Investimentos, dividendo menor, Braskem: as sinalizações dos executivos da Petrobras (PETR4) ao mercado sobre temas-chave para a estatal
julho 20, 2023Em café com jornalistas, os executivos da Petrobras (PETR3;PETR4) deram várias indicações sobre a “nova era” da companhia, falando sobre temas como investimentos, venda de ativos, dividendos e sobre a novela com a venda da Braskem (BRKM5).
Em destaque, já durante a manhã, a estatal informou que reduzirá a partir de 1 de agosto o preço médio do gás natural vendido a distribuidoras em 7,1% ante o período de maio a julho, somando uma queda acumulada do insumo de 25% neste ano, informou a companhia nesta quarta.
O anúncio ocorreu em meio a pressões do governo federal, sobretudo do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, para que a estatal amplie a oferta, o que permitiria uma queda dos preços do insumo no país.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou no encontro que Silveira tem “direito de fazer cobranças” sobre o gás e outros temas, mas reforçou que a companhia está “fazendo seu trabalho corretamente”.
“É claro que o Brasil tem gás, mas o Brasil tem mais petróleo e nós corremos sempre atrás do petróleo. O gás, de fato, e não tem nada de feio em dizer isso, sempre foi considerado um produto colateral para nós, porque ele vem geologicamente no Brasil associado ao petróleo”, afirmou Prates, pontuando que não é por isso que a empresa e outros produtores deixam de buscar monetizar o insumo “tanto quanto possível”.
A diretoria da estatal também voltou a dizer no encontro que a reinjeção do gás nos poços produtores de petróleo é um processo necessário, rebatendo as acusações do ministro de que a companhia estaria “negligenciando” gás ao Brasil devido aos elevados níveis de reinjeção.
Investimentos e vendas de ativos
Margem Equatorial
A Petrobras ainda sinalizou que manterá previsão de investimentos significativos na Margem Equatorial no próximo plano estratégico para o período de 2024 a 2028, apesar de negativa do Ibama para a perfuração de poço na Foz do Rio Amazonas, no Amapá, conforme disse o diretor executivo de Exploração e Produção, Joelson Mendes.
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A Margem Equatorial, que vai do Rio Grande do Norte ao Amapá, é considerada pela petroleira a última fronteira exploratória do Brasil, com enorme potencial para novas descobertas, mas com enormes desafios socioambientais.
Mendes pontuou que a Petrobras prevê que a curva de produção do pré-sal atinja seu pico até 2032 e que a empresa precisa avançar para novas áreas exploratórias.
“Está no nosso plano estratégico 23/27, com certeza vai constar também no próximo, um investimento significativo na Margem Equatorial. Hoje, o que consta são 3 bilhões de dólares para fazer 16 poços no horizonte de cinco anos, começando no Amapá (na Foz do Amazonas), depois em Pitu (na Bacia de Potiguar)”, disse Mendes, ao participar do café da manhã.
Após negativa do Ibama para perfuração na Foz, a Petrobras entrou com um recurso e aguarda a resposta.
Segundo o diretor, a empresa enviou na semana passada novo ofício ao órgão ambiental federal, onde assinalou que uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) por unanimidade considerou não ser necessária uma Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS) para áreas que já foram a leilão. A não realização desse estudo foi colocada pelo Ibama como um dos principais pontos para recusar a licença.
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Ativos em outros países
A empresa também avalia investimentos exploratórios em outros países, como Guiana, Suriname e países da Costa Oeste Africana, segundo Mendes.
O executivo afirmou que a Petrobras prevê perfurar dois poços na Colômbia no próximo ano, para confirmar a extensão de importante descoberta realizada naquele país, onde acredita que poderá ser possível iniciar produção de gás natural em cinco anos.
“A gente está muito otimista que venha inclusive a ter descobertas maiores (na Colômbia) que nos proporcione fazer GNL (gás natural liquefeito) e trazer para o Brasil”, disse Mendes.
Também há planos exploratórios em curso no Brasil, onde a empresa também tem em seus planos a perfuração em áreas vencidas em leilões do pré-sal.
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Contratações navais
Durante o encontro com jornalistas, o diretor executivo de Engenharia, Tecnologia e Inovação, Carlos Travassos, também comentou sobre perspectivas para cerca de 15 novos contratos, que contribuirão com a retomada da indústria local, incluindo estaleiros.
Segundo o diretor, o país “está diante de nova oportunidade” para a indústria naval e que quando se olha a necessidade de construção no país, considerando o percentual de conteúdo local já posto, a demanda atende a capacidade.
“Nosso procedimento no que diz respeito a utilização das empresas nacionais, a gente está sim chamando as empresas para conversar… mas isso não significa nenhuma flexibilização do ponto de vista de governança, a gente segue exatamente os mesmos critérios que vem sendo seguidos até aqui para a habilitação dessas empresas para transacionar com a Petrobras”, disse Travassos.
Bahia Terra
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A Petrobras ainda apontou já ter decidido que não venderá o Polo Bahia Terra, mas não descarta uma possível parceria no ativo, conforme disse Prates no encontro.
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O desinvestimento estava em negociações entre a Petrobras e um consórcio formado por PetroReconcavo (RECV3) e Eneva (ENEV3). O ativo ainda não tinha contrato de venda final assinado quando o governo federal decidiu, no início deste ano, suspender as vendas em curso pela Petrobras.
Prates afirmou, porém, que a Petrobras não descarta uma parceria para o ativo, que compreende campos terrestres de exploração e produção e instalações associadas nas Bacias do Recôncavo e de Tucano.
Braskem (BRKM5) em disputa
A petroleira ainda apontou que analisará todas as ofertas pela Braskem, mas enfatizou que acredita que as negociações sobre uma possível venda da petroquímica ainda estão longe de terminar.
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A Petrobras é um dos principais acionistas da Braskem, juntamente com o conglomerado Novonor, que tem o controle acionário da empresa, mas há muito tempo tenta vendê-la para pagar credores após entrar com pedido de recuperação judicial.
Três propostas foram apresentadas até agora para assumir o controle da Braskem: uma oferta conjunta da ADNOC, com sede em Abu Dhabi, e da gestora de ativos norte-americana Apollo, e ofertas separadas das empresas brasileiras Unipar Carbocloro (UNIP6) e J&F.
A Petrobras tem direitos contratuais para decidir se compra a participação da Novonor ou exerce os direitos associados no caso de uma possível venda.
“Temos o privilégio de ser os últimos a dar nossa opinião”, disse Prates.
Dividendos
No café, foi destaque durante o dia a informação de que os dividendos da Petrobras no segundo trimestre já devem ser deliberados com base em nova regra, que ainda está em estudo e deverá levar em conta a prática de outras empresas globais do setor, afirmou nesta quarta-feira o diretor executivo Financeiro e de Relacionamento com Investidores, Sergio Leite. Posteriormente, em nota, a Petrobras afirmou que a previsão é que o assunto seja apreciado pelo Conselho de Administração da Companhia até o final de julho.
O tema está atualmente em discussão por um grupo de trabalho na petroleira formado por 11 pessoas, após decisão do conselho de administração de que fosse analisado um aprimoramento para tais regras. A perspectiva é que os estudos sejam concluídos até o fim deste mês, para que sugestões sejam apreciadas pelo colegiado.
“É uma prerrogativa do conselho, mas tudo indica que os dividendos pagos no novo trimestre já vão ocorrer de acordo com a nova política de pagamentos de dividendos. Qual vai ser e com quais características, vai depender da deliberação deles”, disse Leite.
O tema vem sendo acompanhado de perto pelo mercado, após a Petrobras ter pago dividendos abundantes sob a gestão anterior, superando até os maiores produtores internacionais de petróleo, após a empresa reduzir investimentos ao longo dos últimos anos e vender bilhões de dólares em ativos para focar em áreas de alta produtividade no pré-sal.
“Houve mudança de gestão e direcionamento, a empresa estava preparada para ser vendida. Já que a decisão era vender, era interessante pagar muito dividendo…. se mostrar rentável e atrativa para que alguém viesse para fazer proposta”, disse Leite.
“Com a nova gestão… e preocupação com o futuro da companhia, aliado com todo rumor que esse tema de dividendo causa, o conselho de administração decidiu que deveria ser feito o estudo”, acrescentou.
Cabe destacar que, após a fala de Leite sobre o tema, a XP destacou que os dividendos da Petrobras podem ser menores.
Atualmente, a política em vigor prevê pagamentos trimestrais, com fórmula mínima conforme 60% do fluxo de caixa das operações (“FCO”) menos os investimentos (“capex”).
Durante o período da última divulgação de resultados trimestrais, em meados de maio, a Petrobras anunciou a aprovação do pagamento de remuneração aos acionistas (em uma combinação de dividendos e juros sobre capital próprio) no valor de aproximadamente R$ 1,89 por ação. O valor implicou em um dividend yield de 7,4% para PETR4 no dia.
Porém, na mesma oportunidade, a empresa também comunicou aos acionistas que seu Conselho de Administração (CA) determinou que a Diretoria Executiva preparasse uma proposta para ajustar o planejamento estratégico em andamento e melhorar a Política de Remuneração aos acionistas da Petrobras. A empresa também divulgou que a proposta pode incluir a possibilidade de recompra de ações.
“Em nosso modelo, estamos assumindo uma distribuição de 40% do FCO menos capex (frente a 60% da política vigente), com base em práticas de pares internacionais e no fato de que, se a Petrobras desembolsar valores inferiores a isso, a empresa simplesmente acumulará muito caixa (já estamos assumindo níveis baixos de dívida bruta, cerca de US$ 50 bilhões)”, avalia a XP. Contudo, aponta, resta saber como será a nova política de fato. Por exemplo, vê boas chances de que a nova política acabe sendo mais flexível e discricionária do que a atual.
Transição Energética
A nova gestão da Petrobras suspendeu desinvestimentos para uma reavaliação e decidiu por elaborar planos de longo prazo para a companhia, considerando projetos além da exploração e produção de petróleo em águas profundas e para caminhar rumo à transição energética.
Leite destacou ainda nesta quarta-feira que uma empresa de petróleo e energia, como a Petrobras, requer investimentos intensivos. “Não faz o menor sentido a Petrobras ser tratada como estacionamento, que é aquele tipo de negócio que tem pouco investimento a fazer”, afirmou.
Diante do novo perfil, a companhia agora conta inclusive com uma diretoria de Transição Energética e Sustentabilidade, liderada por Mauricio Tolmasquim.
Ainda no evento com jornalistas, Tolmasquim reiterou que a empresa poderá participar em parceria de projetos com foco em transição energética no exterior, como minoritária, para ganhar experiência, e avalia atualmente duas oportunidades em eólica offshore.
Ao mesmo tempo, a empresa participa de discussões e aguarda decisões do governo para o desenvolvimento regulatório que permitam novos projetos no Brasil, como hidrogênio verde, eólicas offshore, captura e injeção de CO2, combustíveis verdes, dentre outros.
(com Reuters e Estadão Conteúdo)