Flamengo é o novo Magazine Luiza
novembro 19, 2020
Texto originalmente enviado aos assinantes da newsletter Stock Pickers no dia 14 de novembro de 2020. Para assinar e receber, clique aqui.
Sempre que temos oportunidade, eu e o Thiago Salomão colocamos futebol no meio do Stock Pickers. Já falamos com jogadores do Internacional, com o Lucas Leiva, da Lazio e já fizemos nossos convidados virem para a gravação com as camisas de seus times.
O que vale a pena na Bolsa agora? Stuhlberger e outros gestores respondem
Nas conversas de bastidores, antes de iniciarmos as gravações, sempre falamos sobre os destaques da rodada, em conversas que terminam com ele me lembrando do último vexame do São Paulo e eu lembrando do eterno vexame do Palmeiras, a inexistência do seu Mundial.
Nesta semana achamos um jeito de falar sobre o assunto mais uma vez. Vamos comparar os clubes e as ações, fazendo um exercício do tipo qual-clube-é-qual-ação. Meu São Paulo, por exemplo, é a Via Varejo do futebol: teve um passado glorioso, hoje não consegue tão grandes feitos, às vezes passa vergonha, mas tem uma grande oportunidade de voltar a ser soberano (no caso da empresa, esse processo já acontece; no caso do clube, ainda temos uma eleição).
E faremos isso com uma baita profundidade, diga-se de passagem. Chamamos o Cesar Grafietti, colunista do InfoMoney e economista do Itaú BBA que todos os anos analisa os balanços dos clubes e produz um extenso relatório sobre suas finanças, e o Duda Rocha, CIO da gestora Occam Brasil.
Para o pessoal da turma do amendoim e os corneteiros que já devem estar achando tudo isso bobagem, acreditamos que o poder didático das comparações que vamos fazer vai ajudar muito os interessados em ações e na Bolsa a entender mais e melhor o funcionamento do mercado e das empresas.
Mas antes de liberar o clubismo, precisamos fazer um convite.
Nos dias 24, 25 e 26 de novembro acontece o Melhores da Bolsa, evento online e gratuito do InfoMoney e do Stock Pickers. Vai ser uma surra de conteúdo: além de premiar as melhores empresas da Bolsa, vamos ter painéis com Luis Stuhlberger, da Verde, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, e muito mais. Clique aqui para saber mais e se inscrever (custa o mesmo que ler esse e-mail: nada)
A partir de agora, clubismo liberado.
Divisões
Para começar, vamos separar os times, mas não da maneira como você está acostumado. Segundo o Cesar Grafietti, os times hoje podem ser divididos “entre os que entenderam que o equilíbrio financeiro e a gestão eficiente são parte necessária para o desempenho esportivo e o grupo que ainda vive no século passado, repetindo velhas e mal sucedidas práticas”.
Segundo os critérios do Grafietti temos, então, oito blocos financeiros-esportivos que refletem quem está pronto para a glória esportiva, quem está a caminho da irrelevância e quem está no meio do caminho.
Vamos a eles:
7ª Divisão
Botafogo e Cruzeiro: super endividados, têm poucas receitas e perdem competitividade. Ambos têm dívidas de R$ 700 milhões e receita recorrente de R$ 181 milhões (Cruzeiro) e R$ 149 milhões (Botafogo).
6ª Divisão
Vasco, Fluminense, Coritiba e Sport: Têm muita tradição, tiveram suas fases gloriosas no cenário nacional e internacional, mas estão ficando ultrapassados e perdendo valor.
5ª Divisão
São Paulo, Corinthians, Santos, Internacional e Atlético-MG: Têm valor, são grandes, mas muito instáveis. Sempre precisam de reestruturação, mas o mercado acredita neles, pois têm receita e torcida. Todos estão entre as dez maiores receitas do país, mas em nenhum caso ela passa de 56% das do primeiro colocado.
4ª Divisão
Bahia, Fortaleza, Ceará, Atlético-GO e Goiás: os primeiros clubes sustentáveis da lista. Têm as contas em ordem, pouca dívida e ativos de qualidade e devem aumentar muito seu protagonismo nacional.
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3ª Divisão
Athlético Paranaense: Moderno e bem-estruturado. Financeiramente saudável, tem enorme capacidade de planejamento e ativos de primeira linha. Sofre com um acionista controlador instável e por estar em um mercado menor. Mesmo assim tem a 7ª maior receita (R$ 257 milhões), à frente de clubes de São Paulo e Rio.
2ª Divisão
Grêmio: Pouquíssima dívida, com grandes receitas. É um dos primeiros a ter um CEO, cargo existente há quase dez anos. Tem seu mercado concentrado em apenas uma região, o que dificulta o crescimento orgânico de receitas.
1ª Divisão
Flamengo e Palmeiras: Têm grandes receitas (R$ 651 milhões e R$ 530 milhões, respectivamente), distribuídas em diversas fontes. Têm custos compatíveis e dívida relativamente baixa.
Divisão especial
Red Bull Bragantino: Tem muito dinheiro, mas ainda não sabe o que fazer.
Agora que as bases da nossa comparação estão estabelecidas, vamos a ela.
Para designar uma ação correspondente a cada um dos times da Série A do Brasileirão (mais o Cruzeiro), contamos com a ajuda do Duda Rocha, da Occam Brasil.
Assim como nós, o Duda é partidário intransigente do clubismo na análise futebolística, mas tem muita experiência no mercado financeiro, com 25 anos de carreira divididos entre o Pactual, onde chegou a chefiar a tesouraria e Brasil Plural, além da Occam.
Vamos às ações:
Flamengo > Magazine Luiza (MGLU3)
Não poderíamos esperar outra coisa do Duda, flamenguista fanático. “Ambos olham para a tecnologia como uma vantagem comparativa, estão conquistando as massas, com qualidade, olhando para um horizonte de três a cinco anos”.
Palmeiras > Itaú (ITUB4)
Ambos têm bons ativos e dinheiro, mas não atingem a mesma performance dos líderes do ranking. Em 2019, as ações do Itaú caíram 26%, valor semelhante à queda do lucro no terceiro trimestre de 2020 (-29,7%) sobre o ano passado, enquanto MGLU3 quase dobrou de preço. Já o Palmeiras ganhou o Nacional de 2018 e o estadual de 2020, enquanto o Flamengo levantou a Libertadores e o Brasileiro de 2019.
Red Bull Bragantino > Pão de Açúcar (PCAR3)
Teve problemas com o controlador e está em reestruturação. Deve melhorar muito em termos de performance, mas ainda tem um longo caminho para ser protagonista.
Grêmio > Vale (VALE4)
Gera muito valor, mas ainda têm muito a destravar. Deve conseguir um crescimento moderado no curto prazo, e gerar bons dividendos.
Athlético Paranaense > B3 (B3SA3)
Tem um modelo vitorioso e deve conseguir expandir ainda mais. Ambos passam por um momento ruim (o Athlético vai mal no Brasileiro e a B3 sofre com os problemas macroeconômicos do Brasil).
Bahia > Suzano (SUZB3)
Ambos têm matéria-prima enorme (área florestal e torcida) e pode mudar de patamar. Hoje fala-se pouco deles, mas podem surpreender.
Ceará > Raia Drogasil (RADL3)
Nunca se espera que sejam os primeiros do campeonato (ou em performance da ação), mas estão sempre lutando por posições mais altas e melhorando. Têm operações muito bem encaixadas.
Fortaleza > Cemig (CMIG4)
Consistentes em resultados e filosofia. Têm grandes chances de mudar de patamar (com uma privatização no caso da empresa)
Atlético Goianiense > CSN (CSNA3)
Está encaixando bem sua operação e realizando a venda de bons ativos. Era o terceiro do seu mercado, mas está ganhando espaço.
Goiás > B2W (BTOW3)
Pioneiro de seu mercado, acabou ficando para trás quando novos players se estruturaram (Magazine Luiza e Atlético Goianiense).
São Paulo > Via Varejo (VVAR3)
Teve um passado glorioso, mas hoje não consegue grandes feitos. Às vezes passa vergonha, mas tem uma grande oportunidade de voltar a ser soberano (no caso da empresa, esse processo já acontece; no caso do clube, ainda temos uma eleição).
Corinthians > Cogna (COGN3)
Já foram as grandes estrelas do mercado de ações e futebol, mas hoje passam por problemas com receitas e dívidas. Têm valor, e acertando as operações, podem voltar ao protagonismo total.
Santos > Vivo (VIVT4)
No passado foi o maior de todos, já gerou enorme retorno sobre capital investido. Segue tendo muito valor, mas tem dificuldades para crescer.
Internacional > Weg (WEGE3)
Muita gente tenta explicar, mas ninguém tem total certeza de por que eles estão voando tão alto. Quando muitos esperam que vão parar de subir, ele entrega resultados.
Atlético Mineiro > Lojas Americanas (LAME4)
Bons nos fundamentos, mas não tem conseguido se destacar dos demais. Têm crescimento, mas podem não conseguir manter a intensidade no longo prazo.
Vasco > JBS (JBSF3)
Viveram terríveis problemas de compliance no passado. Durante algum tempo tentaram dar passos financeiros maiores que as pernas, hoje têm gastos e estrutura mais condizente com o patrimônio.
Coritiba > Qualicorp (QUAL3)
Depois de uma grande reestruturação, está reencaixando e deve viver dias melhores.
Sport > Equatorial (EQTL3)
Excelente, já teve dias de maiores rendimentos, mas ainda rende excelentes frutos.
Fluminense > BB Seguridade (BBSE3)
Já teve muito crescimento, mas hoje estacionou e não deve chegar muito longe.
Cruzeiro > Embraer (EMBR3)
Estava bem, tinha montado um time para brigar pela ponta, mas não deu certo. Tem bons ativos ainda e pode se recuperar, mas vai demorar.
Botafogo > IRB (IRBR3)
Está no fundo do poço e precisa de reinventar para sobreviver