‘Exclusividade de apps prejudica o mercado’, diz CEO da Rappi

‘Exclusividade de apps prejudica o mercado’, diz CEO da Rappi

setembro 8, 2022 Off Por JJ

Há pouco mais de um ano no comando do Rappi no Brasil, Tijana Jankovic está diante de um momento desafiador. Enquanto vê o crescimento de rivais em entregas de supermercado, como Shopper e Daki, a executiva de 34 anos trava uma batalha intensa com o iFood pelo segmento de comida de restaurantes.

Ela lidera um grupo com cerca de 40 empresas e associações em uma nova petição no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

A alegação é de que o iFood, que domina 80% do delivery de comida, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), violou as regras estipuladas no ano passado pelo órgão. Na época, o Cade proibiu o iFood de fechar contratos de exclusividade com restaurantes.

Ao jornal O Estado de S. Paulo, Tijana explica por que considera o modelo de exclusividade prejudicial para o mercado – ela falou também sobre outros desafios da gigante no País.

Tijana Jankovic executiva da rappi no brasil
Tijana Jankovic, CEO da Rappi (Foto: Reprodução)

O Rappi foi ao Cade com outros 40 nomes do mercado contra os contratos de exclusividade firmados pelo iFood com restaurantes. Por quê?

Em nenhum segmento há uma concentração de 80% de mercado. E em nenhum outro país há uma concentração tão grande com um nome tão dominante no mercado. A raiz do problema está nas políticas que trouxeram essa participação de mercado, impedindo os demais competidores de competir com as mesmas regras. Não deveria ser permitido bloquear o restante do mercado por falta de acesso ao conteúdo, principalmente a conteúdo essencial para fazer uma empresa funcionar. E hoje os restaurantes não têm uma verdadeira escolha ao se filiar a uma empresa exclusivamente, porque a oferta em deixar a exclusividade não é sustentável financeiramente para o restaurante. A pandemia piorou o poder de negociação de restaurantes. Mesmo assim, esse cenário resultou na saída de grandes players do mercado, como o Uber Eats (procurado pela reportagem, o iFood não se manifestou até a conclusão desta edição).

Qual é o problema da exclusividade?

Vamos dividir em três pontos. É a concentração de exclusividade entre as marcas que movimenta a decisão de compra. Se você lista o mercado do Brasil, encontra uns 50 nomes que movimentam 60% do País. Existem 500 mil restaurantes, mas o arroz com feijão é uma lista extremamente concentrada. A questão da exclusividade realmente prejudica qualquer outro player em oferecer um mínimo para que possa competir. Outra parte é que não pode haver uma oferta de exclusividade extremamente desbalanceada, pela qual o parceiro basicamente não tem outra escolha. Acreditamos que não deveria existir um desequilíbrio enorme. A terceira parte é que vários rivais não conseguem se beneficiar da competição, que é o que seria saudável. Infelizmente, o restaurante não olha para os demais. Essa cadeia acaba prejudicando o mercado como um todo.

Qual seria a solução?

Nosso desejo com o Cade é que não faz sentido ter exclusividade no segmento de restaurantes. Mas existem atuações diferentes dessas exclusividades que prejudicam mais ou menos esse mínimo de competição. Existem soluções intermediárias, e o Cade é o mais capacitado para decidir sobre isso. A gente vem trazendo provas de como o mercado atual não está num momento saudável.

O modelo de entregas super-rápidas não está indo bem em 2022. Como isso impacta o Rappi?

Para nós, o cenário é bem diferente. No nosso caso, é uma estratégia de portfólio, e é possível otimizar algumas coisas. Por exemplo, não precisamos adquirir o cliente, porque dividimos o custo do usuário em todas as verticais. Isso nos dá uma vantagem enorme em relação a esses que tentam construir o negócio do zero.

No Brasil, o conceito de “superapp” parece que não pegou como em países asiáticos. Isso desapontou vocês?

Nenhum conceito de fora se traduz igualmente dentro do Brasil. O conceito de superapp vai ser rachado em dois ou três ecossistemas dominantes.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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