Fiocruz, parceira de AstraZeneca/Oxford, teme atraso de vacinas por falta de insumos
janeiro 19, 2021A Fiocruz, que tem parceria com a AstraZeneca e Oxford para produzir vacinas contra o coronavírus no Brasil, disse que corre o risco de não entregar os imunizantes no prazo previsto devido à dificuldade em conseguir um insumo fundamental da China.
O instituto de pesquisa tinha previsão de entregar o primeiro milhão de doses na semana de 8 de fevereiro, que então serão distribuídas em todo o Brasil. Mas o Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) da vacina está parado na China, aguardando aprovação para ser enviado.
“É uma questão burocrática. Entramos com o pedido em 9 de dezembro e não tínhamos expectativa de que esse trâmite fosse durar mais de um mês”, disse o vice-presidente da Fiocruz, Marco Krieger, em entrevista por vídeo na segunda-feira. “Vamos manter esse cronograma por mais alguns dias, temos alguma margem, mas não muito. Se a incerteza das datas continuar, infelizmente teremos um atraso.”
A preocupação com a falta de vacinas até para grupos prioritários surge quase simultaneamente ao início da campanha de vacinação, que começa semanas depois de países incluindo Argentina e México. Na segunda-feira, o governo começou a distribuir 6 milhões de doses produzidas pela chinesa Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan, a única vacina disponível no país.
Ainda assim, o Butantan também enfrenta falta de insumos da China, o que deixa o instituto com apenas outras 4,8 milhões de doses antes de ficar sem estoque. O total produzido até agora não é suficiente para cobrir nem mesmo os primeiros na fila a serem vacinados.
A Embaixada da China disse em mensagem de texto que o governo chinês atribui “alta importância” à cooperação com o Brasil no combate à pandemia e afirmou que o assunto dos insumos parados “está sendo tratado pelas empresas no âmbito do contrato firmado e conforme os procedimentos estabelecidos.”
Aumento rápido
A Fiocruz, que já abastece o Brasil com a maior parte das vacinas usadas no programa nacional de imunização anual, triplicará a capacidade com os imunizantes contra a Covid-19.
A expansão da produção será rápida: após alguns lotes de testes, a expectativa é produzir 350 mil doses diárias até a segunda semana, e o dobro na semana seguinte. Até o final de março, a Fiocruz espera estar produzindo 1,4 milhão de doses por dia, que serão fornecidas integralmente ao SUS. Não há planos de exportar neste momento.
A Fiocruz planeja iniciar a produção local do IFA em abril, o que deve impulsionar a produção. Krieger disse que é “impossível” acelerar o processo, pois os equipamentos ainda estão chegando e a Anvisa tem que aprovar a nova linha de produção, o que está previsto para acontecer em março.
“Iniciando a produção em abril, começaremos as entregas em agosto, com a vantagem de ser um lote grande”, disse. “Esta não é uma corrida de 100 metros, é uma maratona. Temos que nos preparar para produzir milhões e milhões de vacinas neste ano e, provavelmente, no próximo.”
A meta é que a vacina produzida localmente custe menos de US$ 4 a dose incluindo o pagamento de royalties, disse. É muito cedo para especular sobre um prazo para que todos os 212 milhões de brasileiros sejam vacinados – os imunizantes ainda não foram testados em grupos que representam 30% da população -, mas Krieger diz que 150 milhões de pessoas serão “tranquilamente” imunizadas até o fim do ano.
Estudos mostram que um intervalo de três meses entre as duas doses oferece a melhor proteção, disse Krieger, acrescentando que a segunda dose gera uma resposta imunológica significativa.
Novas cepas
Krieger diz que a Fiocruz deve enviar os documentos para o registro definitivo da vacina Astra/Oxford junto à Anvisa nesta semana, agora que a corrida para liberar tanto o imunizante da Astra quanto o produzido pela Sinovac/Butantan para uso emergencial terminou.
Ainda não há preocupação de que as novas variantes – como a encontrada em Manaus – não respondam às vacinas atualmente disponíveis. Mas, com a espera, o coronavírus continua a se propagar pelo Brasil.
A média móvel de sete dias de casos no país está perto de um recorde há cerca de 10 dias, enquanto a média móvel de mortes diárias está nos níveis vistos pela última vez em agosto. Com cerca de 8,5 milhões de infecções, o Brasil tem o terceiro maior número de casos do mundo, atrás apenas dos EUA em mortes, com mais de 210 mil óbitos devido ao vírus.
“Nenhum país está lidando bem com a segunda onda”, disse. “Mas é claro que estamos no pior momento, com as medidas de contenção tendo baixa eficácia.”