Fundos com exposição a criptos deverão esclarecer riscos a investidores, propõe Anbima

Fundos com exposição a criptos deverão esclarecer riscos a investidores, propõe Anbima

novembro 4, 2022 Off Por JJ

Os fundos de investimentos que alocam em criptoativos deverão deixar claro para os investidores quais são os diferentes riscos envolvidos na classe de ativos e explicitar essas informações em regulamentos ou documentos das carteiras administradas. A medida faz parte de uma nova proposta de autorregulação da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) que começou a ser discutida em audiência pública nesta sexta-feira (4).

Trata-se da primeira proposta da entidade de autorregulação voltada ao setor, e uma das primeiras do mundo entre as associações do mercado financeiro regulado. Com a iniciativa, a Anbima busca padronizar práticas realizadas de forma independente pelas gestoras desde 2018, quando a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) passou a permitir que fundos apliquem em criptoativos.

A proposta será discutida por 40 dias, período no qual poderá receber contribuições, inclusive de players não vinculados à Anbima. Após esse processo, as diretrizes serão incorporadas ao código da entidade e deverão ser seguidas pelas associadas a partir de 2023.

O texto inicial recebeu contribuições das principais gestoras brasileiras que já oferecem fundos com exposição a ativos digitais. “A Anbima está padronizando tudo o que as gestoras já faziam por conta própria há muitos anos”, conta Glauco Cavalcanti, sócio da BLP Asset, que lançou o primeiro fundo com exposição a criptos antes mesmo do aval formal da CVM, em 2018.

Do ponto de vista do investidor, o principal benefício das mudanças propostas é o maior entendimento dos pormenores da classe de ativos, que, por sua natureza tecnológica, é muito distinta de produtos de investimento tradicionais.

“É uma tecnologia completamente nova. É diferente do mercado de ações, de renda fixa e imobiliário, porque todos sabem o que são ações, debêntures e aluguel de imóveis”, explica Cavalcanti. “Com ativos digitais, estamos lidando com blockchain, ativos eletrônicos, chaves privadas e hackers. É preciso deixar claro para o investidor todos os riscos envolvidos nessa nova estrutura de ativo”.

A Anbima propõe, por exemplo, que veículos de investimento que desejem adquirir ativos digitais devem informar ao investidor que é preciso levar em conta riscos de custódia, cibernéticos e de contraparte, além da possibilidade de inexistência de garantias, falhas de segurança e até manipulação de mercado.

Gestoras deverão ainda alertar os investidores sobre os eventuais impactos de mudanças legislativas, como, por exemplo, a mudança de tratamento de um determinado ativo por parte da CVM como valor mobiliário. As empresas que ofertam fundos com exposição a criptoativos ainda devem deixar claro que um token pode sofrer o que se chama de fork, uma espécie de duplicação da rede ocasionada quando um projeto passa por dissidência interna, entre os validadores.

Para ajudar na transparência dessas regras, o documento colocado em discussão pela Anbima traz um glossário com a definição de conceitos próprios do mundo cripto, como o das chaves privadas e da blockchain, a rede descentralizada onde trafegam o Bitcoin (BTC) e outras criptos.

Fundos de criptomoedas, tecnicamente falando, se enquadram na categoria multimercado, um tipo de produto financeiro que permite a alocação de recursos em diferentes tipos de ativos, tanto de renda fixa como variável. Segundo determina a CVM, fundos podem aplicar em ativos digitais direta ou indiretamente por meio de instrumentos financeiros regulados no exterior.

Para Cavalcanti, da BLP, a padronização que vem pela frente deve abrir as portas para mais fundos alocarem em criptos – hoje, apenas uma pequena parcela do R$ 1,6 trilhão alocado em fundos multimercado têm exposição a criptos.

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