Ibovespa sobe 7% em 3 pregões e dólar cai 3% com eleições americanas, movimento se sustenta?
novembro 5, 2020
SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em alta nesta quinta-feira (5), acumulando 7,24% de ganhos em três pregões marcados pela expectativa em relação ao resultado das eleições americanas.
Só nesta quinta, o Ibovespa subiu 2,95%, aos 100.751 pontos com volume financeiro negociado de R$ 29,843 bilhões.
Enquanto isso, o dólar comercial caiu 1,91% a R$ 5,544 na compra e a R$ 5,545 na venda. Na semana, a moeda dos EUA se desvaloriza até agora em 3,36% ante o real. O dólar futuro com vencimento em dezembro registrava queda de 2,25%, a R$ 5,529 no after-market.
No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 caiu um ponto-base a 3,45%, o DI para janeiro de 2023 recuou três pontos-base a 5,03%, o DI para janeiro de 2025 teve queda de oito pontos-base a 6,67% e o DI para janeiro de 2027 registrou variação negativa de 11 pontos-base a 7,43%.
Diante de um avanço tão expressivo dos mercados, é natural que os investidores busquem as razões e procurem saber se esse movimento é sustentável no tempo.
Segundo Lucas Monteiro, trader de multimercados da Quantitas Gestão de Recursos, a Bolsa caiu muito na semana passada na esteira das notícias relacionadas à segunda onda do coronavírus nos Estados Unidos e na Europa e com um evento de risco muito grande pelo caminho, que era o pleito presidencial nos EUA.
“Com a queda, muitos ativos ficaram bastante descontados. Algumas ações ficaram em patamares mais atrativos, e conforme foram saindo da frente os eventos de risco, é natural que os ativos retomem os preços da semana passada”, avalia.
Mas por que a eleição dos EUA passou a trazer menos risco? Na opinião de Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP Investimentos, a disparada dos mercados tem a ver com o cenário que se desenha na maior economia do mundo.
O democrata Joe Biden atualmente tem 264 delegados contra 214 do atual presidente, o republicano Donald Trump. Enquanto a vantagem de Biden sobre Trump segue apertada em Nevada, a margem da vitória do republicano sobre o democrata na Geórgia fica cada vez menor à medida que são contados mais votos. Biden só precisa vencer em mais um estado para ser eleito.
Conquanto os investidores não tenham necessariamente Biden como favorito em relação a Trump, muitos estão aliviados de que com a corrida presidencial mais apertada ficou claro que o Partido Democrata não dominará os assentos do Senado, tornando improvável a aprovação de pautas impopulares como aumento de impostos e divisão das “big techs” para aumentar a concorrência.
Ferreira lembra que desde 1901 a melhor performance da Bolsa americana se deu durante mandatos presidenciais de presidentes democratas com o Congresso republicano ou com o Congresso dividido entre os dois partidos. “É como possivelmente teremos nos próximos 4 anos”, explica.
Já Monteiro destaca que a pior coisa que existe para o mercado é a incerteza, e conforme as eleições se encaminham para um resultado o cenário fica mais claro, e portanto, torna-se mais seguro investir em ativos de risco.
“Vencendo Biden ou Trump é sempre bom tirar uma incerteza da frente. Ninguém gosta de indefinição. Um dos fatores que estamos monitorando é a possibilidade do Biden vencer de forma inconteste. Se ele virar na Pensilvânia, por exemplo, isso reduz o risco de judicialização e é bom para equities“, comenta.
Mas essa disparada da Bolsa pode continuar? De acordo com Júlio Erse, gestor da Constância Asset, nada indica que não. O especialista lembra que o Brasil continua sendo um dos piores mercados do ano e o valuation das empresas não está tão esticado que demande uma correção muito forte.
“Qualquer múltiplo que você queira utilizar, seja por lucro ou patrimonial, aponta para um valuation bem acima da média nos mercados desenvolvidos, enquanto estávamos com preços mais contidos aqui”, analisa.
Desse modo, a expectativa é de o Ibovespa tenha um desempenho melhor que o de índices como o Dow Jones e o S&P 500 pelo menos enquanto o cenário seguir como está, sem nenhuma reviravolta negativa no âmbito fiscal.
“A aprovação do projeto que prevê autonomia para o Banco Central aqui foi muito bem recebida pelo mercado e esperamos para depois das eleições municipais o encaminhamento da [Proposta de Emenda à Constituição] PEC dos gatilhos, que deve mostrar o que o governo fará em termos de ajuste fiscal e como será financiado o programa social que substituirá o Auxílio Emergencial”, aponta.
Outro fator que estaria levando ao bom desempenho da Bolsa nesta semana é a temporada de divulgação dos resultados das empresas no terceiro trimestre. Relata Jorge Junqueira, sócio e chefe da equipe de renda variável da Gauss Capital, que os balanços mostram uma melhora na economia.
“Destaco hoje o resultado espetacular do Mercado Livre, com o qual o Brasil colabora com 60%. Claro que há sempre o risco político no Brasil. Mas acreditamos que o Brasil vai manter um comportamento amigável diante da vitória do Biden, mantendo as relações democráticas e comerciais com os Estados Unidos”, ressalta.
Também no radar, hoje o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) decidiu manter os juros nos EUA na banda entre 0% e 0,25% ao ano. O Fed destacou que a economia americana está se recuperando, mas está em níveis bem abaixo de onde estava antes da pandemia do coronavírus.
No noticiário europeu, o Reino Unido inicia nesta quinta-feira seu novo lockdown de um mês. E o Bank of England elevou em 150 bilhões de libras seu programa de quantitative easing, à medida que espera que a economia britânica encolha no quarto trimestre.
Vale destacar ainda que, em relatório, a Comissão Europeia previu que o Produto Interno Bruto (PIB) dos 19 países que formam a zona do euro sofrerá queda de 7,8% em 2020, menor do que a queda de 8,7% estimada em julho. Para 2021, no entanto, a projeção de avanço do PIB do bloco diminuiu de 6,1% para 4,2%. Já para 2022, a estimativa é de alta de 3%. Uma segunda onda da pandemia do novo coronavírus está comprometendo esperanças de que a economia da zona do euro tenha uma rápida recuperação.
Desoneração segue
Em julho de 2020, Bolsonaro havia vetado um dispositivo do Congresso que prorroga até o final de 2021 a desoneração da folha de pagamento de empresas de 17 setores, responsáveis por empregarem um grande contingente de pessoas, incluindo call centers, transporte, construção civil, indústria têxtil e comunicações.
Nesta quarta, o Senado e a Câmara derrubaram o veto, mantendo o benefício. A desoneração permite que as empresas contribuam com a Previdência com entre 1% e 4,5% de sua receita bruta, ao invés de recolher 20% sobre a folha de pagamento. Assim, evitam-se demissões nesses 17 setores, responsáveis por empregar cerca de 6 milhões de pessoas no Brasil.
Por outro lado, uma reunião do Conselho Deliberativo do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) decidiu por não estender por mais duas parcelas o seguro-desemprego a pessoas demitidas no período entre 20 de março e 31 de julho, o que beneficiaria 2,7 milhões de trabalhadores.
A extensão era proposta por sindicatos, e foi derrotada em uma aliança entre representantes do governo e empresários presentes no conselho do FAT, por 12 votos a 6.
Vacinação no Brasil
A farmacêutica britânica AstraZeneca anunciou nesta quinta-feira junto ao seu balanço trimestral que espera apresentar ainda neste ano dados sobre a vacina contra o coronavírus que vem desenvolvendo em parceria com a universidade de Oxford. Essas vacinas estão sendo testadas no Brasil, e devem fazer parte da estratégia do país no combate à covid.
“Os resultados dos testes em estágios avançados devem ser antecipados neste ano, dependendo da taxa de infecção nas comunidades em que os testes clínicos estão sendo conduzidos. Os dados serão enviados a reguladores e publicados em periódicos científicos”, afirmou a AstraZeneca em seus resultados.
No balanço trimestral, a AstraZeneca afirmou que as vendas mundiais de produtos aumentaram 7%, a US$ 6,52 bilhões no terceiro trimestre, acima da expectativa do mercado, que era de US$ 6,5 bilhões.
A empresa deverá produzir vacinas no Brasil em parceria com a Fiocruz. Em evento realizado na quarta-feira, o diretor de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Maurício Zuma, afirmou que a instituição pretende iniciar a produção assim que receber o ingrediente farmacêutico ativo, antes mesmo da aprovação da Anvisa. Ele espera receber o ingrediente em janeiro, iniciar a produção e ter até 30 milhões de doses já em fevereiro.
Rosane Cuber, vice-diretora de qualidade da Bio-Manguinhos/Fiocruz afirmou que a vacina apresentou bons resultados, com desenvolvimento de anticorpos neutralizantes contra o Sars-Cov-2 em 91% dos voluntários que participaram de testes.
Além disso, em posicionamento enviado ao Supremo Tribunal Federal na quarta-feira, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que “não vê tratamento diferenciado” quanto ao produto que está sendo desenvolvido pela chinesa Sinovac, que deverá ser produzido no Brasil pelo Instituto Butantan. Mas afirmou que deve ser respeitada “a vontade política” do governo sobre a compra de vacinas contra a covid-19.
O documento foi enviado em resposta a duas arguições de descumprimento de preceito fundamental movidas na corte por partidos de oposição, em resposta ao fato de que, em outubro, o presidente desautorizou o ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que anunciou a intenção de comprar de 64 milhões de doses da vacina produzida pelo Butantan.
“Tão logo qualquer vacina tenha ultrapassado todas as fases de desenvolvimento e seja registrada na Anvisa, será avaliada pelo Ministério da Saúde e disponibilizada à população por meio do programa nacional de imunizações”, diz o documento.
Radar corporativo
Mais uma vez, o noticiário corporativo tem como destaque a temporada de resultados, com destaque para o resultado de Banco do Brasil, além de d1000, banco Pan, Ultrapar, São Carlos, BR Properties, Cia. Hering, Ecorodovias e Mercado Livre.
O Banco do Brasil teve lucro líquido ajustado de R$ 3,482 bilhões no terceiro trimestre, queda de 23,3% na comparação com o mesmo período de 2019, mas avanço de 5,2% ante o segundo trimestre de 2020.
A Cia Hering teve salto no lucro líquido no terceiro trimestre, que foi a R$ 155,5 milhões, mais do que o dobro do mesmo período do ano anterior. O desempenho foi puxado pela contabilização de créditos tributários.
Maiores altas
Ativo | Variação % | Valor (R$) |
---|---|---|
UGPA3 | 14.33566 | 19.62 |
CSAN3 | 10.66028 | 73.91 |
GOLL4 | 10.45999 | 17.53 |
AZUL4 | 9.36698 | 25.57 |
CIEL3 | 8.40841 | 3.61 |
Maiores baixas
Ativo | Variação % | Valor (R$) |
---|---|---|
CSNA3 | -2.05224 | 21 |
COGN3 | -1.78971 | 4.39 |
SUZB3 | -0.92969 | 51.15 |
IRBR3 | -0.16051 | 6.22 |
KLBN11 | -0.04153 | 24.07 |
A Ultrapar teve resultados acima da previsão de analistas no terceiro trimestre, com lucro no terceiro trimestre de R$ 277,3 milhões, queda de 9,76% frente o mesmo período do ano anterior. A expectativa de analistas ouvidos pela Refinitiv era de R$ 272,7 milhões.
A Ecorodovias anunciou lucro de R$ 71,6 milhões no terceiro trimestre, abaixo da expectativa da Refinitiv, de R$ 75,1 milhões.
O Mercado Livre reportou volume de vendas de US$ 5,9 bilhões no terceiro trimestre, alta de 62,1%. O Mercado Pago teve alta de 91,7% em volume de pagamentos.
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