Guerra de vacinas da AstraZeneca com a UE chega ao auge

Guerra de vacinas da AstraZeneca com a UE chega ao auge

janeiro 27, 2021 Off Por JJ

(REUTERS/Dado Ruvic)

(Bloomberg) — Um confronto caótico entre AstraZeneca e a União Europeia na quarta-feira resumiu o fracasso do bloco em colocar sua campanha de vacinação em massa no caminho certo e lançou dúvidas sobre suas esperanças de inocular milhões de pessoas rapidamente e sair dos bloqueios que induzem à recessão.

A disputa, desencadeada pelo anúncio da farmacêutica de que as entregas de vacinas para a Europa serão menores do que o previsto anteriormente, chega ao auge na quarta-feira, quando a empresa e autoridades que representam a UE e seus governos nacionais fizerem uma reunião para resolver o impasse. A UE quer extrair compromissos claros da Astra sobre quantas doses salvadoras serão disponibilizadas para o bloco durante a primeira metade do ano.

A demanda segue uma guerra pública de palavras entre os dois lados, incluindo ameaças de processos judiciais, restrições à exportação e acusações de mentiras sobre contratos juridicamente vinculativos. No início da quarta-feira, a UE disse que a Astra havia desistido da reunião agendada, no que seria uma afronta sem precedentes a 27 governos. A farmacêutica negou e a UE disse então que a reunião estava de volta à agenda.

Os países da UE estão desesperados para acelerar a vacinação após um início lento que deixou o bloco muito atrás dos EUA e do Reino Unido. A UE administrou apenas 2,2 doses por 100 pessoas, contra 7,5 doses nos EUA, 11 doses no Reino Unido e quase 45 doses em Israel. A vacina da Astra não deve ser autorizada para uso no bloco antes de sexta-feira.

Com intensa pressão sobre os governos, propostas dramáticas foram levantadas, incluindo restrições às exportações de vacinas para fora da UE. Na quarta-feira, o ministro da Economia alemão, Peter Altmaier, indicou que tal opção ainda é possível, observando que, no ano passado, havia limites de exportação em toda a UE para certos tipos de equipamentos médicos de proteção.

“Nossa principal prioridade deve ser disponibilizar vacina suficiente para muitos países, inclusive para a Alemanha, no mais tardar a partir do segundo semestre”, disse ele. “Estamos examinando todas as possibilidades disponíveis em conformidade com as leis europeias e alemãs.”

O problema vem aumentando desde o final da semana passada, quando a Astra alertou sobre atrasos em uma planta de produção na Bélgica. Com os governos atacando a empresa, seu presidente-executivo recuou na terça-feira. Pascal Soriot usou uma entrevista com jornais europeus para desviar a culpa, dizendo que a empresa tem um acordo de melhor esforço que não especifica uma quantidade. Isso porque a UE insistiu em receber a vacina AstraZeneca quase ao mesmo tempo que o Reino Unido, apesar de ter feito o pedido três meses depois.

Uma parte fundamental do desacordo é o uso de vacinas produzidas nas fábricas do Reino Unido. A UE contesta que o Reino Unido tenha prioridade nas vacinas das fábricas britânicas e quer que a Astra concorde em divulgar o acordo que Bruxelas assinou com a empresa.

“Rejeitamos a lógica do primeiro a chegar, primeiro a ser servido”, disse a chefe de saúde da UE, Stella Kyriakides, a repórteres em Bruxelas antes da reunião. “Isso pode funcionar nos açougues da vizinhança, mas não nos contratos.”

Na entrevista, Soriot sugeriu compreender que a situação é difícil para os líderes de toda a Europa, onde Bruxelas coordenou um programa de compra de vacinas. “Todo mundo está ficando meio irritado ou emocional com essas coisas”, disse ele em comentários publicados no La Repubblica e outros jornais. “Mas eu entendo porque a comissão está gerenciando o processo para toda a Europa.”

Soriot também disse que assim que a Astra obtiver a aprovação regulatória da UE, enviará pelo menos 3 milhões de doses imediatamente, com uma meta de 17 milhões até fevereiro. Isso deve ajudar a Europa a acelerar as vacinações e deixar as economias mais perto de sair de lockdowns prejudiciais que afetaram indústrias e causaram crescente descontentamento.

Em um esforço para aliviar a escassez, a farmacêutica francesa Sanofi disse que concordou em ajudar a produzir mais de 125 milhões de doses da vacina que a Pfizer desenvolveu com a alemã BioNTech. Já há autorização para uso desta e também para a da Moderna.

A Sanofi fornecerá à BioNTech acesso às suas unidades de produção em Frankfurt a partir deste verão, disse a empresa em um comunicado na quarta-feira. O objetivo é acelerar os esforços para embalar e distribuir a vacina, que precisa ser mantida em temperaturas ultrafrias.

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