Momento ainda não é propício para entrar na Bolsa, diz gestor da Kapitalo
outubro 29, 2020
SÃO PAULO – Nas últimas semanas, a preocupação do mercado com a falta de compromisso do governo brasileiro com uma trajetória sustentável da dívida pública aumentou consideravelmente, haja vista a forte alta dos prêmios nos títulos públicos ou a dificuldade da Bolsa em superar a barreira dos 100 mil pontos.
A esperança de Carlos Woelz, sócio-diretor e gestor da Kapitalo, é que o receio dos investidores chegue a tal ponto que o governo se veja obrigado a apresentar algum plano minimamente decente sobre como pretende lidar com o desafiador quadro fiscal.
“O mercado vai piorar até ter um plano bom”, afirmou Woelz, durante live realizada nesta quarta-feira (28) pela casa de análise Spiti. “Não acho que seja um momento para comprar”, acrescentou o gestor, destacando que o governo não deu ainda a devida atenção ao tamanho da bomba que tem nas mãos.
Por estar no time dos gestores mais pessimistas com as perspectivas de curto prazo para as contas públicas, Woelz, responsável por cerca de 50% do risco dos multimercados da Kapitalo, não tem no momento nenhuma posição relevante no “book” sob sua responsabilidade no mercado local, seja na Bolsa, na renda fixa ou no câmbio.
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Mesmo com alguns ativos com preços bastante atraentes, como o real, que o gestor avalia estar muito barato.
“Flertei em comprar real em algum momento, mas o governo sempre me decepciona”, disse Woelz, que classificou o programa de auxílio emergencial como uma “bizarrice”, por ter contemplado, em sua visão, muita gente que não precisava de ajuda.
No caso da renda fixa, Woelz reconheceu que a Kapitalo não conseguiu prever a alta mais recente dos preços, tendo perdido o bonde para adotar uma posição tomada nos juros, que ganha com a alta das taxas.
Ele disse também que, de modo geral, as bolsas globais não estão caras nos níveis atuais, frente à falta de prêmio na renda fixa.
Além disso, o gestor acredita que o mercado de renda variável, no Brasil ou no exterior, tende a mostrar algum tipo de resiliência em caso de uma decepção com a retomada da economia nos próximos meses.
Isso porque o investidor pessoa física de diversas partes do mundo, que comprou ações mesmo em março e em abril, quando as dúvidas eram muito maiores do que hoje, provavelmente entraria comprando novamente em caso de uma nova queda mais acentuada, prevê Woelz.
Medo da onda azul
Na parcela global do portfólio, o gestor vem com uma posição comprada na inflação americana, que tende a se beneficiar de um aumento nos prêmios da curva de juros dos EUA.
“O grande risco é aparecer inflação e a renda fixa que parece super baixa não ser verdade, e ter uma taxa de desconto muito mais alta pela frente”, afirmou Woelz, acrescentando que esse é um risco que não pode ser totalmente descartado.
Ele disse acompanhar com algum receio a possível intensidade elevada com que se dará a volta da demanda, acima da capacidade da oferta, quando a pandemia estiver definitivamente controlada.
A provável onda azul nos EUA, pelo risco fiscal que traz no bojo, também foi apontada como um dos riscos no radar.
“Tem uma chance razoável disso [vitória dos democratas na presidência e no congresso] acontecer”, afirmou Woelz, que se mostrou surpreso com a magnitude da queda dos mercados na quarta-feira diante da segunda onda da pandemia na Europa.
A volta da doença conforme as medidas de restrição são relaxadas, e antes da descoberta da vacina, não era algo tão inesperado, observou.
“Tenho até um pouco de dificuldade de entender por que o mercado está tendo essa queda tão abrupta hoje [quarta-feira]”, afirmou o gestor da Kapitalo. Caso a segunda onda venha a se mostrar mais grave do que o esperado, os governos não devem tardar em colocar ainda mais dinheiro em circulação no sistema financeiro, prevê Woelz.
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