“É preciso formar profissionais com espírito empreendedor”, diz fundador da Embraer

“É preciso formar profissionais com espírito empreendedor”, diz fundador da Embraer

janeiro 15, 2021 Off Por JJ

Ozires Silva, fundador da Embraer (InfoMoney)

Poucos dias após completar 90 anos e 51 anos depois de criar uma das empresas mais tecnológicas do Brasil, o fundador da Embraer, Ozires Silva, defende que “a sociedade produza constantemente profissionais capacitados, corajosos e com espírito empreendedor” para que novas companhias com potencial inovador surjam no país. Para isso, diz ele, é necessário investimento em educação.

Hoje presidente do conselho de inovação da Ânima Educação – empresa que reúne instituições de ensino superior como São Judas e Unisul, entre outras -, Silva diz que a Embraer tem capacidade para se manter competitiva mesmo diante de um cenário adverso que reúne a pandemia da Covid-19 e a frustração com o fim do acordo com a Boeing. Em abril do ano passado, a americana desistiu de comprar a unidade de aviação comercial da brasileira, um negócio de US$ 4,2 bilhões.

Confira, a seguir, trechos da entrevista, feita por e-mail.

Em 2018, o senhor estava animado com a possível venda da unidade de aviação comercial da Embraer para a Boeing. Como recebeu a notícia, no ano passado, de que a Boeing havia desistido da compra?

Eu não diria que estive animado com a venda, embora reconhecesse os motivos que a sustentavam. A compra da canadense Bombardier pela Airbus daria a um dos maiores competidores da Embraer (a Bombardier) um grande fôlego para crescimento. A Boeing percebeu que a Embraer seria o melhor caminho para competir com a Airbus no campo da aviação regional.

Porém, as negociações entre Boeing e Embraer foram muito difíceis e a configuração final era de complexa execução, o que me deixava preocupado. Na sequência, a Boeing passou a enfrentar problemas com um avião, o 737-500 MAX (duas aeronaves do modelo caíram), que passou a exigir enormes gastos em investigações e ressarcimentos, mudando sua prioridade. O negócio foi encerrado. Penso que a Embraer será capaz de encontrar seus caminhos sem a Boeing.

Sem a Boeing e após a Airbus ter comprado o programa de jatos comerciais da Bombardier, como fica a situação da Embraer?

A Embraer sempre foi uma empresa muito competitiva. Ela tem uma extensa linha de aviões tanto comerciais quanto executivos. A linha de aviões executivos é muito moderna e customizável. Esse segmento está ajudando a empresa a manter um adequado nível de atividades, em especial durante este período da pandemia de Covid-19, que tem atingido fortemente a aviação comercial.

As pessoas incorporaram a mobilidade regional e internacional ao seu estilo de vida. O segmento da aviação comercial recuperará sua atividade após a pandemia e a Embraer estará pronta para manter sua atuação competitiva.

O sr. já comentou, em outras entrevistas, que sua experiência na esfera pública o fez perceber que o governo é lento e controlador. Por isso, a melhor opção seria privatizar. Como analisa o governo Bolsonaro sob esse aspecto e a falta de avanço nas privatizações?

A privatização foi fundamental para a continuidade e sucesso da Embraer. Não estou apto para falar da realidade atual de outros setores e negócios em que o governo mantém atividade econômica.

A Embraer é um dos principais exemplos de empresa inovadora brasileira. É possível criar aqui outras companhias que desenvolvam tecnologia como a Embraer? Como fazer isso?

O meio para isso está nas pessoas. É preciso que a sociedade produza constantemente profissionais capacitados, corajosos e com espírito empreendedor. Pessoas devem ser estimuladas pelo conhecimento e pelo ambiente em procurar desafios e a inovar.

A educação é o instrumento fundamental para a transformação das populações. Foi isso que o ITA fez com a indústria aeronáutica brasileira e a região em que ele foi instalado. Se houvesse mais instituições educacionais do nível do ITA, em outras áreas de conhecimento, certamente os cidadãos realizariam maiores proezas no desenvolvimento de empresas e do país. Seria melhor assegurado o desenvolvimento econômico da sociedade.

Qual foi o momento mais difícil que o senhor viveu na Embraer?

O maior desafio foi o período que antecedeu a privatização da empresa, de 1991 a 1994. A empresa estava em um momento de transição e não projetava ter um futuro promissor sob as rígidas regras que regem as empresas do Estado. Ela precisava ser privatizada e assim ganhar agilidade para voltar a investir e crescer.

Sabemos que o tema da privatização é sensível no Brasil e, ainda que a necessidade fosse clara, houve muita resistência. Foi preciso manter o foco e a perseverança em níveis muito elevados, e concluímos com sucesso a tarefa. No final, a privatização se mostrou como a decisão correta, pois a empresa cresceu muito, gerou muitos empregos e riqueza para a região e o Brasil.

Posso dizer que ver esse sucesso que a empresa atingiu, tendo se tornado uma das maiores empresas do setor no mundo, é muito gratificante. Igualmente prazeroso foi ter a confirmação de nossa tese inicial, tomada lá nos anos 60, de investir na aviação regional, afastando-se da competição dos grandes fabricantes mundiais que eram então focados nos grandes aviões.

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