No G20, Lula cobra recursos de países ricos contra aquecimento global

No G20, Lula cobra recursos de países ricos contra aquecimento global

setembro 10, 2023 Off Por JJ

Os países mais ricos, que contribuíram “historicamente” mais para o aquecimento global, devem arcar com os maiores custos para combater o problema. Essa foi uma das cobranças feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a abertura da Cúpula do G20, neste sábado (9). A reunião fez parte da sessão intitulada “Um planeta Terra” no evento que é realizado em Nova Déli, na Índia.

O presidente exemplificou que as mudanças climáticas, neste momento, afetam o estado do Rio Grande do Sul, com a passagem de um ciclone que deixa desabrigados e mortos. Ele pontuou ainda que os efeitos da mudança do clima têm mais consequências para grupos vulnerabilizados. “São os mais pobres, mulheres, indígenas, idosos, crianças, jovens e migrantes, os mais impactados.”

De acordo com o último balanço da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, foram confirmadas 41 mortes e o número de desaparecidos subiu para 46 pessoas. A estimativa do governo estadual é que mais de 120 mil pessoas tenham sido afetadas.

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa da abertura da Cúpula do G20 (Ricardo Stuckert/PR)

Para Lula, a falta de compromisso dos mais ricos gerou uma dívida “acumulada ao longo de dois séculos”. “Desde a COP [Conferência das Partes] de Copenhague, [em 2009], os países ricos deveriam prover 100 bilhões de dólares por ano em financiamento climático novo e adicional aos países em desenvolvimento. Essa promessa nunca foi cumprida”.

Emergência climática

Lula alertou que a falta de compromisso mundial com o meio ambiente levou a uma “emergência climática sem precedentes”. “Se não agirmos com sentido de urgência, esses impactos serão irreversíveis”, apontou. O discurso lido no evento reforçou que o aquecimento global modifica o regime de chuvas e eleva o nível dos mares. “As secas, enchentes, tempestades e queimadas se tornam mais frequentes e minam a segurança alimentar e energética.”

Outra crítica feita pelo presidente é que os países mais ricos não podem ficar transferindo responsabilidades para as nações do hemisfério Sul. “De nada adiantará o mundo rico chegar às COPs do futuro vangloriando-se das suas reduções nas emissões de carbono se as responsabilidades continuarem sendo transferidas para o Sul Global”.

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Lula avalia que não faltam recursos tendo em vista o gasto com armas. “Ano passado, o mundo gastou 2,24 trilhões de dólares em armas. Essa montanha de dinheiro poderia estar sendo canalizada para o desenvolvimento sustentável e a ação climática.”

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Ele defendeu que o Brasil tem feito a lição de casa e que a proteção da floresta e o desenvolvimento sustentável da Amazônia estão entre as prioridades do atual governo. “Nos primeiros 8 meses deste ano reduzimos o desmatamento em 48% em relação ao mesmo período do ano passado”, exemplificou, citando a realização da Cúpula da Amazônia e o lançamento de uma nova agenda de colaboração entre os países que fazem parte daquele bioma.

O presidente brasileiro adiantou que, durante o período que o Brasil estiver na presidência do G20, lançará uma “Força Tarefa para Mobilização Global contra a Mudança do Clima”. “Queremos chegar na COP 30, em 2025, com uma agenda climática equilibrada entre mitigação, adaptação, perdas e danos e financiamento, assegurando a sustentabilidade do planeta e a dignidade das pessoas.”

Combate à fome

Em seu segundo discurso do dia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfatizou a desigualdade e a necessidade de combate à fome, como já era aguardado. “Lançaremos, em nossa presidência do G20, uma Aliança Global contra a Fome”, adiantou.

A fala ocorreu durante a segunda sessão do evento realizado em Nova Délhi, com o título “Uma família”. Está prevista mais um discurso do chefe do Executivo amanhã, na cerimônia de encerramento do evento, quando receberá a transmissão da presidência rotativa do G20 da Índia de forma simbólica.

Extrapolando as ações internas para o G20, Lula disse que “é preciso colocar os pobres no orçamento público e fazer os mais ricos pagarem impostos proporcionais aos seus patrimônios”. O chefe do Executivo citou que a renda dos mais ricos passou de 18 vezes para 38 vezes a dos mais pobres em dois séculos.

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Também salientou que os 10% mais ricos detêm 76% da riqueza do planeta, enquanto os 50% mais pobres possuem apenas 2%. “Apesar de todos os esforços, nossa família está cada vez mais desunida. O que nos divide tem nome: é a desigualdade, e ela não para de crescer”, afirmou.

O mandatário brasileiro continuou dizendo que, conforme as Nações Unidas, no ritmo atual, cerca de 84 milhões de crianças ainda estarão fora da escola até 2030 e que, segundo a FAO, a fome afeta mais de 700 milhões de pessoas em todo o mundo. “O mundo desaprendeu a se indignar e normalizou o inaceitável”, considerou. “A crença de que o crescimento econômico, por si só, reduziria as disparidades se provou falsa. Os recursos não chegaram nas mãos dos mais vulneráveis.” Lula citou ainda a discriminação contra mulheres, minorias raciais, LGBTQI+ e pessoas com deficiência.

Sobre as instituições financeiras internacionais, uma bandeira do brasileiro que será levada para a presidência no ano que vem, a intenção é a de que sejam reformuladas. “Esses organismos devem funcionar a serviço do desenvolvimento, em vez de agravar o endividamento”, afirmou.

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