Investidores monitoram passos da Argentina após acordo histórico com credores

Investidores monitoram passos da Argentina após acordo histórico com credores

agosto 5, 2020 Off Por JJ

Alberto Fernandez
Alberto Fernandez, presidente da Argentina (Foto: Ricardo Ceppi/Getty Images)

(Bloomberg) – O histórico acordo de US$ 65 bilhões fechado pela Argentina com credores privados apenas marca a primeira etapa de uma árdua batalha para resgatar a economia em crise e mergulhada em dívidas.

O próximo passo do presidente Alberto Fernández é iniciar as negociações para um novo programa do Fundo Monetário Internacional em um cenário preocupante. A crise da Argentina se aprofunda em uma recessão pelo terceiro ano e aumento da pobreza, inflação próxima de 45% e multinacionais fugindo do ambiente de negócios cada vez mais difícil do país.

A pandemia também reduz significativamente a margem de manobra do governo: a Argentina está entre os países com maior dificuldade para se recuperar do surto, segundo ranking da Bloomberg Economics de 75 mercados emergentes.

As negociações sobre a dívida de US$ 44 bilhões com o FMI, que ainda é culpado por parte dos argentinos pelo default do país em 2001, quando um resgate patrocinado pelo Fundo entrou em colapso, prometem ser desafiadoras. O governo de Fernández precisará equilibrar a necessidade de traçar um caminho para a sustentabilidade fiscal quando a Argentina não tem acesso ao crédito e navegar pelo ambiente político notoriamente traiçoeiro do país.

“A reestruturação da dívida é um passo positivo, mas está longe de constituir uma solução definitiva para os muitos problemas da Argentina à frente”, disse Martin Rapetti, economista do centro de pesquisa CEDES, em Buenos Aires. “Será muito importante para a Argentina ter um programa do FMI que consiga consenso em todo o espectro político.”

A economia deve registrar queda recorde de 13,5% neste ano, de acordo com estimativas do Bank of America. O governo financia um déficit orçamentário cada vez maior para atender às crescentes demandas sociais resultantes da pandemia de coronavírus por meio da impressão de dinheiro.

Dupla complicada

Até o momento, Fernández tem boa relação com a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, uma mudança em relação aos atritos do passado entre os governos peronistas e a organização de Washington e até as críticas recentes do presidente, que em parte culpou o FMI, sob o comando de Christine Lagarde, pela crise do país.

Ainda assim, a equipe e o conselho do Fundo precisarão ver um plano detalhado antes de dar ao governo o selo de aprovação, uma marca da credibilidade muito necessária na Argentina depois que o FMI manteve seu apoio após o nono default do país em maio. E o próprio Fernández admite que não gosta de traçar planos.

“Francamente, não acredito em planos econômicos”, disse Fernández ao Financial Times em julho. “Acredito nas metas que podemos estabelecer para que a economia possa trabalhar para alcançá-las.”

O ministro da Economia, Martín Guzmán, o arquiteto por trás do acordo da Argentina com credores privados, disse na terça-feira que grandes planos “nunca funcionaram na Argentina”.

“Se vocês pensam que apresentaremos um power point nos amarrando a ações rígidas, não faremos isso”, disse a repórteres após o acordo. “Manter certa flexibilidade é fundamental.”

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