MMX e OSX: entenda uma das maiores bolhas especulativas da Bolsa

MMX e OSX: entenda uma das maiores bolhas especulativas da Bolsa

outubro 20, 2020 Off Por JJ

Texto originalmente enviado para os assinantes da newsletter Stock Pickers no sábado, 17 de outubro. Nesta segunda-feira as ações da MMX caíram 32,77%, fechando a R$ 12,11, em um movimento provavelmente associado à resposta da Vetorial, empresa que atualmente explora a mina Emma, que a MMX tenta reaver. A Vetorial disse ser “impossível” a empresa de Eike retomar a posse.

Os papéis da OSX, que haviam subido na esteira da mineradora, caíram 27,62% nesta segunda-feira, fechando a R$ 12. Mesmo com a queda expressiva, ainda não podemos dizer que o movimento especulativo acabou. Desde o fechamento de 5 de outubro, OSX acumula alta de 160%, enquanto MMX multiplicou em 562%.

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Pela terceira semana seguida estamos nós aqui, na sua caixa de entrada, falando sobre fantasmas do passado.

Gostaríamos de olhar para a frente, de falar do futuro, mas as circunstâncias e o mercado nos obrigam a mais uma vez reviver nossos traumas, pois Eike Batista e suas empresas, talvez a maior e mais assustadora assombração do mercado de capitais do Brasil, ressurgiu.

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E não ressurgiu discretamente, nem pedindo licença: foi logo jogando números exorbitantes de valorização e volume de negociação na cara do investidor.

Aliás, vamos a eles.

No dia 5 de outubro a ação da MMX era negociada por valores em torno de R$ 1,80, e o volume diário ficava na casa dos R$ 50 mil, patamares de todo o ano.

No dia seguinte o volume de negociações começou a subir e chegou a quase R$ 1 milhão (20 vezes mais que a véspera), enquanto o papel subiu “só” para R$ 1,88.

Daí em diante o movimento da ação foi assombroso, chegando a valer R$ 58,45 na quarta-feira (14), ou 3.094% em relação ao fechamento do dia 5, com um volume de negociação de R$ 110 milhões.

Mas por que?

A própria MMX informou à CVM que a alta de seus papéis poderia estar ligada a um processo que a empresa abriu para reaver o direito de exploração de uma mina em Corumbá, Mato Grosso do Sul, informado ao mercado em Fato Relevante do dia 30 de setembro.

A pergunta que ainda não conseguimos responder é por que o mercado demorou tanto tempo para reagir a esse informe? Ninguém estava olhando para a empresa só por que ela está em recuperação judicial? Será que o mercado não é eficiente?

Coincidência ou não, o movimento de alta da MMX começou por volta das 14h30 da quarta-feira (7), ao mesmo tempo que o Fato Relevante circulava em grupos de investidores do WhatsApp.

A partir daí, o que os gráficos mostram é euforia, efeito manada e especulação pura, que, como era de costume na “era Eike”, se espalhou para a OSX, sua empresa de construção naval.

OSXB3 subiu da casa dos R$ 4,4 para R$ 44 na quarta (14) e o volume de negócios, que antes ficava perto de ínfimos R$ 5.000, se aproximou dos R$ 45 milhões.

O saldo, entre o fechamento do dia 5 até ontem é de +941% para a MMX e +258% para OSX, em uma valorização que pode parecer linda quando batemos o olho, mas esconde uma volatilidade que certamente machucou muitos bolsos.

Veja, por exemplo, o gráfico dos dias 13 e 14, abaixo. MMXM3 fechou no dia 13 valendo R$ 36. Abriu no dia seguinte a R$ 41,50 e às 11h20 chegou ao topo, R$ 58,45. Duas horas depois, valia R$ 12,99 e fechou a R$ 17.

Aqueles compradores que começaram o dia pagando R$ 41,50 terminaram o pregão perdendo 52% do capital. Quem comprou no topo, saiu com apenas 30% do dinheiro.

É volatilidade mal usada gerando prejuízo.

Eu e o Thiago Salomão ganhamos a vida ouvindo pessoas que sabem o que estão fazendo na Bolsa. Mesmo elas consideram esse um trabalho difícil, e no qual, com o perdão da repetição, não se pode prescindir de saber o que está fazendo.

Não existe nada de errado em especular com qualquer papel, mas é preciso saber o risco que se corre e que a perda pode ser altíssima, ou total no caso de papéis super especulativos.

Também não custa relembrar, mesmo brevemente, o currículo das empresas X. Tanto OSX quanto MMX estão há anos em recuperação judicial. Seu dono foi condenado por manipulação do mercado, está impedido de dirigir empresas de capital aberto e já morou em Bangu 8.

A bolha do alicate

Bolhas especulativas não são tão incomuns. Uma das mais impressionantes aconteceu com a Mundial em 2011.

Entre 27 de maio e 19 de julho a ação subiu incríveis 1.400%, embalada por uma promessa de reestruturação da empresa, que culminaria com a migração para o Novo Mercado. O volume negociado era tanto que a Mundial estava elegível para fazer parte do Ibovespa (em alguns pregões, ela chegou a ser a ação mais negociada).

Em meio à euforia alguém se deu conta de que, apesar de tantas promessas, a empresa continuava sendo uma mera fabricante de alicates de unha e tesouras e que o preço do papel não fazia sentido.

Em três pregões (20, 21 e 22 de julho), a empresa perdeu 86,5% de valor de mercado. O evento ficou conhecido como “Bolha do Alicate”.

Pouquíssimos investidores conseguiram se livrar desta queda, pois nestes dias a volatilidade foi tão grande que a ação foi negociada por poucos minutos em cada dia, entrando e saindo de leilão. No dia 21 de julho, por exemplo, ela foi negociada por apenas 4 minutos durante todo o pregão.

No meio da euforia, muita gente também se expôs à Mundial via mercado a termo, que permite alavancar o capital investido. Com a queda, estas pessoas não só perderam todo dinheiro aplicado como ficaram devendo uma grana preta para as corretoras.