Fundos têm saída de 320 mil cotistas desde início da crise; confira quais ganharam e perderam mais investidores
abril 1, 2020SÃO PAULO – As fortes quedas dos mercados de renda variável e renda fixa neste contexto de crise têm provocado uma saída de investidores de fundos de investimentos de todas as categorias. Levantamento feito pela Economatica a pedido do InfoMoney revela que, desde 21 de fevereiro, quando a epidemia começou a provocar estrago nas Bolsas, até o dia 27 de março, fundos de renda fixa, multimercado e ações perderam, juntos, 323,5 mil cotistas.
Os multimercados perderam 1,94%, ou 56,5 mil cotistas de sua base anterior ao início da crise, enquanto fundos de renda fixa registraram queda de 1,64%, ou 168,1 mil investidores, e carteiras de ações tiveram baixa de 1,6%, ou 99 mil cotistas.
O levantamento exclui fundos exclusivos, carteiras criadas em 2020 e, no caso de ações, elimina Fundos Mútuos de Privatização Petrobras e Vale, que investem recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Entre os fundos de maior risco, de ações e multimercados, há carteiras com perdas de até 15 mil investidores, mas há também carteiras que ganharam mais de 6 mil cotistas.
Confira a seguir os dez fundos multimercados com maiores perdas e ganhos desde 21 de fevereiro.
No grupo dos dez fundos multimercado com maior aumento de cotistas, metade apresenta valorização desde 21 de fevereiro, especialmente os com exposição a ouro. O Trend Ouro, da XP, por exemplo, ganhou 3.833 investidores desde o início da crise e rende 0,96% no período. Da mesma forma, o fundo Órama Ouro aumentou a base em 3.168 investidores, em meio à valorização de 14% da carteira.
Já entre os fundos de ações, os dez fundos que mais ganharam cotistas registram desvalorização das cotas desde o início da crise. Destaque para o BB Ações Petrobras, com perda da ordem de 57%, porém com 2.463 cotistas a mais que em 21 de fevereiro. O fundo investe os recursos preponderantemente nos papéis da estatal.
O Real Investor FIA lidera a lista, com um aumento de 4.356 investidores na base, e também chama atenção o crescimento do Alaska Black Institucional FIA, que ganhou 2.378 cotistas. Ambas as carteiras tiveram perdas da ordem de 37%.
Sem abrir a composição do fundo, Cesar Paiva, sócio fundador e gestor da Real Investor, diz que a gestora está privilegiando empresas mais bem preparadas atualmente, com boa gestão, baixo endividamento e fôlego para atravessar o novo momento da economia.
“Estamos fazendo várias mudanças, tem muita oportunidade e temos aproveitado para comprar empresas que julgamos muito baratas, ainda que também passem por esse período difícil”, diz.
O contexto tem sido aproveitado para a maior diversificação do portfólio e todos os cases estão sendo revistos. Segundo Paiva, quase 100% do fundo já está alocado hoje.
Na trajetória oposta, o Moat Capital FIC FIA perdeu mais de 15 mil investidores de sua base, embora tenha registrado uma captação líquida de R$ 89 milhões desde o início da crise. Carteiras com foco em ações small caps também figuram na lista de maiores perdas de cotistas, assim como fundos voltados a papéis de construção civil.
William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas, ressalta que, diferentemente de outras crises, quando as taxas de juros no Brasil ainda estavam no patamar de dois dígitos, dessa vez, o investidor não tem alternativas rentáveis nas quais se refugiar.
“Antes, o investidor amargava perdas com o risco, mas depois recuperava na renda fixa. Hoje essa fuga não funciona mais. O investidor ficou sem opção”, diz. “Mesmo em um mercado de crédito de segunda linha, as opções são restritas.”
Embora as incertezas persistam, o conselho segue de manter as posições e focar em alguma retomada no longo prazo. “A educação financeira do investidor é testada quando se tem uma crise. Quando se coloca o dinheiro em risco, é necessário saber que risco significa possibilidade de perda. E tem que ser um dinheiro que possa sofrer oscilações no médio e longo prazo”, assinala Eid Júnior.
Oportunidade x Risco
Para o planejador financeiro com certificação CFP Bruno Mori, o momento é de oportunidade para a entrada em fundos de ações, desde que o investidor tenha uma fatia líquida na carteira, sem necessidade de recorrer à reserva de emergência.
“Não há garantia de ganho expressivo no curto prazo, mas o investidor pode aplicar de olho em dois, três anos”, diz.
Paulo Corchaki, CEO e fundador da Trafalgar Investimentos, que tem um braço de gestão de recursos e outro de patrimônio, concorda com Mori e diz estar aumentando a fatia de risco dos portfólios de forma gradual, olhando para um horizonte mínimo de 12 meses.
Segundo ele, independentemente da performance, um fundo só deve ser resgatado se não corresponder ao seu mandato ou se o investidor precisar de liquidez. “Evitaria ao máximo me desfazer de qualquer tipo de fundo neste momento, principalmente de ações”, afirma.
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