Ibovespa ganha força na reta final e renova máxima desde agosto de 2021 em dia de Fomc e elevação de rating
julho 26, 2023
Quem olha a performance do Ibovespa em seu fechamento, com leve alta de 0,55%, sem saber o contexto dificilmente poderia imaginar que o noticiário econômico foi bastante movimentado na sessão desta quarta-feira (26).
O ganho, contudo, foi suficiente para levar o índice a fechar nos 122.560 pontos, maior patamar desde 9 de agosto de 2021, quando encerrou o pregão nos 123.019 pontos.
Já havia uma grande expectativa pela reunião do Federal Open Market Committee (Fomc) desta tarde, com projeção de que a autoridade monetária americana subisse os juros em 0,25 ponto percentual, o que efetivamente aconteceu. Porém, a grande expectativa é que os integrantes do Comitê dessem mais pistas sobre os próximos passos de política monetária (de encerramento do aperto monetário ou deixando a porta aberta para novas altas).
Enquanto isso, durante a manhã, uma surpresa positiva para o Brasil foi divulgada, mas levou a uma reação tímida do mercado até a divulgação do Fomc.
A Fitch anunciou a elevação do rating do Brasil de “BB-” para “BB” nesta quarta-feira, com perspectiva estável, e atribuiu a mudança a um desempenho macroeconômico e fiscal melhor que o esperado, um movimento que surpreendeu pelo timing, uma vez que não constava na agenda de eventos macroeconômicos da semana.
“A decisão equipara o país à classificação de outros países emergentes com o mesmo padrão de endividamento público. Vemos o otimismo com Brasil nesse momento, no entanto, muito mais atrelado ao processo de relaxamento monetário que está para começar em breve, do que a um maior crescimento do PIB e da perspectiva de prosseguimento da agenda de reformas, especialmente a tributária”, fala Marcos de Marchi, economista-chefe da Oriz Partners.
À espera do Fomc, apesar do anúncio, o desempenho do mercado brasileiro foi tímido durante boa parte do pregão. No início da tarde, por volta do meio-dia, o Ibovespa caía cerca de 0,40%, enquanto o dólar comercial tinha baixa tímida, de 0,3%.
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A queda do benchmark da Bolsa continuou logo após a decisão do Federal Reserve, mas o índice passou a ganhar força com as declarações em coletiva de Jerome Powell, chairman da autoridade monetária, ainda que ele tenha mantido em aberto a visão sobre mais altas ou não de juros.
Powell apontou que, em uma perspectiva incerta para a política monetária, o Fed ainda terá que manter as taxas altas por um período prolongado e está limitado sobre quanto pode dizer em relação a futuras decisões sobre os juros. “Precisamos nos manter focados e achamos que precisaremos manter a política em níveis restritivos por algum tempo, e precisamos estar preparados para aumentar ainda mais as taxas se acharmos apropriado”, disse.
Porém, para Rachel de Sá, chefe de economia da Rico, o destaque que pode ser lido como positivo por investidores é que Powell equiparou a probabilidade de uma elevação adicional de juros na próxima reunião do comitê, em setembro, a uma manutenção dos juros básicos – apontando que os riscos (de subir pouco os juros e não ser o suficiente versus subir pouco e não controlar a inflação) agora encontram-se mais equilibrados.
Luca Mercadante, da Rio Bravo, teve interpretação parecida, pontuando que a ambiguidade do discurso de Powell levou a um fechamento da curva de juros nos EUA – os treasuries yields para dez anos perderam 4,7 pontos-base a 3,865%, e os para dois anos, 5,2 pontos, a 4,841%.
Em meio às declarações, o Ibovespa chegou a ir aos 122.746 pontos, subindo 0,61%, mas logo voltou a operar perto da estabilidade, ganhando força apenas perto do leilão de fechamento.
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Após o Fomc, Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, destacou que a decisão não surpreendeu, mas a dúvida estava se o comunicado ia trazer algum tipo de sinalização sobre pausa ou final de ciclo – mas não veio nenhum dos dois.
“O linguajar que permite mais altas de juros ao longo dos próximos meses permanece. Entendo que o Fed quer realmente tirar qualquer possibilidade do mercado discutir corte de juros em breve, portanto vai prolongar essa ‘ansiedade’ no mercado o máximo que puder”, ressaltou.
Os índices em Nova York fecharam com pouca variação. O Dow Jones ganhou 0,23% enquanto S&P 500 e Nasdaq perderam 0,02% e 0,12%.
Fitch: notícia positiva, apesar da reação “apática” do mercado
Analistas ressaltaram que, além do Fed, alguns outros fatores justificam esse desempenho fraco do mercado em boa parte da sessão mesmo após a elevação do rating pela Fitch. Eles avaliam ainda que, apesar desse movimento de curtíssimo prazo, num prazo mais longo, a notícia do rating elevado é mais um ponto positivo para o mercado de renda variável brasileiro.
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Como a S&P já tinha feito um movimento positivo anteriormente sobre a perspectiva de rating, o primeira anúncio nesse sentido acabou tendo um impacto maior no mercado. A melhora da nota pela Fitch veio pouco mais de um mês depois que a S&P mudou sua perspectiva para a nota de crédito do Brasil, atualmente BB-, de “estável” para “positiva”, citando sinais de maior certeza sobre a estabilidade da política fiscal, assim como a Fitch.
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As últimas sessões, por sinal, também foram de ganhos para o Ibovespa, que atingiu na véspera o maior patamar desde agosto de 2021 na última terça-feira (renovado nesta quarta), superando os 122 mil pontos em um pregão de alta das ações de commodities.
Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos, apontou a dificuldade do Ibovespa em ganhar mais tração também devido a um movimento de ajuste após ganhos recentes.
Somado a isso, os papéis de Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3) registraram baixa nesta sessão, pressionando o índice.
O petróleo fechou com leve queda, com o brent em baixa de cerca de 0,9% após o Fomc, o que afeta as ações da estatal. Enquanto isso, a Vale registrou um movimento de leve correção após quatro altas seguidas, mesmo após o minério de ferro subir novamente na Ásia com perspectiva de estímulos na China. Em Dalian, o contrato mais negociado para setembro encerrou as negociações diurnas com avanço de 1,8%. Cabe ressaltar que a mineradora divulga resultado trimestral na quinta-feira.
De qualquer forma, Cruz, da RB Investimentos, aponta que, após a decisão da Fitch e com a S&P melhorando a perspectiva, só falta a Moody’s entre as três principais agências de rating se posicionar – e que esse também deve ser um posicionamento positivo para o Brasil.
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“Entendo que a medida favorecerá o fluxo de recursos para cá, porque diversos fundos internacionais têm limitações de aporte por conta da nota de crédito”, avalia Cruz.
Boragini também reforça que os investidores estrangeiros podem aumentar a alocação em Brasil e, consequentemente, derrubar ainda mais a cotação do dólar frente ao real, entre outras coisas positivas.
Por outro lado, Matheus Pizzani, economista da CM Capital, aponta que a decisão da Fitch de hoje fortalece o ambiente para queda na Selic na reunião do início de agosto, embora não deva ser enxergada, na opinião do especialista, como motivo para projeção de um corte mais robusto que 25 pontos nos juros, atualmente a 13,75% ao ano.
“Em vista das incertezas que cercam a trajetória futura de importantes grupos do IPCA, especialmente no caso dos serviços, além da rigidez ainda apresentada pelo mercado de trabalho, o comitê deve seguir adorando a postura cautelosa que teve no ciclo de aperto e ser parcimonioso no momento dos cortes, atrelando-os à evolução dos dados divulgados no intervalo das reuniões e não apenas aos eventos de ordem mais geral que tem sido observados até aqui”, avalia Pizzani.
Alberto Ramos, diretor de Pesquisa Macroeconômica do Goldman Sachs para América Latina, vê uma evolução positiva para o país.
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Porém, avalia, para o Brasil recuperar finalmente o status de grau de investimento, isso exigiria reformas decisivas e políticas macro, micro e regulatórias que apoiem o investimento e promovam o crescimento da produtividade (ou seja, elevem o atual modesto potencial de crescimento real do PIB) e estabilizem o ainda dinâmica da dívida com inclinação ascendente.
Na mesma linha, Álvaro Bandeira, economista e coordenador da comissão de economia da APIMEC Brasil, ressalta que a elevação é claramente positiva e melhora o risco do país perante os grandes investidores.
“Mas ainda estamos muito longe de retomar o grau de investimento. O governo, claro, comemorou e com alguma razão essa melhora na classificação de risco, mas certamente estamos longe de conseguir o grau de investimento, que vai depender fundamentalmente das reformas que estão em curso no congresso nacional e se elas efetivamente serão eficientes e suficientes para reposicionar o país para um crescimento maior que precisa”, aponta o especialista.
A S&P classifica a dívida externa de longo prazo em moeda estrangeira do Brasil em BB- (perspectiva positiva; três degraus abaixo do grau de investimento), enquanto a Fitch (BB) e a Moody’s (Ba2) estão agora dois degraus abaixo do grau de investimento.
A curva de juros brasileira fechou mista. Os DIs para 2024 e 202 perderam 2,5 e 3,5 pontos-base, a 12,61% e 10,60%. Os da ponta mais longa, no entanto, subiram. Os para 2029 e 2031 ganharam, na sequência, dois e três pontos, a 10,55% e 10,78%.
Especialistas, apesar da revisão, destacam que outras notícias levemente negativas entraram no radar. Primeiro o anúncio do economista heterodoxo Marcio Pochmann ao IBGE e, depois, falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, envolvendo a sucessão de Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central.
(com Reuters)