Henrique Meirelles: o banqueiro que conquistou Lula e Temer e sonha com o Planalto

Henrique Meirelles: o banqueiro que conquistou Lula e Temer e sonha com o Planalto

julho 25, 2020 Off Por JJ

Nome completo: Henrique de Campos Meirelles
Ocupação: Político e banqueiro
Local de Nascimento: Anápolis (GO)
Data de Nascimento: 31 de agosto 1945
Fortuna: R$ 377,5 milhões (Declarado ao Tribunal Superior Eleitoral, em 2018)

Quem é Henrique Meirelles

O mais longevo presidente do Banco Central (BC) nasceu em uma família de políticos de Goiás e trilhou o caminho da militância juvenil, ao liderar greves e manifestações contra aumento da tarifa do transporte e do material escolar.

Meirelles se mudou para São Paulo para cursar Engenharia Civil na USP e os sonhos políticos foram adiados com o aumento da repressão do governo militar.

Formado, engatou um MBA na UFRJ e aceitou uma proposta de emprego na área de Leasing do Bank of Boston em 1974. Seu desempenho abriu as portas para que assumisse a vice-presidência do banco americano no Brasil apenas quatro anos depois.

A presidência da subsidiária brasileira veio em julho de 1984 e os excelentes resultados lhe trariam voos ainda mais altos. Em 1996, Meirelles se tornou o primeiro brasileiro presidente global de um banco norte-americano

Em 2002, ele se aposentou da vida de banqueiro e voltou ao Brasil para retomar o seu sonho de ser presidente da República. Mas as portas para um candidato banqueiro internacional não estavam abertas nos principais partidos políticos.

Resolveu, então, disputar uma vaga na Câmara dos Deputados por Goiás – foi o deputado federal mais votado do estado. Mas não chegou a assumir o cargo.

Um convite do recém-eleito Luís Inácio Lula da Silva para comandar o BC, com carta branca para controlar a inflação, soou mais atraente.

Mesmo sofrendo com o “fogo amigo” do PT, Meirelles conseguiu domar a inflação e elevar as reservas financeiras do país em dólar, criando um colchão importante para futuras crises, como a que viria em 2008.

A relação tensa com a então candidata e futura presidente Dilma Rousseff fez com que sua estadia em Brasília fosse encerrada junto com o fim do governo Lula. Mas a presidente o nomeou para presidir a Autoridade Pública Olímpica, consórcio que fez parte da organização dos Jogos Olímpicos Rio-2016, posição que ele acumulou com cargos em conselhos de empresas.

Em sua volta ao setor privado, seu principal posto foi a presidência do conselho da J&F, holding da família dos irmãos Joesley e Wesley Batista e dona da JBS.

Mas o impeachment de Dilma abriria novamente as portas para Meirelles em Brasília, após ser nomeado ministro da Fazenda do recém-empossado presidente Michel Temer. No cargo, ele montou a “equipe dos sonhos” na economia e conseguiu aprovar a PEC do Teto de Gastos e a reforma trabalhista.

A sonhada reforma da Previdência, no entanto, escorreu pelos dedos justamente após a gravação de uma conversa entre seu ex-chefe Joesley Batista e o atual, Michel Temer, ser revelada – episódio que deu origem ao Joesley Day, quando a Bolsa caiu 12%.

Mesmo com Temer lutando para permanecer no cargo, Meirelles decidiu concorrer à Presidência da República como candidato governista nas eleições de 2018. Conseguiu apenas 1,2% dos votos válidos, ficando na sétima colocação.

Atualmente na Secretaria de Fazenda do governo de João Doria, em São Paulo, Meirelles ainda sonha com a presidência. Tentará de novo em 2022?

Formação

A paixão de Henrique Meirelles pela política o acompanha desde sua juventude em Anápolis, a 60 km de Goiânia. O tema constante em sua família: seu avô, Graciano da Costa e Silva, conhecido como Coronel Sanito, foi prefeito da cidade por três mandatos, sendo eleito pela primeira vez em 1922.

Três de seus tios também enveredaram pela política: Jonas Duarte foi vice-governador de Goiás, Aldo Arantes presidiu a União Nacional dos Estudantes (UNE) e Haroldo Duarte foi deputado federal.

Meirelles é filho de Dica de Campos, uma estilista de vestidos de casamento, e Hegesipo Meirelles, advogado do Banco do Estado de Goiás. Seu pai ainda assumiu cargos na Secretaria de Estado de Goiás e, em dezembro de 1946, foi nomeado como interventor federal interino no estado – mas o cargo durou apenas duas semanas. Hegesipo também fundaria o curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica do estado, hoje PUC Goiás.

Meirelles tomou gosto pela vida política quando era estudante do ensino médio, um caminho semelhante ao de outros líderes estudantis que dominariam a política brasileira após a redemocratização.

Foi eleito presidente do Grêmio Acadêmico Lyceu de Goiânia, associado à juventude católica – sofria e fazia oposição à linha marxista, associada ao Partido Comunista -, e liderava greves contra o aumento de passagens e material escolar. Em 1963, fundaria a Confederação dos Estudantes Goianos.

O jovem Henrique Meirelles se mudou para São Paulo para cursar engenharia civil na Universidade de São Paulo (USP) e sua militância ativa o levou à presidência do Centro Acadêmico da Politécnica. Lá, seu rumo cruzou pela primeira vez com futuros colegas de governo, como José Dirceu e Aloísio Mercadante, então líderes estudantis.

Mas a tomada de poder pelos militares em 1964 e o endurecimento da ditadura nos anos seguintes fez Meirelles abandonar – na verdade, adiar – seus planos políticos.

Dessa época ficou o aprendizado de se expressar em público e a liderança de equipes, habilidades que seriam muito úteis em sua trajetória no setor privado.

O Banqueiro Internacional

Meirelles se formou na USP em 1972 e engatou um MBA de dois anos no instituto de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Coppead.

Formado e pós-graduado, recebeu boas ofertas de emprego no setor privado, mas uma chamou mais sua atenção: um cargo no Bank of Boston que, mesmo não oferecendo o maior salário e nem as melhores perspectivas, parecia a mais promissora em conhecimento e experiência.

Seu ponto fraco nesse período era a falta de fluência na língua inglesa. Aplicado, Meirelles se propôs a corrigir a falha no currículo varando noites assistindo a filmes e lendo clássicos da língua inglesa, como Shakespeare, sempre com um dicionário ao lado.

Seu primeiro emprego no Bank of Boston foi no departamento de leasing, empréstimos e arrendamento. Seu desempenho acima da média o levou à vice-presidência do banco no país em apenas quatro anos. Definitivamente, o inglês não era mais um problema.

Em 1984, seguindo a dica de um colega de trabalho, Meirelles se matriculou na Universidade de Harvard para participar do Advanced Management Program, curso desenhado para executivos que estão assumindo a liderança de grandes corporações ou organizações globais.

Após a conclusão do curso, o Bank of Boston o escolheu para assumir a presidência das operações no Brasil. Ele se tornou, assim, o primeiro brasileiro a liderar a subsidiária de um banco internacional no país.

Na cadeira de presidente, Meirelles fez o banco crescer mesmo em um período complicado no Brasil, em meio à redemocratização, uma inflação galopante, moratória na dívida e uma sequência de planos econômicos fracassados.

Além da bem-sucedida vida profissional, Meirelles manteve seus laços afetivos com a política e, em especial, com o assistencialismo, que defendia desde seus tempos de militante.

Ele participou da criação do movimento Viva o Centro para restaurar o bairro paulistano e, em 1994, fundou e assumiu a presidência da Fundação Travessia, que ajuda crianças em situação de rua como um projeto conjunto entre empresários e a base dos sindicatos que apoiava o Partido dos Trabalhadores.

A conexão da época de estudante com os líderes do PT havia sido restabelecida na primeira tentativa de Lula de concorrer à presidência em 1989.

Subindo nas pesquisas, Lula assustava o empresariado brasileiro com sua visão de esquerda para a economia. Foi Meirelles quem organizou o único encontro entre o petista e empresários na Câmara Americana de Comércio, associação que ele presidia na época.

Voo global

Sob sua liderança, a subsidiária brasileira do Bank of Boston continuava a surpreender. Nos 12 anos como presidente das operações do banco no país, os ativos saltaram de US$ 70 milhões para mais de US$ 6 bilhões.

O desempenho fez com que as portas da matriz nos EUA fossem abertas à Meirelles. Em 1996, ele tornou-se o primeiro brasileiro a chegar à presidência global de um banco norte-americano. A instituição havia acabado de se fundir com o BayBank e ser rebatizada como BankBoston.

Na sede em Boston e, depois, baseado em Nova York, Meirelles passou a comandar um gigante de US$ 55 bilhões com operações em 15 países e começou a circular no restrito grupo de economistas e financistas do centro do capitalismo global.

Sua vida novaiorquina se dividia entre o banco, seu apartamento na famosa Quinta Avenida, com vista para o Central Park, o Le Cirque, seu restaurante preferido, e o bate-volta semanal na sede do banco em Boston. Meirelles levava uma vida de solteirão bon vivant, dividindo seus momentos de lazer entre festas e concertos na capital financeira do mundo.

O período à frente do banco terminou em apenas três anos, quando o BankBoston se fundiu ao Fleet e criou o FleetBoston, em uma operação que criou o sétimo maior banco dos EUA.

Como parte do acordo, Meirelles desceu um degrau na escada e cedeu o cargo de presidente ao então CEO do Fleet. Ele assumiria as operações do atacado nos EUA e todas as operações globais do novo banco, controlando 60% de cerca de US$ 200 bilhões em ativos do FleetBoston.

Sob seu comando, o FleetBoston promoveu uma aposta errada na Argentina e perdeu quase US$ 1 bilhão quando o país quebrou em 2001. O erro alimentou os rumores de sua aposentadoria, que seria confirmada no ano seguinte.

Sobre o episódio, Meirelles diz que sua sucessão já estava em curso desde o final de 2000.

Aproximação com a política

Com milhões de dólares na conta, além de uma pomposa pensão vitalícia, Henrique Meirelles poderia ter optado por se aposentar e viver ao lado da psiquiatra Eva Missine, com quem havia se casado em 2000.

Porém o antigo sonho de voltar a política – e assumir a presidência do Brasil – bateu à porta. Aposentado da vida de banqueiro, ele voltou ao Brasil e começou a desenhar uma carreira política.

Em conversas com partidos, Meirelles tentou achar um caminho para concorrer ao Senado ou ao governo de Goiás, uma plataforma para se tornar conhecido e alçar voos maiores: sua ideia era tentar o Palácio do Planalto, em eleições futuras.

Após uma conversa com o então presidente Fernando Henrique Cardoso, ele se filiou ao PSDB, mas sua prometida vaga para concorrer ao Senado foi vetada nas primárias do partido. Meirelles tentou então um voo menos ambicioso: candidatou-se a deputado federal.

Com muito dinheiro para gastar e uma fama de “banqueiro desconectado do povo” para desfazer, Meirelles montou uma campanha intensa e visitou 242 dos 246 municípios do estado. O esforço não foi em vão: foi eleito com um recorde de 183 mil de votos.

Anos depois, em entrevista à IstoÉ, ele relatou a experiência da campanha como “transformadora”, por ter visto a miséria de perto pela primeira vez e ter aumentado sua crença na necessidade de programas de assistenciais, já que o “crescimento econômico é insuficiente” para que a população conseguisse sair daquela situação de pobreza.

Mas o então tucano não chegou a assumir o cargo na Câmara dos Deputados. Um convite irresistível mudaria seus planos poucas semanas após a eleição.

Fiador de Lula

Com a vitória de Lula nas eleições de 2002, o mercado financeiro precificou um desastre na economia, desconfiado da guinada ao centro que o petista havia prometido na campanha, ao assumir compromissos com a ortodoxia econômica na famosa Carta ao Povo Brasileiro.

A carta de intenções do petista não foi suficientes para controlar as expectativas do mercado. O dólar disparou, levando a inflação junto. O capital internacional, escolado com as crises russa, asiática e a recente quebra da Argentina, passou a apostar na ruptura do Brasil.

Além de uma carta de intenções, o PT precisava de um nome que sinalizasse essa mudança ao mercado. Um fiador no qual os empresários e os banqueiros pudessem confiar.

A busca parecia perdida. O novo governo já havia recebido a negativa de quatro convidados para assumir o BC, quando o goiano Delúbio Soares, então tesoureiro do partido, fez chegar ao presidente Lula uma entrevista em que Henrique Meirelles afirmava saber “como baixar os juros”.

Meirelles já nutria relações com o partido desde a eleição de 1989, além dos projetos sociais que desenvolveu com Aloísio Mercadante e Ricardo Berzoini. Já havia também conquistado a simpatia de Antonio Palocci, futuro ministro da Fazenda, depois que os dois se conheceram em um jantar em Washington.

Após o convite oficial de Lula para comandar o BC, com carta branca, Meirelles deu uma guinada em sua carreira política: desistiu do cargo de deputado federal e deixou o PSDB, trocando a Câmara dos Deputados pelo prédio do Banco Central.

Guido Mantega, Luiz Inácio Lula da Silva e Henrique Meirelles
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, durante abertura oficial da reunião dos representantes dos países que fazem parte do G-20 no Hotel Hilton, zona sul da capital paulista. (Crédito: Patrícia Santos/ Agência Estado)

Juros estratosféricos

A tarefa de Meirelles no cargo não seria nada fácil. A começar pelo “fogo amigo”.

A ala mais tradicional (e radical) do Partido dos Trabalhadores não aceitava que um “banqueiro internacional” comandasse o BC em um governo do partido. Heloísa Helena, petista histórica, chegou a se abster de votar na comissão do Senado após sua sabatina, para evitar descumprir a orientação da bancada da sigla pela aprovação de seu nome.

Meirelles também encarou a descrença do capital internacional com o novo governo, os juros em 25% a.a. e o dólar na casa dos R$ 4 – a moeda americana saltou 70% durante o ano eleitoral. A inflação alcançou os dois dígitos, muito além da meta perseguida pelo governo.

O cenário era desfavorável. E o primeiro passo de Meirelles à frente do BC e do Copom pareceu ainda mais drástico: ele elevou mais ainda a Selic, para 26,5% ao ano, nível mais alto desde a estabilização do câmbio flutuante, em meados de 1999.

O movimento aumentou o intenso fogo amigo dos petistas, com o qual sofreria ao longo de todo seu mandato. Mas a medida também serviu para sinalizar ao mercado que sua gestão se comprometeria com o controle rígido da inflação.

Na época, o Brasil era bastante dependente do capital internacional. Além disso, as reservas em dólar do BC não garantiam um colchão de liquidez necessário para enfrentar um eventual ataque especulativo. Para que o mercado se acalmasse, seria necessário manter os “juros na estratosfera”, como criticavam os apoiadores do governo.

Com a consolidação do governo Lula e um voto de confiança do capital, a especulação internacional diminuiu e a pressão sobre o real cedeu. Assim, o Copom começou a reduzir os juros ainda 2003. No final daquele ano, após cortes de 10 pontos percentuais, a Selic ficou em 16,50% ao ano.

O ânimo inicial do mercado com derrubada dos juros aliviou as críticas da esquerda. Mas a trégua seria temporária.

O corte nos juros não ficaria abaixo dos 16%, mesmo apoiado por um controle de gastos e elevação do superávit primário pela Fazenda, comandada por Palocci. O compromisso de Meirelles era com a arredia inflação, que teimava em ceder para a meta.

No primeiro mandato de Lula, a inflação ficou acima do teto no primeiro ano e acima do centro nos dois anos seguintes. Só ficou abaixo do centro de 4,5% em 2006 – um ano eleitoral.

Até o ano da reeleição de Lula, Meirelles já havia promovido outro aperto nos juros, ao elevar os juros para 19,75% em 2005, para horror da base de apoio do presidente, que era contrária à manutenção dos juros altos.

A oposição também vinha da Esplanada dos Ministérios. Integrantes da linha desenvolvimentista, como Guido Mantega (que foi ministro do Planejamento e presidente do BNDES no primeiro mandato de Lula) e Dilma Rousseff (ministra de Minas e Energia e, depois, ministra-chefe da Casa Civil) faziam coro a quem que defendia uma leniência maior com a inflação para gerar mais crescimento.

Lula, porém, manteve Meirelles à frente do BC nos oito anos que permaneceu na presidência da República.

O controle da inflação, que havia sido domada apenas na década anterior, e o aumento das reservas em dólar do banco, que garantiram a travessia sem sobressaltos durante a crise de 2008, lhe renderiam homenagens internacionais e títulos de melhor presidente de Banco Central da América Latina em 2006 e 2008.

Henrique Meirelles filia-se ao PMDB
Henrique Meirelles filia-se ao PMDB em setembro de 2009 (Crédito: Dida Sampaio / Estadão Conteúdo / AE)

Retorno ao setor privado

Ao aceitar o pedido de Lula para que seguisse no BC até o fim de seu mandato, Meirelles deixou novamente seus planos políticos de lado e não concorreu à eleição de 2010. A ideia era que ele se candidatasse ao governo de Goiás.

Internamente, o rumor de que Meirelles teria se oferecido para ser o candidato governista após a confirmação de que Dilma estava com câncer, em abril de 2009, chegou ao ouvido da futura presidente, detonando a já frágil relação entre os dois. Meirelles negou veementemente que tenha feito tal proposta, mas o estrago estava feito.

Apesar das tentativas de Lula para que Meirelles continuasse no governo petista, Dilma lhe ofereceu um cargo de presidente da Autoridade Pública Olímpica (APO). O órgão fiscalizava os gastos públicos na Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, mas não tinha poder executor. Ele deixaria o posto em 2015, sucedido pela empresária Luiza Trajano.

O fato é que, após sua bem sucedida passagem no BC, Meirelles recebeu diversas propostas para retornar ao setor privado.

Na sua mesa, havia ofertas como a presidência dos bancos Goldman Sachs e Barclays no Brasil, assim como cargos no renomado fundo Vinci e no KKR, que aportava no país.

Mas o convite que cativou Meirelles (e seu bolso) foi feito por nomes que hoje conhecidos por boa parte população brasileira: os irmãos Joesley e Wesley Batista.

Após uma série de reuniões, o anúncio oficial veio em 3 de março de 2012: Meirelles seria responsável pelo conselho consultivo da J&F, controladora da JBS e demais empresas do grupo. Sua função seria redesenhar o Banco Original, a instituição financeira do grupo, com o objetivo de fazer dele o maior banco digital do país.

A notícia foi comemorada pelo mercado, que respondeu elevando em 4,4% as ações da JBS na bolsa de São Paulo, após anos de baixo desempenho desde o IPO em 2007.

Além do cargo na holding dos irmãos Batista, Meirelles virou consultor sênior da KKR, presidente do conselho da consultoria Lazard Americas, membro do conselho da Rolls-Royce, Banco Lloyd’s e da aérea Azul.

Sua passagem na J&F foi marcada por informações desencontradas de um Meirelles que tenta se dissociar da imagem dos Batista. Na tentativa dos irmãos de profissionalizar para abrir o capital da holding ou atrair um parceiro, Meirelles virou o presidente do conselho em 2014.

Ele afirmou à revista piauí que o conselho nunca se reuniu, pois a estratégia de atrair capital foi mal sucedida. Mas o ex-BC só deixaria o cargo em 2016, quando Brasília voltou a lhe chamar e a Polícia Federal já rondava a empresa.

Ministro do teto de gastos

Com o impeachment de Dilma em 2016, Michel Temer assumiu o comando do país em meio a uma grave crise econômica.

O Brasil sofria a maior contração do PIB de sua história. A inflação, que começava a ceder, tinha fechado o ano anterior nos dois dígitos, o que não acontecia desde 2002. Os gastos públicos implodiram o resultado primário do governo. Também pesavam contra o Brasil as dúvidas sobre a ‘contabilidade criativa’ nas contas públicas.

No Planalto, Temer adotou o discurso da redução dos gastos, reformas e compromisso com a inflação, princípios que tinha apresentado ao mercado no plano “Uma Ponte para o Futuro”, de seu partido, o PMDB.

A solução para a crise de confiança no governo brasileiro foi montar uma equipe econômica respeitada pelo mercado. E o nome escolhido para comandar esse time foi o de Henrique Meirelles.

Com o convite, Meirelles deixou outra vez o setor privado, dessa vez para assumir o Ministério da Fazenda. Com ele, trouxe nomes como Ilan Goldfajn (presidente do BC), Mansueto Almeida (secretário do Tesouro Nacional), Carlos Hamilton (secretário de Política Econômica) e Marcelo Caetano (secretário da Previdência).

O mercado respondeu dando o voto de confiança no que considerou ser “o time dos sonhos” para condução da economia.

À frente do ministério, Meirelles tinha um grande desafio: iniciar o ajuste fiscal, garantindo um horizonte de controle nas contas públicas e, assim, retomar o crescimento do país. Seu plano tinha dois alicerces principais: a reforma da Previdência e a aprovação do teto de gastos.

Michel Temer e Henrique Meirelles
Presidente Michel Temer com o Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, durante entrevista coletiva para anúncio do pacote de medidas econômicas. (Foto: Beto Barata/PR)

Em dezembro de 2016, o governo Temer conseguiu a aprovação da PEC do Teto de Gastos, que limitou o aumento dos desembolsos do setor público por 20 anos. A força do novo governo no Congresso e o respeito da equipe de Meirelles sinalizava que reformas mais ambiciosas, como a aprovação da reforma da Previdência, poderiam ser aprovadas.

A aposta do mercado era de que a reforma era apenas uma questão de tempo, especialmente após a aprovação da Reforma Trabalhista, em abril de 2017. Se Meirelles conseguisse a aprovação das medidas e o país retomasse o crescimento, aumentariam as suas chances de suceder Temer na presidência do país.

O sonho, contudo, foi abatido justamente por quem o havia levado de volta para o setor privado: Joesley Batista, naquele que ficou conhecido como “Joesley Day”, em 17 de maio de 2017.

A divulgação dos áudios da conversa de Temer com o empresário, em uma visita fora da agenda oficial no Palácio do Jaburu, na qual o presidente parece pedir ajuda financeira para manter calado o seu correligionário e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha colocou tudo em xeque.
Acreditava-se que Temer renunciaria ou seria impedido pelo Congresso, mas o presidente gastou seu capital político para se manter no cargo, inviabilizando qualquer reforma.

João Dória e Henrique Meirelles
(Crédito: Governo do Estado de São Paulo)

“Chama o Meirelles”

Apesar da péssima aprovação de Temer em pesquisas de popularidade, Meirelles topou disputar a presidência em 2018 e se filiou ao rebatizado MDB. Seria, assim, o candidato governista do governo com a pior avaliação desde a redemocratização.

Compondo a chapa com Germano Rigotto, emedebista histórico, Meirelles tentou emplacar uma visão de união nacional, vendendo a imagem de alguém que consertou a economia do Brasil nos governos Lula e Temer.

A campanha, bancada com R$ 57 milhões dos R$ 377,5 milhões de patrimônio próprio que ele declarou ao Tribunal Superior Eleitoral, terminou com apenas 1,2% dos votos válidos, na sétima colocação entre os candidatos ao Planalto.

Apesar do fraco desempenho, Meirelles não entraria em 2019 desempregado. Ele foi convidado pelo tucano João Dória para assumir a Secretaria Estadual da Fazenda do governo do estado de São Paulo.

No ano passado, circulou a informação de que Meirelles considerava se candidatar novamente à presidência da República em 2022. Parece que o sonho ainda não acabou.

Para saber mais

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