Luiz Barsi mira empresas com projetos novos e descarta aquelas que remuneram acionistas com “esmolas”
julho 13, 2022SÃO PAULO (Reuters) – Um dos maiores investidores de ações no Brasil, Luiz Barsi está comprando papéis de companhias com projetos novos, enquanto remaneja sua carteira, consolidando posições em empresas que ofereçam “dividendo eficiente” e excluindo aquelas que estão distribuindo “esmolas” aos acionistas.
Ele reduziu o ritmo das compras em relação ao começo do ano, quando tinha “metas mais ambiciosas”, tanto porque esses objetivos foram sendo alcançados, como porque as cotações mudaram. “Eu continuo comprando, mas com uma velocidade menor, porque os preços evoluíram”, afirmou em entrevista à Reuters no escritório em que dá expediente no centro da capital paulista.
A empresa de energia Auren (AURA33), que se apresenta como uma das maiores plataformas de renováveis e comercialização do Brasil, é um dos investimentos de Barsi. Na mesma lista, estão Vibra, de distribuição de combustíveis, e Cosan, conglomerado de combustíveis e logística.
Ele também defendeu uma de suas posições relativamente novas – a aquisição de IRB Brasil RE (IRBR3) em 2021. O papel da resseguradora sofreu com uma crise de confiança após descoberta de fraude contábil no começo de 2020, acumulando desde então uma desvalorização de cerca de 90%.
Para o investidor, a empresa está recuperada, mas precisa de um impulso, que será um aumento de capital. “É como uma locomotiva, está no trilho, mas não anda, precisa de combustível e o combustível é a capitalização”, disse. Na semana passada, a sua filha mais nova, Louise, foi eleita para integrar o comitê de auditoria da resseguradora.
Barsi, que recebeu 1 milhão de reais por dia em proventos referentes a 2021, elencou Banco do Brasil (BBAS3), Klabin (KLBN11), Santander Brasil (SANB11), presentes há anos na carteira do “Rei dos Dividendos, entre as empresas que remuneram de forma mais eficiente seus acionistas. BB e Klabin, assim como Unipar (UNIP6), são suas maiores posições.
No ano passado, porém, Barsi se desfez de suas posições em Itaúsa (ITSA4), Itaú Unibanco (ITUB4) e Bradesco (BBDC4), “porque eles deram esmola, não deram dividendo”. “Vendi e comprei outras.” Em 2021, Itaú distribuiu o equivalente líquido a cerca de 0,64 real por ação em dividendo e juros sobre capital próprio; o Bradesco, ao redor de 1 real.
Ele também não se anima com os proventos expressivos distribuídos recentemente pelas gigantes da bolsa Vale e Petrobras, que não devem se repetir, entre outras razões, pelo arrefecimento das discussões em torno da tributação dos dividendos.
Barsi afirmou que a possibilidade de tributar proventos corroborou o ano “espetacular” em termos de dividendos que foi 2021, assim como o arrefecimento dessa pressão e uma menor disponibilidade de caixa nas empresas podem suavizar os números neste ano.
“2022 será mais ameno, mais comedido, mas ainda será bom”, disse Barsi, que acumulou patrimônio de cerca de 4 bilhões de reais com uma estratégia de investir em empresas que são boas pagadoras de dividendos.
CRIPTO E CABELOS BRANCOS
Barsi agora está embarcando em um projeto estruturado pela Ações Garantem Futuro, empresa que tem entre os sócios sua filha Louise, em parceria com o Grupo Primo. Trata-se de um MBA online sobre investimentos em ações que tem como mote a estratégia adotada por Barsi.
“É o futuro”, avalia Barsi, destacando a necessidade das pessoas terem conhecimento para investirem e evitarem promessas de elevados rendimentos em um curto espaço de tempo, algo que descreve sua visão sobre moedas digitais.
“Criptomoeda não tem base, é uma fantasia. O cara que investe em criptomoeda quer lucro rápido e fácil, coisa que não existe na realidade”, disse Barsi. “É um cidadão fácil de ser ludibriado, que gosta de fantasia”, acrescentou.
A participação de Barsi no MBA, em que será um dos professores no curso a ser lançado em agosto, vai ocorrer em meio a um cenário de incertezas que tem minado a confiança dos investidores. Índice de referência da bolsa paulista, o Ibovespa perde cerca de 6% neste ano.
“Quando a bolsa está em queda, geralmente as pessoas se lembram dos cabelos brancos, voltam para se aconselhar, para estudar, se interessar pelas pessoas que têm experiência”, afirmou Louise Barsi.
ELEIÇÃO
Barsi lamentou que o direcionamento político no país tem sido no sentido populista e afirmou ser difícil fazer um prognóstico sobre qual será o efeito das eleições no mercado ou nas empresas. Mas destacou que o mercado já superou vários momentos negativos.
Na eleição passada, Barsi afirmou que votou no presidente Jair Bolsonaro. “Não votei no Bolsonaro, votei contra o Lula”, ressaltou. “Agora tem que fazer a mesma coisa, na minha opinião.”
Mas independente do desfecho eleitoral, ele não considera em um primeiro momento mudar posições que carrega há anos, incluindo as ações de Banco do Brasil e Eletrobras (ELET3;ELET6).
BUFFETT BRASILEIRO?
Também chamado de “Warren Buffett brasileiro”, em referência ao megainvestidor norte-americano, que também aposta no potencial de valor das empresas a longo prazo, Barsi afirma não gostar da comparação.
“Nós temos conceitos diferentes”, afirmou. Entre as diferenças está o fato de Buffett investir por meio de sua holding, enquanto Barsi controla diretamente suas ações.
Outra distinção é o destino de seus investimentos – Buffett prometeu doar em vida 99% do seu patrimônio para filantropia, enquanto Barsi, que já trabalhou como engraxate quando criança, deve passar sua fortuna aos cinco filhos.
“Temos que começar a pensar”, afirmou, falando sobre planejamento sucessório. “Briga vai ter, isso é inegável”, disse ele sobre eventuais desentendimentos na família em torno de seu patrimônio.
Barsi avalia que seu papel não é de ser um filantropo, um “salvador da pátria”. “A melhor ajuda que faço é conscientizar o cidadão de que tem que olhar para o futuro”, afirmou se referindo ao MBA montado pela empresa de sua filha.
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