mais sinais sobre o ritmo de recuperação do IRB e se o agora tão almejado ROE de 20% pode ser atingido em breve – ou se o caminho será ainda mais árduo do que o mercado já vem apontando.
(Colaboração de Priscila Yazbek)
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