Lucas Pit Money, o “showman” que diverte e ensina a investir

Quem é Lucas Pit Money?

A paixão pela música e o talento como baterista quase fizeram Lucas Poveda Nogueira enveredar pelo showbiz. Às vésperas de se graduar em Economia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 2010, o aspirante a músico teve de ser convencido pelos amigos a não largar o curso.

A música talvez tenha perdido um baterista versátil, mas o futuro comprovaria que Lucas tinha múltiplos talentos para além dos números.

Na faculdade, sempre foi um dos melhores alunos da turma, mesmo conciliando os estudos com os shows de sua banda. Uma das disciplinas determinantes para sua formação foi a de Economia do Investimento, ministrada pelo professor Nicolau Pompeu.

Até então, Lucas lamentava que grande parte das aulas eram quase totalmente teóricas. Mas o professor Nicolau representou uma quebra de paradigma: graças a ele, o aluno teve contato com os conhecimentos práticos de que tanto necessitava.

A decisão de estudar Economia foi bastante precoce e é atribuída a uma visita escolar de Lucas, ainda criança, à Bolsa de Valores de São Paulo. “Na hora em que vi aquela gritaria, aquele berreiro, aquela intensidade, eu falei: é aqui que vou querer trabalhar”, afirmou em entrevista ao site Crania publicada em abril de 2022.

O ambiente que parecia caótico e até mesmo assustador para a maioria de seus colegas de escola, com corre-corre frenético, gritos, semblantes tensos e uma infinidade de números saltando aos olhos por todos os lados, encantou o menino e acabou determinando seu futuro.

Lucas Nogueira hoje é conhecido como Lucas Pit Money, um verdadeiro fenômeno digital. Em seu canal no YouTube, criado em 2018 e com quase 370 mil inscritos, o economista, investidor e educador financeiro ensina as pessoas, de forma divertida e didática, a aplicarem seu dinheiro em ações que rendem dividendos.

Nos vídeos, Pit Money conquista um público fiel e cada vez maior com uma linguagem descontraída repleta de bordões como “caras de capiroto”, “abestaiados de plantão” e “tanajuros e tanajuras”, ao se referir a seus espectadores.

Também dá dicas valiosas sobre mercado financeiro, Bolsa de Valores, rendas fixa e variável, entre outros temas que aparentemente podem parecer complicados para o cidadão comum. O perfil de Pit Money no Instagram tem quase 240 mil seguidores.

Ao lado de três ex-colegas de faculdade, Lucas é fundador da casa de análise Inside Research, que oferece aos clientes recomendações de investimentos mais seguros e confiáveis em ações, fundos imobiliários e BDRs. A empresa ultrapassou a marca de 12 mil assinantes e representa mais de 90% da renda de Pit Money.

Antes de Pit Money, o Lucas trader

Depois de se formar em Economia, Lucas trabalhou por breves períodos em algumas empresas e tentou manter a carreira musical em paralelo – mas não conseguia retorno financeiro em nenhuma das duas frentes. Foi quando decidiu estudar para se tornar um trader no mercado financeiro.

O trader é um investidor que busca ganhar dinheiro com operações de curto prazo, se aproveitando da volatilidade do mercado. Basicamente, a ideia é obter ganhos financeiros realizando compra e venda de ações e outros ativos negociados na Bolsa.

Ainda estigmatizado por muitas pessoas, especialmente por quem não tem tanta proximidade com o mundo das finanças, o trader é essencial para o funcionamento do mercado. É ele quem ajuda a “precificar” os ativos no curto prazo, além de dar liquidez ao mercado.

Nos últimos anos, com o aumento da volatilidade no mercado brasileiro e o surgimento de novas ferramentas e produtos utilizados nesse setor, houve um aumento significativo nos ganhos dos traders, o que valorizou a carreira.

Lucas atuou por cinco anos como trader no mercado futuro, de 2012 a 2017 – nesse período, chegou a lucrar mais de R$ 500 mil. Trabalhando inicialmente para uma holding, ele recebia uma porcentagem dos ganhos. Mais tarde, passou a operar de forma individual.

A trajetória de Lucas sofreu uma reviravolta em maio de 2017, quando uma gravação mexeu com o Brasil.

Como o “Joesley Day” afetou Pit Money

Em 17 de maio de 2017, a política brasileira sofreu um abalo sísmico com a divulgação do áudio de uma conversa considerada por muitos “pouco republicana” entre o então presidente da República, Michel Temer, e o empresário Joesley Batista, dono da JBS. O diálogo foi gravado pelo próprio Joesley e fazia parte do acordo de delação premiada do empresário com a Procuradoria-Geral da República (PGR).

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), a conversa indicaria que Temer teria dado aval a Joesley para comprar o silêncio do ex-deputado federal Eduardo Cunha e evitar que ele fechasse um acordo de delação. “O que eu mais ou menos dei conta de fazer até agora: eu estou de bem com o Eduardo”, diz Joesley. O ex-presidente responde: “Tem de manter isso, viu?”.

Anos depois, Michel Temer foi absolvido das acusações, e a Justiça entendeu que o áudio da conversa era um indício “frágil” e que não comprovava o suposto envolvimento em atos ilícitos.

Mas, naquele 17 de maio de 2017, o áudio de Joesley abalou o mundo político e também a economia do país.

No dia seguinte (o fatídico 18 de maio, o “Joesley Day”), o impacto na Bolsa de Valores foi brutal. Os investidores ficaram temerosos de que o caso colocasse fim ao governo Temer – que conduzia uma política econômica mais liberal e havia apresentado uma série de propostas de reformas que foram bem recebidas pelo mercado.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, despencou mais de 10% em um único dia, o que fez a B3 acionar o circuit breaker pela primeira vez desde a crise mundial de 2008. Ao final do dia, o tombo foi de quase 9%.

O dólar, por sua vez, disparou mais de 8%. Houve intensa fuga de capital estrangeiro do país, em um ambiente já tumultuado desde a crise econômica de 2015 e o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.

A consequência imediata foi um desastre para Lucas. Logo nos primeiros dois minutos de negociação do pregão de 18 de maio, ele amargou um prejuízo de R$ 150 mil. A partir de então, seus negócios e sua vida pessoal foram duramente atingidos. Lucas teve de vender seu Audi e pediu dinheiro emprestado ao pai. Foram quase dez meses até que se recuperasse minimamente das perdas.

O trauma com o “Joesley Day” foi um ponto de virada e um marco na vida de Lucas. Sua postura em relação à Bolsa mudou e ele decidiu criar um canal no YouTube para compartilhar conhecimentos e experiências – as boas e as ruins – no mercado financeiro e ajudar as pessoas a investir. O próprio Lucas falou sobre o episódio em conversa com o “Coffee & Stocks Sextou”, no canal do Stock Pickers no YouTube, em 2021.

Uma das principais dicas dadas por Lucas Pit Money aos seus seguidores é sempre ter uma reserva de emergência. Aplicar em renda variável também é uma recomendação frequente, assim como diversificar a carteira e, se possível, comprar BDRs – recibos negociados no Brasil e que correspondem a papéis de empresas no exterior. O objetivo é operar no mercado com mais segurança e menos riscos.

“A ideia do canal é justamente essa: ensinar as pessoas a investir em renda variável. Não precisa ser trader especificamente, mas obviamente falo do que deu certo pra mim”, contou Pit Money em entrevista ao InfoMoney, em 2019.

“Falo tanto das dificuldades de trader quanto sobre investimentos de longo prazo em renda variável”, disse. “Esse último tópico é um tema pouco abordado. Hoje, menos de 0,5% da população investe na Bolsa de Valores. É algo fácil, mas se não tem ninguém pra explicar, parece difícil. O canal se chama Pit Money justamente porque eu mostro o que eu faço, mostro minha carteira e a porcentagem em cada ação.”

Pit Money na literatura

Além da presença em múltiplas plataformas digitais, Lucas Pit Money também já navegou no campo literário. Em 2021, ele lançou o livro “‘Buy e F*da-$€’: Como Investir Bem Sem Entrar em Parafuso”, pela Harper Collins.

O título da obra é uma divertida alusão ao termo “buy and hold”, jargão do mercado financeiro que significa, em tradução livre, “comprar e segurar” – quando o investidor compra ativos e os mantém por um longo período. Pit Money defende a estratégia de que o investidor compre ações e as deixe “trabalhando por ele”. O prefácio do livro é de Thiago Nigro, do canal O Primo Rico.

“O ‘Buy e F*da-$€’ tem uma leitura bem fácil, e o iniciante não vai ter dificuldade nenhuma. Nele, mostro, por exemplo, o método que fez com que eu ganhasse mais dinheiro do que a média, correndo bem menos riscos, e também falo sobre tipos de investimento, perfis, juros compostos. É uma obra completa, mas não complexa”, descreveu em entrevista ao iG, em 2021.

Aporte da XP

Em abril de 2022, a XP anunciou a compra de uma fatia de 20% da Inside Research, de Pit Money. Os valores da negociação não foram divulgados. Em entrevista ao NeoFeed, Lucas afirmou que a meta é expandir seu público para além da pessoa física e alcançar assessores financeiros e bancos de investimento.

“Com a XP, temos a homologação para chegar nos escritórios de assessores deles. Para você distribuir relatórios, precisa dessa homologação. Vamos partir bem forte para o B2B”, afirma.

Segundo Lucas, os investimentos também serão direcionados ao desenvolvimento de novas ferramentas para os investidores e à expansão da equipe da Inside.

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