Kamala Harris vence Mike Pence em debate de vices focado em coronavírus e China

Kamala Harris vence Mike Pence em debate de vices focado em coronavírus e China

outubro 8, 2020 Off Por JJ

(Justin Sullivan/Getty Images)

A senadora democrata Kamala Harris, candidata a vice-presidente na chapa de Joe Biden, ganhou o debate contra o republicano Mike Pence na noite de quarta-feira (7). O encontro, ocorrido na Universidade de Utah, em Salt Lake City, foi, de longe, mais civilizado que o da semana passada, quando Donald Trump e Joe Biden praticamente não conseguiram completar suas respostas, tantas foram as interrupções e ofensas.

Kamala saiu em vantagem já no primeiro bloco, que teve como tema a pandemia de Covid-19. A democrata nadou de braçada diante do calcanhar-de-Aquiles do governo Trump. Classificou a gestão da pandemia pelo presidente Trump como “a maior falha que um governo americano já cometeu na história do país”.

Em seguida, disparou a citar números. Comparou a taxa de mortalidade pela doença nos Estados Unidos, que é duas vezes maior que a do vizinho Canadá. Lembrou que o país já contabiliza mais de 210 mil mortos pela doença (recorde mundial); que mais de 7 milhões de pessoas já foram contaminadas; que uma a cada cinco empresas fechou as portas nos últimos meses e que 30 milhões de trabalhadores perderam o emprego.

O golpe mais duro ocorreu quando Kamala afirmou que os efeitos da pandemia poderiam ter sido amenizados se Trump não tivesse escondido a gravidade da situação da sociedade americana. “Imagine se você soubesse em 28 de janeiro, em vez de saber em 13 de março, sobre a gravidade da doença e tivesse tido a oportunidade de se preparar, se proteger”, indagou ao telespectador. A candidata referia-se ao livro de Bob Woodward, que revelou que o presidente Trump sabia da letalidade da pandemia em janeiro, mas decidiu não alertar a população para não causar pânico.

“A senadora conseguiu atacar Trump de forma mais incisiva que o Pence conseguiu atacar o Biden”, afirma Michael Lopez, sócio da Arko, consultoria especializada em análise política.

A democrata, de 55 anos, conseguiu se aproveitar também em temas que seu rival geralmente leva vantagem, como na questão da segurança, em que os republicanos pregam “lei e ordem”.

A certa altura do debate, quando Pence afirmava que o governo Trump sempre apoiaria a aplicação da lei. Ao retomar a palavra, Kamala afirmou que não iria ficar sentada, ouvindo uma aula sobre aplicação da lei em seu país. “Eu sou a única pessoa nesse palco que processou pessoalmente criminosos, de estupradores de crianças a assassinos”, rebateu a senadora, referindo-se ao período em que trabalhou como procuradora na Califórnia.

Kamala ainda conseguiu usar o debate para falar de sua história pessoal. A senadora é a primeira mulher a concorrer à vaga de vice-presidente. Filha de mãe indiana e pai jamaicano, foi a primeira negra procuradora na história do estado da Califórnia. Em 2010, tornou-se a primeira mulher a ser eleita para a Procuradoria-Geral da Califórnia. Em 2016, foi eleita para o Senado norte americano, a segunda negra nos 240 anos da história da democracia americana.

O ponto fraco de Kamala Harris foi exposto na pergunta se os democratas pretendem ou não aumentar o número de juízes da Suprema Corte. A proposta, de uma ala do partido democrata, seria uma forma de driblar o perfil predominantemente conservador que a Corte deve adquirir com a indicação da juíza Amy Coney Barret, em substituição à liberal Ruth Gainsburg, que faleceu em 18 de setembro.

Esse tipo de manobra, no entanto, adotada por governos autoritários, é muito mal avaliada até entre democratas, e, entre eles, não tem aprovação nem da própria Kamala nem de Biden. Nenhum dos dois, porém, conseguiu responder à pergunta nos debates, pois temem perder apoio da ala democrata que defende a ideia. Esse, aliás, foi um dos melhores momentos de Pence, que conseguiu colocar a oponente nas cordas.

Sem poder de fogo para defender o governo de seu principal ponto fraco — a gestão da pandemia –, Pence partiu para o ataque à China, culpando o país pelos estragos provocados pela Covid-19. Afirmou que Trump interrompeu todos os voos com origem na China, como forma de frear a pandemia, e acusou Biden de ter sido contra a iniciativa.

Mais à frente, no bloco destinado a discutir as relações entre Estados Unidos e China, o vice-presidente voltou a atacar os chineses. “A culpa do coronavírus é da China. China e a Organização Mundial da Saúde não foram honestos com os Estados Unidos”, afirmou. O vice de Trump ainda disse que os Estados Unidos vão responsabilizar a China pelos danos provocados pela pandemia.

Pence tentou ganhar pontos em temas como a economia pré-pandemia, que vinha em ritmo forte. Conseguiu colocar a democrata nas cordas ao explorar a contradição nas respostas dela e de Biden sobre se aumentarão ou não impostos, caso vençam as eleições. Também relembrou como trunfo a morte de Qassem Soleimani, então chefe da Guarda Revolucionária do Irã e um dos homens mais poderosos daquele país, assassinado no Iraque por ordem do presidente Trump, que o acusava de patrocinar terrorismo contra americanos no Oriente Médio.

Quando o debate trilhava a seara da saúde, da gestão da pandemia e das mudanças climáticas, o republicano perdia a potência dos argumentos. Ocorre que esses são os temas do momento, e, como as pesquisas têm mostrado, os democratas vêm mantendo vantagem, ainda que pequena, constante nas pesquisas de opinião.

O debate dos vices é um evento tradicional das campanhas presidenciais, mas costuma ficar em segundo plano, em comparação aos embates entre os cabeças-de-chapa. Este ano, a situação mudou de figura.

“Pence e Harris ganharam relevância na corrida eleitoral por causa da idade avançada de Trump e Biden”, afirma Tanguy Baghdadi, professor de relações internacionais. O republicano chegou à Casa Branca aos 71 anos, o presidente eleito mais velho do país. Se Biden vencer em novembro, assumirá aos 78 anos, batendo o recorde de Trump. Nos Estados Unidos, o vice-presidente é também o presidente do Senado e tem o voto de minerva, em caso de votações empatadas.

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