O ciclo de vida dos mercados

O ciclo de vida dos mercados

agosto 20, 2020 Off Por JJ

Dizem por aí que sobre política, religião e futebol não se discute: cada um tem uma opinião, e nunca chegaremos a um denominador comum – ou seja, quando o assunto é um deles, é briga na certa.

Será que, no caso do mercado, poderíamos dizer que cada um tem uma opinião a respeito do tema Bolsa de Valores? Que não vale a pena discutir para onde ela vai?

Quando você olha um gráfico do comportamento do preço no tempo, vai notar que existem momentos em que a Bolsa sobe e outros em que ela cai. Entre os topos e os fundos, há um grande debate entre os participantes.

O que acontece é que os mercados se movimentam em ciclos. Ao longo deles, é possível identificar, em alguns pontos, o sentimento desses participantes. E é sobre isso que eu quero falar com você hoje.

Howard Marks, um dos maiores investidores da atualidade e autor do livro Dominando o Ciclo dos Mercados, criou um modelo que traduz muito bem como os preços dos ativos, os fundamentos das empresas e a psicologia dos investidores interagem entre si.

No gráfico acima, vemos o ciclo dos mercados segundo Marks. Vou falar um pouco mais detalhadamente de cada uma dessas fases pelas quais ele passa e trazer alguns exemplos vividos na nossa economia e no mundo.

Otimismo: é a primeira fase e, provavelmente, a que estamos vivenciando agora. O mercado ignora os riscos e começa a mudar a característica de suas projeções.

Empolgação: o mercado se aproxima das projeções feitas pelos analistas rapidamente, e isso tem um motivo: a informação está sendo compartilhada, o que faz com que mais participantes entrem no mercado.

Excitação: foi o que vivemos em 2019: o Ibovespa já acumulava uma rentabilidade de mais de 200% desde 2016, e a expectativa era de que a aceleração de crescimento seria muito forte. A excitação cria a sensação de que está tudo bem, e o risco de os mercados se corrigirem se torna algo muito forte e contraintuitivo.

Euforia: neste momento, até investidores mais céticos sentem que estão errados e prontos para jogar a toalha. Se na fase de euforia todos já estão comprados, quem vai comprar? Quando teremos o novo fluxo? É aqui que as coisas começam a mudar.

Ansiedade: me faz lembrar de fevereiro deste ano, quando a China, a segunda maior economia do planeta, estava 100% parada, e investidores no Brasil falavam que isso traria uma queda para os mercados, criando oportunidades para se investir.

Negação: logo após o Carnaval, o Ibovespa retornava aos 100 mil pontos. O discurso era tão claro no período de euforia que não existia uma justificativa para acreditar que o mundo entraria em um período de quarentena ou lockdown devido à pandemia do novo coronavírus.

Medo: eis que chega o momento de arrependimento, pois a dor da perda é maior do que qualquer benefício esperado. As pessoas começaram a fazer contas de quanto estavam perdendo e se existia a possibilidade de as cotações voltarem aos níveis em que tinham investido.

Desespero: as pessoas ficam desesperadas, em busca de saber o que devem fazer. O que era certo se tornou não apenas incerto, mas também errado. Aceitar uma situação como essa não é nada fácil.

Pânico: então, algo que estava fora das estatísticas e projeções acontece. Em 2020, o mercado teve a maior queda e a maior sequência de circuit breakers da história. Com isso, temos a sensação de que estamos em um mundo desconhecido. Esse é o momento em que prevalece a certeza de que as coisas estão ruins, o que nos leva à…

Capitulação: é quando todo mundo sai da Bolsa e não tem mais quem possa vender. Aqui no Brasil, os fundos foram “estopados”. É a situação que aconteceu em 20 de março de 2020, o dia da mínima do ano e também quando a Bolsa acabou fechando em uma alta de 2,15%. A força vendedora, pela primeira vez, deu uma trégua.

Desânimo: momento em que ninguém mais acredita em um futuro positivo, e pensar no longo prazo gera uma grande dor. No entanto, no nosso mundo de conexões, de descentralização da informação, de juros baixos e estimulantes, de medo de ficar parado, a fase de desânimo acabou sendo muito curta.

E, assim como a Bolsa caiu, a capacidade de analisar as oportunidades se deu numa intensidade de mesma grandeza. Nessa fase, tivemos o evento da saída do então ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, que, somada ao momento, gerou uma atmosfera triste sobre o Brasil. Um verdadeiro desânimo.

Depressão: por fim, chega o período da depressão, que durou até o dia 14 de maio, quando inesperadamente um vídeo da reunião ministerial foi divulgado, revelando muito mais do que deveria – como o quão “despreparado” estava o presidente da República.

Esperança e alívio: com a ampla exposição do vídeo – que, no fim, acabou trazendo conforto quanto ao posicionamento pró-mercado do presidente –, esses dois sentimentos tomaram conta: a Bolsa reagiu de maneira positiva e, com os avanços em relação à descoberta da vacina contra a Covid-19, chegamos ao momento atual.

Otimismo: estamos na fase de transição do alívio para o otimismo, com um fluxo muito grande de liquidez no mundo todo. Foram US$ 20 trilhões injetados na economia global que, somados aos juros baixos, abre um grande espaço para a valorização das Bolsas.

Como tem acontecido em ciclos anteriores, as próximas fases serão marcadas por eventos e respostas dos mercados. É libertador trabalhar seguindo esse pensamento, pois não criamos uma grande expectativa de retorno ou uma sensação dolorida de fim dos tempos.

Além disso, saber o que estamos procurando permite que não entremos na discussão de quem está certo ou errado.

No fim das contas, aquele velho ditado que diz que em política, futebol e religião cada um tem uma opinião não precisa ser mudado.

Olhar para as Bolsas é olhar para o comportamento das massas respondendo aos seus movimentos com excitação e euforia ou desânimo e depressão.

A região central desse cenário é uma questão de disputa de análises e, com o mundo bem mais dinâmico em que vivemos, o que melhor fazemos é tentar evoluir a nossa capacidade de analisar.

Abraço,

Guga Almeida

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