ESG: Fazenda Futuro lança nova versão do seu hambúrguer de planta, de olho em 2030
janeiro 28, 2021SÃO PAULO – O Brasil é o quinto mercado no mundo para a comida saudável, segundo o The Good Food Institute, organização global pela inovação na indústria de alimentos. Startups de todo o mundo já estão de olho no segmento, que tem crescimento médio anual estimado em 20% no país. Esses negócios que levam inovações ao mundo dos alimentos têm até nome próprio: foodtechs.
Uma delas é a brasileira Fazenda Futuro, que lançou há menos de dois anos um hambúrguer feito de plantas. O empreendimento de proteínas alternativas espera que a terceira versão do seu hambúrguer, anunciada hoje (27), seja a chave para conquistar consumidores tanto em terras brasileiras quanto internacionais.
A nova versão se chama Futuro Burger 2030 e foi inspirada na agenda de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). Entre os objetivos a serem alcançados até 2030, estão fome zero, agricultura sustentável e ação contra a mudança global do clima. “Não dava para esperar chegarmos perto de 2030. Por isso, lançamos já em 2021”, resume Marcos Leta, fundador da Fazenda Futuro, ao InfoMoney.
Leta também falou sobre os planos de crescimento internacional da foodtech e sobre como o mercado de proteínas alternativas se relaciona ao movimento ESG (sigla que significa, em português, Ambiental, Social e Governança).
Hambúrguer de planta, de olho em 2030
A Fazenda Futuro foi criada em abril de 2019. Marcos Leta já havia criado outro negócio no setor de alimentação: a marca de sucos Do Bem, vendida para a Ambev (ABEV3) em 2016. A Fazenda Futuro desenvolve e produz alimentos que imitam gosto, textura e suculência da carne animal apenas usando ingredientes vegetais (plant based).
Além do hambúrguer de plantas, têm emulações de almôndegas, carne moída, frango em pedaços e linguiça de pernil. A foodtech está presente em 10 mil pontos de venda brasileiros e de países como Austrália, Chile, Colômbia, Emirados Árabes, Holanda, Inglaterra, México, Portugal, Suécia e Uruguai.
Segundo Leta, a startup de proteína alternativa está sempre atualizando seus produtos com base em contatos com os consumidores, por exemplo, por e-mail e pelas redes sociais. O Futuro Burger 2030 teve melhorias em sabor e saúde. De acordo com o fundador, o hambúrguer se aproxima mais da cor, do sabor e da textura da carne por meio de mudanças em ingredientes, maquinários e processos industriais.
Alguns ingredientes usados são beterraba, ervilha, gordura de coco, óleo de canola e soja. Todos eles são naturais, não transgênicos e sem colesterol, glúten ou gordura trans. O teor de gordura foi reduzido e uma porção de 80g do hambúrguer contém 178 mg de sódio, enquanto a mesma quantidade em hambúrgueres industrializados tradicionais teria entre 300 mg e 500 mg de sódio, diz Leta.
A preocupação com sustentabilidade também foi reforçada na nova versão do hambúrguer de planta. A embalagem desta vez é feita com compostos orgânicos adicionados na cadeia de plástico. Esses compostos atraem bactérias e fungos dos aterros sanitários, tornando as embalagens biodegradáveis entre dois e cinco anos. O pacote foi feito com a tecnologia americana Eco-One. A embalagem substituirá as antigas, que contavam com certificado de compensação por logística reversa, em longo prazo.
O Futuro Burger 2030 deve chegar nesta sexta-feira (29) aos supermercados do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3). Em 1º de fevereiro, será a vez de redes como St. Marche e Zaffari. O segmento de food service (restaurantes) deve receber a nova versão do produto no dia 8 de fevereiro. O preço sugerido é de R$ 18,90 por embalagem, que vem com dois hambúrgueres.
Enquanto 2020 serviu para começar a expansão da Fazenda Futuro no exterior, 2021 será um ano para de fato conquistar vendas internacionais. O Futuro Burger 2030 deve chegar aos mercados europeus em março, mesmo mês que a Fazenda Futuro começará a operar também nos Estados Unidos. Segundo Leta, o Brasil representou 90% das vendas no último ano. A expectativa é que a participação nacional caia para 60% em 2021.
“O Brasil já é referência no mercado alimentício não apenas na produção de carne, mas também na de vegetais. Nosso trabalho agora é agregar cada vez mais valor às nossas tecnologias. Já somos uma potência na fabricação plant based e nos tornaremos um centro de produção no segmento para o mundo inteiro”, diz Leta.
Um mercado em ascensão (mas já concorrido)
O Brasil é um dos cinco maiores produtores de carne do mundo, ao lado de China, Estados Unidos, União Europeia e Rússia. Ao mesmo tempo, essa criação e produção animal faz uso de um décimo do consumo total de água por humanos no mundo e emite gás carbônico a uma taxa maior do que a vista combinando todas as emissões de meios de transporte, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO/ONU).
O ESG – movimento que preza por investimentos com preocupações ambientais, sociais e de governança – passou a receber a atenção de participantes do mercado financeiro principalmente no último ano. Para Leta, foodtechs de proteínas alternativas já nascem com a proposta de equilibrar sustentabilidade ambiental e financeira. Assim, atraem investidores com a mesma mentalidade.
“Desde a concepção, temos preocupação em conseguir ingredientes naturais e rastreáveis e em certificar fornecedores de todos os portes. Estamos aprofundando esses aspectos sustentáveis, uma exigência inclusive para entrar em varejistas internacionais. Todos os nossos investidores também já estavam olhando para o ESG”, diz Leta. A Fazenda Futuro já captou US$ 29,8 milhões em rodadas com participações de investidores como BTG Pactual e Monashees.
Além da Fazenda Futuro, empreendimentos consolidados e bem financiados pelo mundo trabalham com a mesma ideia de imitar alimentos de origem animal a partir de plantas. É o caso da americana Beyond Meat, criada em 2009 e avaliada atualmente em US$ 11,7 bilhões na bolsa de valores americana Nasdaq. A Beyond Meat já chegou ao Brasil, mas com um tíquete médio superior ao praticado pela Fazenda Futuro, a embalagem com dois hambúrgueres tem preço sugerido de R$ 65,90. Outra concorrente americana é a Impossible Foods, fundada em 2011 e com US$ 1,1 bilhão em investimentos recebidos.
Na América Latina, uma concorrente é a The Not Company. A foodtech chilena de proteínas alternativas já recebeu US$ 115 milhões de nomes como Jeff Bezos, fundador da gigante de comércio eletrônico Amazon, e de fundos como Endeavor Catalyst, IndieBio, L Catterton, KaszeK Ventures e Maya Capital. A NotCo já vende imitações vegetais de leite, queijo, sorvete e hambúrguer no mercado brasileiro.
As foodtechs de proteínas alternativas atraem cada vez mais empreendedores, investidores e consumidores. O The Good Food Institute realizou uma pesquisa sobre o mercado brasileiro em maio de 2020. 49% dos brasileiros reduziu seu consumo de carne nos 12 meses anteriores, ante 29% no estudo anterior do GFI (2018).
Boa parte da substituição feita por esses consumidores, chamados de flexitarianos, é feita com vegetais comuns (47%), mas as carnes vegetais têm participação relevante (12%). A depender dos esforços da Fazenda Futuro, essa fatia de proteínas alternativas só tende a aumentar.
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